Legionário, N.º 378, 10 de dezembro de 1939

7 DIAS EM REVISTA

Louvamos sem restrições a atitude assumida pelo Sr. ministro das Relações Exteriores a propósito da cínica e cruel agressão desferida pela III Internacional contra a Finlândia.

Por ordem de S. Ex.a., o governo brasileiro apresentou seus sentimentos de cordialidade e simpatia ao heróico governo de Helsingfors, e só deixou de protestar junto ao comitê de Moscou porque o Brasil tem a honra e a ventura de não manter relações diplomáticas com os algozes do povo russo, do povo polaco e possivelmente, em futuro não distante, do povo finlandês.

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Não faltam, infelizmente, católicos ingênuos que para canonizarem em vida uma pessoa acham suficiente que esta faça alguma objurgatória contra o comunismo (...).

E se alguém tem a imprudência de mostrar que o pretenso (...) anticomunista é de uma sinceridade muito duvidosa, por pouco esse “alguém” não passa por assalariado da III Internacional.

É graças a essa a ingenuidade que o Sr. Hitler está de posse do governo na Alemanha...

Não pensa assim, entretanto, a Santa Sé. E, neste sentido, é mais do que significativo o fato de ter recusado o Santo Padre Pio XII de fazer parte de uma frente mundial anticomunista que lhe foi proposta pela Inglaterra. A razão alegada foi que “o Vaticano não se pode associar a nenhuma combinação de potências por motivos puramente terrenos”.

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Muita gente estranhará a atitude da Santa Sé. Se tais motivos forem lícitos, porque não aceitará a Igreja a colaboração dos que, baseados neles, pretendem combater o comunismo?

Evidentemente, a Igreja não rejeita tal cooperação... mas de longe. Colaboração é coisa que não se deve tomar por confusão. Colaborar é possível, mas para tal não é necessário que se constitua uma frente única. Porque, no fim das contas, como geralmente acontece, com movimentos dessa natureza, a Igreja acaba sendo utilizada para fins temporais, em lugar de os fins temporais servirem à realização dos desígnios da Igreja.

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A praga do século passado foram os “católicos anti-clericais”, que se diziam católicos se bem que inimigos do Clero, e que se serviam desta suposta catolicidade para melhor ferir a Igreja.

A praga de nossos dias são os clericais anti-católicos, que se dizem neutros ou que realmente são tíbios em matéria de Religião, “mas são muito clericais”. Em outros termos, professam eles uma grande amizade pelo Clero, admirando com olhos neutros e meramente naturalistas sua grande obra civilizadora. Chegam a proclamar que a Igreja é de grande utilidade pública. Mas, mais depressa do que se supõe, e quando muitos ingênuos estão com eles em pleno idílio, ei-los que afirmam que a Igreja, por ser de utilidade pública, se deve dobrar a todos os fins de utilidade pública... conforme os entendem eles. E, no fundo, essa “utilidade pública” é utilidade... de um só.

São desse jaez muitos e muitos anticomunistas (...) que vicejam fora da Igreja. Aceitemos sua colaboração. Mas abramos os olhos para não nos transformarmos em seus instrumentos. Se Fedro vivesse hoje, escreveria uma fábula sobre a colaboração da raposa com o cordeiro.

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A imponentíssima cerimônia de posse dos Cônegos honorários da Catedral Provisória se prestou a muitas observações interessantes. Não podemos, entretanto, deixar de frisar uma delas.

Entre as muitas pessoas de relevo social que se encontravam no lugar destinado, no Presbitério, os paraninfos dos novos Cônegos, notava-se um Congregado Mariano que, por sua extrema juventude, se destacava evidentemente dos demais. Rapidamente, a curiosidade geral recaiu sobre ele. Era o Presidente da Congregação do Ginásio do Estado, paraninfo do Ex.mo Rev.mo Mons. Ernesto de Paula, Diretor daquela Congregação.

O insigne e virtuoso Vigário Geral não quis outro paraninfo senão aquele que representava naturalmente toda a Congregação por ele fundada e levada a um raro grau de fervor religioso.

Que Congregado Mariano poderia não se sentir tocado com esta singularíssima distinção? E, para um Diretor de Congregação, que maior ventura do que poder ser acompanhado até o Trono do Sr. Arcebispo por um jovem que lembra toda uma.... (erro tipográfico – legião?) de outros jovens, salvos da corrupção contemporânea, e recompensados por Deus, em grande número, com a Vocação Sacerdotal?