Legionário, N.º 384, 21 de janeiro de 1940

7 DIAS EM REVISTA

Um gesto que fala por si e dispensa comentários é a recente nomeação de um Núncio Apostólico junto ao governo polonês estabelecido em Angers.

Esse reconhecimento público da ilegitimidade da conquista da Polônia é um protesto que deve calar fundo em todos os corações católicos.

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É preciso que os católicos não percam de vista a recomendação que, dirigindo-se ao Episcopado brasileiro por ocasião do recente Concílio nacional, lhes fez o Santo Padre a respeito da debelação do protestantismo e espiritismo. (...)

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Os jornais diários não deram suficiente relevo a uma importante notícia que o “Legionário” deseja pôr em destaque.

Ao contrário do que se supõe, as conversações ítalo-húngaras não tiveram objetivos antibolchevistas e não visaram a formação de um bloco de países contra a URSS. Foi este o teor de uma comunicação feita pelo Sr. Kristoff, ministro húngaro em Moscou, ao Comissariado das Relações Exteriores da Rússia.

Certos leitores poderiam atribuir tal atitude do Sr. Kristoff ao receio da Hungria de se ver envolvida em complicações com a URSS. Entretanto, seria um ultraje a uma das nações mais guerreiras e mais destemidas da Europa, como seja a Hungria, afirmar que ela se fez autora de mentira tão covarde. E, de outro lado, caso realmente ela estivesse em negociações antibolchevistas com a Itália, deveria ter implicitamente ânimo suficiente para arrostar o bolchevismo porque, dias mais dias menos, os frutos dos resultados concretos dessas negociações teriam de atingir os interesses da expansão soviética e provocar um atrito com a URSS.

Lamentamos que não tenha sido real a versão de uma atuação antibolchevista ítalo-húngara no plano internacional.

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Não pode passar sem um comentário de nossa parte a descoberta de uma tenebrosa conspiração nos Estados Unidos destinada a subverter as instituições e a encaminhar a política norte-americana no sentido germanófilo, isto é, em rumo diametralmente oposto ao que lhe vem imprimindo o Presidente Roosevelt.

Esse golpe audacioso, tramado e quase executado em uma República dotada de poderosos meios de defesa, deve fazer admitir, por parte dos espíritos sensatos, ao menos a possibilidade de ser tentado idêntico golpe no seio de nações policial e militarmente menos bem aparelhadas. Essa reflexão, aliás, nada tem de antigermânico. Já declaramos, e jamais nos fartaremos de declarar, que o “Legionário” nada tem de antigermânico, se bem que seja radicalmente antinazista. Para os que timbrarem em identificar a Alemanha com o nazismo, tanto pior: nem por isso nossa posição deixa de ser lógica, definitiva e inalterável. Mas, como católicos que somos, não podemos deixar de considerar com a maior apreensão qualquer surto de paganismo nazista na América.

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Nazismo e neopaganismo são coisas inseparáveis. E daí se segue que o católico não pode, de modo absolutamente nenhum, ser nazista e auxiliar, seja de que modo for, a propaganda nazista.

Como explicar, então, que a organização através da qual se tentou o golpe nazista nos Estados Unidos tenha tido esse curioso nome de “Frente Cristã”? Cristã, como? Cristã, mas favorável à expansão do paganismo? Evidentemente, se a organização tomou tal nome, é porque tinha interesse nisso, isto é, porque o rótulo cristão lhe franqueava muitas simpatias e atraía muitos membros que, trabalhando pelo paganismo, julgavam entretanto fazer obra cristã.

Mas qual pode ser a causa dessa aberração? É que, como já temos dito mil vezes, a palavra “cristão” tem sido usada, se bem que indevidamente, em sentidos tão elásticos e tão vagos, que hoje não lhe é atribuído, no uso corrente, o seu sublime significado intrínseco. Os protestantes se chamam cristãos, mesmo quando o livre exame os levou a negar a divindade de N. S. Jesus Cristo. Os espíritas se dizem cristãos. Muito liberalão que gosta de flertar com os elementos católicos para efeito político se diz cristão.

E, entretanto, só há um cristianismo autêntico: o da Santa Igreja Católica. Por isso, o católico nunca se deve intitular vagamente cristão. Se lhe parece conveniente afirmar sua dignidade de cristão, não permitindo que essa palavra se torne peculiar aos heterodoxos, deve ele chamar-se cristão católico. Se prescindir do adjetivo “católico”, estará apenas concorrendo para espalhar em torno de si a confusão.

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Aliás, gramaticalmente falando, a regra é simples: as palavras supérfluas devem ser evitadas. Sempre que em uma frase uma palavra contém muitas outras, estas podem ser dispensadas. Assim, seria supérfluo que alguém se intitulasse sul-americano brasileiro paulista paulistano. Todo brasileiro é necessariamente sul-americano; logo, bastaria dizer “brasileiro”. Mas todo paulista é necessariamente brasileiro. Logo, seria suficiente dizer “paulista”. Entretanto, como todo paulistano é necessariamente paulista, qualquer pessoa um pouco versado em geografia pátria, dizendo-se simplesmente “paulistana”, tem o direito de ser entendida, e de ser tida como paulista, brasileira e sul-americana.

Assim, é certo que há cristãos não-católicos, se bem que professando um cristianismo mutilado e deformado. Mas, católico, apostólico, romano que não seja cristão não pode haver. Logo, intitulamo-nos de modo ideal e inexcedivelmente correto dizendo-nos simplesmente “católicos, apostólicos, romanos”.

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Não se julgue que se trata de uma desinteressante questão de palavras. Um desses erros do nosso século consiste, precisamente, em não dar às palavras o seu valor. Se o “Christian Front” se intitulasse “Catholic Front”, não teria podido iludir os incautos. Porque qualquer pessoa, ingressando em uma associação católica, procura imediatamente saber se é aprovada pela autoridade eclesiástica, e conhece aquele que é a alma e a vida da associação: seu assistente eclesiástico ou diretor eclesiástico. Não tendo a tal “Catholic Front” nada disto, estaria implicitamente morta.

Compreendam isso os católicos que gostam de se dizer simplesmente vagamente “cristãos”, sem acrescentarem imediatamente a palavra “católico” ou chamarem integralmente católicos, apostólicos, romanos pela graça de Deus.

Com suas preocupações literárias, eles são, na realidade, meros obreiros da confusão.