Legionário, N.º 397, 21 de abril de 1940

7 DIAS EM REVISTA

Merece registro a notícia proveniente do Vaticano segundo a qual não é exato que tenha sido deportado, pelo governo da Espanha, S.E. o Cardeal Segura y Saens, Arcebispo de Toledo. Receava-se, com razão, esta medida como conseqüência de violento incidente havido, segundo nos informaram os telegramas da semana passada, entre aquele eminente e virtuoso Prelado, e o governador civil de Sevilha.

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Os telegramas desta semana nos trouxeram a notícia de que reina, no Extremo-Oriente, uma intensa atividade diplomática, especialmente notável nos círculos chegados ao Ministério do Exterior do Japão, na previsão de um “putsch” germânico contra a Holanda. A Inglaterra, os Estados Unidos e o governo de Tóquio examinam o destino a ser dado às colônias neerlandesas localizadas na Oceania.

Este fato mostra que não foram prematuras nossas considerações a respeito da Guiana Holandesa que, situada ao norte do Brasil, a dois passos do Canal do Panamá e próxima às Antilhas, poderia trazer a nosso país, à Venezuela e aos Estados Unidos os mais graves embaraços caso, em um futuro mais ou menos próximo, se transformasse em colônia alemã.

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Se a atitude das chancelarias de Londres, Washington e Tóquio parece considerar a queda da Holanda como um futuro “fato consumado”, não pode ser essa a nossa atitude de católicos. Sem prejuízos de nossos deveres para com a Pátria, que nos obriga a zelar de modo sumamente vigilante por sua integridade territorial e a evitar portanto vizinhos ávidos de “espaço vital”, devemos lamentar a situação precária em que a Bélgica e a Holanda se encontram e orar intensamente por elas.

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Dirá, talvez, algum céptico que a oração nada pode em casos como estes, quando todas as forças já parecem conjuradas para preparar um desenlace fatal. Mas a linguagem dos cépticos não pode ser a dos homens de Fé. A oração é tanto mais necessária quanto mais críticas parecerem as circunstâncias, e a suma gravidade do perigo não é senão mais um motivo para rezarmos com mais humildade e maior confiança. Deus, que poude afogar no Mar Vermelho o exército do Faraó, continua hoje em dia tão Onipotente como naquela época, porque é Eterno...

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Se a tal conclusão não nos levassem os motivos de Fé os mais elementares, a ela chegaríamos em virtude do último apelo dirigido pelo Santo Padre a todos os católicos.

Sua Santidade, depois de lamentar ardentemente as desgraças que a guerra já trouxe, se refere claramente ao perigo em que se encontram as nações neutras, o que é uma clara denúncia de um novo “putsch”. Será este levado a efeito contra a Holanda e Bélgica ou contra os Balcãs? Ninguém o sabe, se bem que a segunda hipótese nos pareça muito mais provável. Seja como for, enquanto os filhos da iniquidade se preparam em segredo para agredir países inocentes, Deus  está no céu e governa com sabedoria o mundo inteiro. É a Ele, pois, que nós devemos nos dirigir com humildade. É possível que Ele, em sua sabedoria, não ouça hoje nossas preces. Mas estas cairão como brasas ardentes sobre a cabeça do inimigo impenitente. E tornarão certamente mais breves ou mais meritórios os padecimentos dos inocentes.

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Merece particularíssimo registro, para nosso exemplo, a piedade filial e tocante do Santo Padre para com a Santíssima Mãe de Deus.

De todas as práticas de que é tão rica a piedade católica, nenhuma o Santo Padre recomenda com maior insistência de que a devoção a Maria. A razão é dupla. Em primeiro lugar, Maria Santíssima é a Medianeira Universal, e ninguém pode alcançar graças de Deus sem ser por intermédio d’Ela. Perante Deus só temos um Mediador, que é Jesus Cristo. Mas junto a Jesus Cristo nada podemos alcançar sem a Mediadora necessária que é Maria.

A este propósito, é muito e muito digno de nota que o Santo Padre autoriza a esperança de uma breve definição dogmática da Mediação Universal de Maria, a Ela se referindo de modo tão claro e tão profundo em sua alocução.

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A segunda razão, que o Santo Padre não menciona, mas está na Teologia, é que “Maria Santíssima esmagou por si só todas as heresias” como canta a Igreja Universal.

Em todas as lutas contra a heresia, o triunfo da Igreja é sempre devido à intervenção de Maria. Esmagando a cabeça da serpente, esmagou Ela todos os heresiarcas de todos os séculos. Ninguém, pois, melhor do que Ela deve ser invocada no mês de maio, a Ela consagrado, para esmagar a imensa heresia totalitária que ameaça devorar, de vítima em vítima, a Europa inteira.