Legionário, N.º 406, 23 de junho de 1940

7 DIAS EM REVISTA

O vocabulário corrente tem palavras suficientemente enérgicas para verberar a invasão dos pequenos países bálticos pela Rússia, depois de um acordo ao qual eles se submeteram há meses atrás com uma cordura que talvez tenha passado as raias da simples prudência.

A sovietização do Báltico se consuma, pois. Em dias não muito remotos, veremos a Rússia invadir a Finlândia e a Suécia. Será o reino do comunismo em todo o Mar Báltico, o que passará assim a ser um “mare nostrum” da impiedade.

E os ingênuos pensarão que terá chegado neste dia o momento do choque fatal entre a Rússia e a Alemanha.

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Entre a Rússia e a Alemanha, dissemos. Mas dissemos mal. Entre o nazismo e o comunismo é que deveríamos ter dito. Porque o “Legionário” jamais consentirá em identificar o povo russo ou o povo alemão, que ele estima fraternalmente em Nosso Senhor Jesus Cristo, com os governos que dirigem aqueles dois gloriosos e infelizes povos. O feitor não pode ser tido como representante da vítima.

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É possível que ainda se assista a alguma guerra de opereta entre a Rússia e a Alemanha. Mas esta guerra jamais seria séria, jamais seria consistente, jamais representará um dissídio entre o nazismo e o comunismo. Simplesmente um se deixará tragar pelo outro, mais provavelmente o comunismo pelo nazismo. Mas a nazificação da Rússia outra coisa não significaria senão a mudança dos homens que estão no poder. A estrutura social poderia continuar a mesma, uma vez que está de plena conformidade com a doutrina nazista, como tão magistralmente provou Pio XI na Encíclica “Mit Brennender Sorge”.

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Da solidariedade soviético-nazista dá mais uma prova o comunicado do “Deustche Nachrischtem Bureau” que informa ser falso que a Rússia esteja concentrando tropas na fronteira alemã em conseqüência da recente invasão das repúblicas bálticas.

Prova mais interessante ainda deu o III Reich encarcerando na fortaleza de Konissberg o Presidente Smetonas da Lituânia, que atravessou a fronteira teuta para fugir dos russos. O governo nazista prendeu-o... porque tinha transposto sem passaporte a fronteira alemã.

Vendo isto, os Presidentes das outras republiquetas bálticas deixaram-se ficar em suas terras. É que entenderam que ficar entre o nazismo e o comunismo é ficar entre a cruz e a caldeirinha.

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Um espetáculo lamentável será dado proximamente ao mundo pelo Exército Republicano Irlandês. É muitíssimo provável que, quando as tropas nazistas atacarem a Inglaterra, explodam por toda a parte atentados terroristas que dêem a impressão de que a Inglaterra está irremediavelmente minada e que sua salvação é impossível.

Assim, a quinta coluna terá, na Inglaterra, o mais precioso apoio por parte dos irlandeses republicanos!

Pergunta-se que rumo está tomando o mundo. A resposta é simples: está sendo “quislingificado”. O neologismo se impõe. Se preferirem, há outros. Diremos que o mundo está sendo Mosleysado, Mussertisado, Degrellificado, etc. Dá na mesma. O sentido da coisa é que importa.

São ingênuos os que supõem que Hitler se contentará, para a expansão do totalitarismo pagão pelo mundo, com simples conquistas territoriais.

Ele arranjará em cada país vencido um pequeno “fuehrer”, não alemão mas do próprio país, que será um procônsul governando às suas ordens, e à sua semelhança.

A guerra de 1914-1918 teve como desfecho a republicanização do mundo e a formação de uma liga das nações de caráter liberal-democrático (...). A presente guerra, a continuarem as coisas como vão, teria como desfecho a constituição de uma liga de nações ditatorial, em que um ditador supremo imporia suas ordens aos ditadores adrede arranjados para todos os povos vencidos.

Fantasia? Qui vivra verra... [Quem viver verá]