Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 15 de dezembro de 1940, N. 431

  Bookmark and Share

 

Merece toda a atenção a deliberação da Sagrada Congregação do Santo Ofício, datada deste mês, condenando os “homicídios piedosos”, cometidos contra pessoas mental ou fisicamente incapacitadas, e que poderiam tornar-se um encargo para o Estado, “por serem os mesmos contrários à lei natural e à lei divina”.

Essa importantíssima deliberação, que constitui mais um marco divisionário entre o pensamento católico e a legislação totalitária alemã, bem como os doutrinadores fascistas e congêneres, é de uma evidente conformidade com a doutrina da Igreja e outra coisa não faz senão reafirmar solenemente uma convicção que a Igreja sempre professou e sustentou.

* * *

O “Legionário” jamais se eximiu de definir sua posição perante o sentido radicalmente ideológico do presente conflito mundial. Já muito antes da guerra, denunciara ele a afinidade doutrinária nazi-comunista e, assim, a orientação disfarçadamente bolchevizante do eixo Roma-Berlim. Agora que o comunismo dilatou singularmente suas fronteiras na Europa, em consequência do pacto Ribbentropp-Molotov, e viu crescer enormemente seu prestígio internacional, os resultados da política do “eixo” não podem deixar dúvidas a ninguém. Assim, o “Legionário” não tem uma única palavra a acrescentar ao que tem dito, demonstrado, ou desejado no decurso dos últimos acontecimentos.

* * *

Isto posto, e sem o menor prejuízo de nossa orientação que nos leva a considerar na estatolatria pagã do triângulo Roma-Berlim-Moscou o inimigo n.º 1 da Cristandade, cujas vitórias militares são implicitamente vitórias obtidas contra a Igreja, não podemos deixar de lamentar que, confundindo-se a Itália e fascismo, o insucesso das armas do Fascio sirva de pretexto, entre nós, para uma verdadeira campanha de descrédito do povo italiano, considerado como tal.

O “Legionário”, sempre antifascista, jamais permitiu que em suas linhas saísse algo de anti-italiano, e mesmo no momento em que sua crítica ao totalitarismo mussoliniano atingia seu auge, e italianos desvairados reivindicavam avidamente para a Itália as críticas que dirigíamos exclusivamente ao partido político ali dominante, mesmo naquele momento dizíamos, jamais deixamos de afirmar que nossa orientação radicalmente antifascista não significava de modo nenhum uma orientação anti-italiana. Hoje, que o insucesso se abate sobre as armas fascistas, aqui estamos nós, para atacar mais uma vez o fascismo, e afirmar mais uma vez nossa sincera amizade à Itália.

* * *

Atacar o fascismo, sim. Não nos deteremos em esmiuçar fatos que melindram por demais certos temperamentos. Reflita-se apenas no seguinte: perto de 20 anos de uma educação cívica intensiva baseada em um misticismo pseudo-heróico e pseudo-patriótico, constituem em síntese a história do fascismo. Não é preciso dizer mais para mostrar quanto é insuficiente o lastro doutrinário do fascismo, para arrancar do povo italiano o heroísmo de que ele é capaz.

* * *

São, entretanto, injustíssimas as críticas que apresentam o italiano como irremediavelmente medroso, soldado inevitavelmente mau, crônico herói de palco de drama, que só serve para figurar nas cenas dos teatros e não nos campos de batalha.

Quer-se uma prova? Imagine-se simplesmente que estivesse em jogo a Fé. Quantos mártires não daria a Itália à Igreja, hoje, em pleno século XX? Seriam eles muito menos numerosos do que os que já deu? Ninguém o pode dizer. Em todo o caso, toque-se na Igreja, e ver-se-á se o italiano não é capaz de heroísmo.

O mal não está nele. Está nos princípios inconsistentes, errôneos, que pretenderam inculcar-lhe, e que é uma glória para ele não haver tomado muito a sério.

Haverá coisa menos gloriosa do que tombar mártir de um erro?

Do que adiantamos, temos uma grande, uma augusta, uma imortal prova a aduzir.

Que exemplo mais alto, mais nobre, mais simples e mais digno, de puro e absoluto heroísmo, conheceu o mundo em nosso século, do que aquele santo e inesquecível Pio XI, em cujas veias corria o sangue italiano?

Pela sublimidade da condição a que é elevado, um Papa por assim dizer se desnacionaliza, pois que fica colocado em uma posição internacional, e em um cimo tão elevado, tão banhado de sobrenatural, que realmente se encontra ele entre o Céu e a terra. Tudo isto não obstante, nosso exemplo é perfeitamente concludente.

* * *

Mas há mais. É certo que um povo pode ter maior relutância em praticar certa virtude. Mas não há povo nenhum que, sendo fiel à graça de Deus, não possa praticar até mesmo esta virtude no grau o mais eminente. Assim, afirmar que o italiano é inevitavelmente medroso implica em negar a graça e a Providência de Deus. Em outros termos, implica em negar a doutrina católica.


Bookmark and Share