Legionário, N.º 492, 15 de fevereiro de 1942

7 DIAS EM REVISTA

Infelizmente realizaram-se quanto a Pétain os mais sombrios e mais severos prognósticos do LEGIONÁRIO. Como já tivemos ocasião de afirmar, o velho militar cuja constância, alimentada pelo gênio católico de Foch, outrora alcançou triunfos em Verdun, é hoje instrumento dócil e apaixonado do "eixo". A este respeito, todas as ilusões serão vãs, dissemos. E foram.

A Inglaterra e os Estados Unidos praticaram, em relação ao governo de Vichy, uma política de tolerância levada ao extremo. Preferiram confiar. Facilitaram o mais possível ao Sr. Pétain sua tarefa administrativa. Tiraram-lhe, um por um, todos os pretextos para uma atitude germanófila. Pacientemente, fleugmaticamente, o Sr. Pétain se utilizava desses recursos em benefício de seus aliados de coração, isto é, dos totalitários. E o dia veio, finalmente, em que não foi mais possível ocultar a triste realidade.

Digamos a verdade em termos crus: O Sr. Pétain desviou para os inimigos de sua Pátria e da civilização, isto é, os nazistas, os víveres que a lealdade anglo-yanque destinava a aliviar a miséria das multidões na França. Em outros termos, morressem de fome as crianças e os velhos na França, pouco importava; o que era substancial é que as tropas de von Rommel pudessem nutrir-se com víveres ingleses, para melhor poder matar os próprios ingleses. Os fatos são estes. Para que qualificá-los?

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Mais uma vez esses fatos impõem um silêncio confuso e mal humorado aos que, quando começamos a denunciar a atitude do Sr. Pétain, se levantaram contra nós cheios de furor. Infelizmente, podemos hoje acrescentar que há na Europa dois estadistas que têm uma posição muito parecida com a do Sr. Pétain, e que, cedo ou tarde, tomarão atitude análoga a dele. Queira Deus que nos enganemos. Nada, entretanto, nos autoriza em sã lógica a duvidarmos das razões que fundamentam nossa opinião.

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A respeito do Sr. Pétain, ainda uma observação se impõe. Enquanto ele simulava longamente uma comédia a fim de melhor servir os alemães, fazia ao elemento católico da França toda a sorte de mesuras e gentilezas. Muita gente acreditou nisto, como acreditou na "neutralidade" do governo de Vichy. Não compreendemos, entretanto, como se possa desejar o Reinado de Cristo na França, apoiando ao mesmo tempo com desvelos de irmão, os que na Alemanha injuriam, vilipendiam e perseguem a Nosso Senhor Jesus Cristo. Não se pode ser a um tempo amigo de São Pedro e de Herodes. E se alguém simula essa atitude, está enganando a um dos dois pretensos amigos. O Sr. Pétain se fez de amigo, simultaneamente, do Sr. Hitler e da Igreja. A qual dos dois estaria enganando? Quando se fez amigo dos EE.UU. e da Alemanha, era aos EE.UU. que estava enganando. Para que dizer mais?