Legionário, N.º 493, 22 de fevereiro de 1942

7 Dias em Revista

Como de costume, temos a registrar hoje, isto é, em nossa primeira edição após o carnaval, o crescente declínio desses festejos pagãos, ao par dos êxitos magníficos alcançados pelos vários retiros espirituais promovidos pelas organizações fundamentais da Ação Católica, bem como pela Federação das Congregações Marianas e a das Pias Uniões de Filhas de Maria.

Com os olhos sempre voltados, de maneira infatigavelmente vigilantes, para todos os problemas e perigos que ameaçam a causa Católica, faz-nos bem distender a vista também sobre as muitas e esplêndidas razões de esperança e de júbilo de que nos é tão pródiga a Providência.

Por isto, ao mesmo tempo que continuamos a estigmatizar com vigor indefectível as orgias carnavalescas, um clamor de gratidão se eleva dos nossos corações ao Céu: o êxito dos retiros é — e não vai nisto o menor exagero — uma das mais belas páginas da História do Brasil contemporâneo.

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Pouco depois do retiro... e do carnaval, todo o Brasil estremeceu, de norte a sul, com o criminoso atentado de que foi vítima uma unidade de nossa frota mercante. Embora os comunicados oficiais não tenham mencionado nacionalidade do submarino agressor, não é difícil conjeturar que pertença ao III Reich. A comoção foi tão profunda que alguns diários chegaram a afirmar que, pela primeira vez, os riscos próximos de uma conflagração roçavam pelo Brasil.

Este fato doloroso encontrou em nossa mocidade dois campos extremos: um, cheio de idealismo sobrenatural, de energia moral e de pureza, emergia do recolhimento dos retiros; outro, extenuado de alma e de corpo, depauperado de energias e vazio de idéias, estirava-se preguiçosamente pelas camas, a varrer os últimos fantasmas da embriaguez, e a se defrontar com os fantasmas muito mais reais e mais duráveis das dívidas, das enfermidades e das ruínas morais. Não é preciso ser muito grande psicólogo para perceber em qual dos campos encontraria a Pátria seus melhores e mais denodados defensores...

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Se há na Europa, um país digno de simpatia, é ele a monarquia que a bondade dos Pontífices exornou com a bela designação de Reino Apostólico da Hungria. País de Fé e heroísmo, dotado de uma alta e nobre civilização nascida da Igreja, a Hungria representou no passado a primeira trincheira católica contra as hordas do Islã, foi no período trágico das guerras de religião um inexpugnável reduto do Catolicismo, e, neste século, um dos baluartes mais seguros da defesa da Igreja contra o perigo bolchevista.

Tudo isto posto, já tivemos ocasião de lamentar que o governo do Almirante Horty, atual Regente daquela curiosa monarquia sem rei, tivesse submetido a Hungria à tutela pagã do nazismo. Aliás, o fato se explica: o Almirante Horty é protestante, e não tem nem pode ter, pois, contra o paganismo nazista, aquele vigor heróico de repulsa que só na Igreja se encontra quando se trata de combater o mal. Conseqüência indireta, esta, porém muito sensível, do condenável liberalismo religioso com que a Hungria aceitou, a despeito de católica, um Regente protestante.

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Por tudo isto, não podemos deixar de lamentar, e de lamentar profundamente, que tenha sido designado na pessoa do filho do Regente Horty, o sucessor desse estadista Calvinista, provavelmente identificado ao último ponto com as diretrizes doutrinárias errôneas do governo de seu Pai, do atual... como dizer? Príncipe herdeiro, é demais... Que termo encontrar?... o atual Ciano Húngaro cria o perigo de se consolidar no antigo Reino Apostólico uma dinastia ditatorial calvinista e totalitária, que constituirá por certo a negação de todas as tradições de Santo Estevão.

Mas, sobretudo, o que cumpre notar é o ridículo dessa sucessão hereditária. Entre certos ditadores modernos parece firmar-se essa tendência à constituição de dinastia. Não é preciso ser gênio para perceber que o Ciano tem cada vez mais os ares de Príncipe herdeiro. Franco também inaugurou um regime familiar apoiando-se sobre o Sr. Serrano Suner, totalitário dos quatro costados que a verve do povo espanhol apelidou pitorescamente de el cuñadisimo por ser aquele Ministro cunhado de el caudillo. Provavelmente, estes casos não serão os únicos. E o Parlamento húngaro já concedeu ao sucessor do Sr. Horty o título de “Alteza”; isto é que se pode chamar de oportunismo.

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Causou-nos a mais séria tristeza a notícia de que, na França, a miséria é tanta que a Santa Sé dispensou os fiéis da obrigação do jejum quaresmal que, como se sabe, é na Europa muito mais rigoroso do que no Brasil.

Com efeito, causa dor a qualquer pessoa ver ao que a política do armistício e do velho marechal arrastaram aquele glorioso país. E isto sobretudo quando o telégrafo nos traz a notícia de que o Sr. Sumner Welles não se contentou com as explicações dadas pelo embaixador francês em Washington sobre os suprimentos ao exército de von Rommel.