Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 28 de março de 1943, N. 555

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Os adversários da civilização católica têm obtido o mais amplo proveito com a confusão que lança nos espíritos o ver-se a braços de uma heresia contra outra, ou seja, o nazismo contra o comunismo. Continuamente, procuram eles - quer os da extrema direita, quer os da extrema esquerda - persuadir-se de que não podemos atacar a ideologia de um sem aceitar a de outro. E, como ambos são hereges em grau sumo, daí decorreria que o católico deve necessariamente ser herege, ou ao menos simpatizante com esta ou aquela heresia.

Evidentemente, faríamos o jogo do adversário conformando-nos com uma alternativa tão injusta quão irreal. Nossa grande preocupação deve consistir em conservarmos na confusão dos dias que correm uma inteligência e um coração inteiramente católicos, sem qualquer espécie de complacência, quer intelectual, quer afetiva, por qualquer erro, quaisquer que sejam as razões que a isto nos arrastem.

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Notem bem nossos leitores que há nisto uma preocupação central para a vida espiritual de cada um. A parábola da vinha e dos sarmentos costuma ser justamente interpretada como simbolizando a união dos fiéis com Jesus Cristo, Senhor Nosso. Sem essa união, somos ramos secos, que nada produzem e acabam por fenecer inteiramente.

Mas a união dos fiéis com Nosso Senhor Jesus Cristo se faz na Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana. Não há para nós outro meio de nos unirmos a Nosso Senhor, senão na Santa Igreja. Assim, a parábola também serve para elucidar as relações dos fiéis com o Corpo Místico de Cristo, e particularmente com a Santa Sé. Ligados a ela, podemos ser sarmentos cheios de vida e fecundidade. Separados dela, somos sarmentos destacados da vinha. A morte e a esterilidade serão nossa justa punição.

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Se a união à Santa Igreja, e, portanto de modo muitíssimo particular nossa união à Cátedra infalível de São Pedro, é condição essencial de nossa vida e fecundidade: quanto mais unidos formos a ela, tanto mais estuante será nossa vida, tanto mais rica nossa fecundidade.

Ora, como conseguir essa união perfeita com a Santa Igreja? Conformando com a doutrina dela todo o nosso ser. Nossa inteligência deve imbuir-se a fundo e inteiramente, não só sem reservas, mas com santo entusiasmo, da doutrina e do espírito dela. Nossa vontade deve querer absolutamente tudo quanto ela quer. E, tanto quanto nossa sensibilidade possa estar sob o domínio de nossa vontade, também nossa sensibilidade deve vibrar exatamente como manda a Santa Igreja. É a isto que deve tender o esforço incessante de todas as potências de nossa alma, iluminadas e robustecidas pela graça de Deus sem a qual nada podemos, mas com a qual podemos tudo.

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Seria ocioso fazer qualquer digressão sobre a nobreza da inteligência humana. Não se compreende como possa alguém procurar santificar-se sem empregar um meticuloso cuidado em consagrar inteiramente a Deus essa nobilíssima potência da alma, dela escoimando inteiramente não só qualquer opinião errônea, mas ainda as que tiverem simples sabor de erro, ou sejam temerárias e arrojadas. A purificação da inteligência pelo seu radical divórcio de qualquer laivo, por mínimo que seja, de erro, é um grave e imperioso dever da vida espiritual, que cada qual deve levar a cabo com diligência, e dentro da bitola de seus recursos e exigências intelectuais.

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Vê-se claramente como o pseudo-dissídio nazi-comunista pode iludir facilmente os espíritos, e arrancá-los a essa cuidadosa união à Igreja, que é para eles condição de vida e fecundidade.

Para fazer face a esse perigo, uma das reflexões salutares consiste precisamente naquilo que o Santo Padre Pio XI lembrou com tanto acerto na Encíclica que escreveu contra o nazismo, e que a cada passo se vem confirmando: não se pode apontar um marco divisório real entre as concepções políticas, sociais e econômicas do nazismo e do comunismo. Sempre que um católico aplaudir as doutrinas nazistas ou consentir em alguma simpatia para com elas, terá dado um passo no sentido do comunismo. E, reciprocamente, sempre que tiver consentido em alguma simpatia para com o comunismo, seus homens e seus métodos, terá dado um passo no sentido do nazismo.

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O Sr. Adolf Hitler, em seu recente discurso, ilustrou muito bem esta verdade. Declarou o "führer" alemão que o nazismo se propõe, mediante uma evolução social intencionalmente preparada depois da guerra, eliminar a diferença existente na sociedade contemporânea, entre as várias classes. Em outros termos, pretende fazer o comunismo. Stalin ou Molotov não teriam linguagem diferente.

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Com efeito, a doutrina católica ensina que todos os homens não são iguais no que diz respeito aos bens desta vida, e que a diferença de classes sociais é essencial a toda sociedade humana bem organizada. Atentar contra essa justa diversidade - que se deverá manter, entretanto, dentro dos limites morais e econômicos estabelecidos pela própria doutrina católica - é dar mostras de espírito revolucionário, daquele espírito que causou a primeira das revoluções, a de Lúcifer contra Deus.

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Passando a outro assunto, regozija-nos a notícia de que se formou agora em Londres uma sociedade especialmente destinada a combater a crescente influência da música norte-americana na Inglaterra.

O que se convencionou chamar internacionalmente música norte-americana, e que não se exprime na realidade senão uma tendência musical existente entre norte-americanos - não queremos crer que compendie inteiramente todo o bom gosto naquela florescente nação - não é outra coisa senão um sintoma da grave proletarização de costumes de que cada vez mais se vai ressentindo nossa sociedade. Tomando ritmos e danças [...] em que a extravagância é o único "mérito" e nas quais a civilização não exerceu sua ação toda feita de harmonia e bom senso, as danças de toda sociedade, mesmo da melhor e mais culta; essas danças deformam a moral, desequilibram os temperamentos, adulteram o gosto e ameaçam ferir a fundo a cultura ocidental.

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Por isso, entendemos que também no Brasil se deva lutar contra tão nefasta influência, seguindo o exemplo de Londres. E, aliás, os próprios norte-americanos fariam bem em impedir que o cinema e as revistas apontassem constantemente essas danças como as únicas que possuem. Ninguém lucraria mais do que eles, e sem prestigiar os verdadeiros valores artísticos que necessariamente devem ter, e em repudiar de vez a ideia que certos meios de publicidade inculcam, que nessas extravagâncias musicais está contido o mais fino primor do gosto americano.


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