Legionário, N.º 557, 11 de abril de 1943

7 DIAS EM REVISTA

No momento em que se fala em forças expedicionárias nacionais que devem seguir para a África do Norte, é bom que o “Legionário”, exprimindo os pensamentos que a doutrina católica lhe inspira, diga sobre o assunto algumas palavras.

E estas são, em primeira linha, de coragem e de incitamento. Lutando na África, lutamos na realidade pelo Brasil, que tem diante de si o agressor nazista, duplamente inimigo da Fé e da nacionalidade. Como nossos maiores, os heróis da luta contra Dugay-Trouin e suas tropas heréticas, contra Maurício de Nassau e suas milícias protestantes, os brasileiros de hoje, defendendo sua pátria, concorrem para abater ao mesmo tempo um dos mais potentes inimigos da Igreja no século XX.

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Estas reflexões nos levam a pensar em um assunto de vital importância. Todos os nossos soldados são católicos. Batendo-se, cumprem um dever que sua consciência religiosa lhes inspira, quer em relação à Igreja quer em relação à Pátria. Para centuplicar suas energias morais, e para lhes ser feito um verdadeiro ato de justiça, é altamente desejável que sejam cercados de todos os confortos espirituais que a assistência religiosa lhes pode dispensar.

Sabemos que nosso governo cogita no assunto. Fazendo-o ele cuida de tomar uma atitude de alta sabedoria e justiça, já que nenhum anseio é mais legítimo no mundo, do que o soldado católico que, em vésperas de derramar o sangue pela Pátria, pede a esta tão somente que não lhe recuse os meios de haurir na vida da graça os tesouros sobrenaturais que fazem do militar um herói cristão admirável, e dão à sua alma a certeza do Céu.

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E tanto é mais fundada nossa expectativa neste sentido, quanto sabemos que na Força Pública de São Paulo já desde antes da guerra funciona muito bem a assistência religiosa. Também entre as tropas aliadas às nossas, acentuadamente as norte-americanas, a assistência espiritual é admirável.

Embora os católicos não constituam maioria da população, possuem capelães próprios, com graduação na hierarquia militar, e a mais ampla liberdade de movimentos. E freqüente são as fotografias que nos mostram multidões de soldados católicos ianques, preparando-se para a luta no campo de batalha e para a vida eterna, em recolhida oração durante o Santo sacrifício da Missa.

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Em tudo isto, há um importante fator que não se deve desprezar. É o fator moral. Quanto mais generoso e alegre o sacrifício de um povo em tempo de guerra, tanto mais fecundo será o auxílio civil, e , implicitamente, tanto mais segura e rápida a vitória.

Ora, para as famílias católicas nada pode constituir motivo de mais grave e justa apreensão, quanto a idéia de que os seus combatentes possam correr o risco de morrer sem os Sacramentos, ou, ao menos, sem a absolvição prévia antes do combate. Nenhuma tortura é maior do que imaginar os feridos sem assistência do Sacerdote. E, reciprocamente, nada pode suavizar mais a dor de uma perda, a tristeza de uma separação consentida corajosamente por amor à Pátria do que a idéia de que Nosso Senhor Jesus Cristo, presente nas Sagradas Espécies, está entre as tropas brasileiras, e fala aos soldados pela boca do Sacerdote. Para uma mãe, uma esposa, uma irmã, uma filha, o mais alto dos consolos será sempre este.

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Somos um povo católico. Nascemos na Fé e vivemos de Fé. Se quisemos que, do alto do Corcovado, a imagem de Cristo Senhor Nosso presidisse os destinos do País, com sobra de razão havemos de almejar que Nosso Senhor Jesus Cristo esteja real e eucaristicamente presente nas nossas falanges. Não pode haver para nós maior estímulo de luta nem maior esperança de vitória.