Legionário, N.º 602, 20 de fevereiro de 1944

7 DIAS EM REVISTA

A respeito do bombardeio de Castel Gandolfo registramos a seguinte nota publicada pelo Núncio Apostólico em Washington, e retransmitida a esta capital pela agência norte-americana "United Press", que contém inapreciáveis esclarecimentos sobre os fatos ali ocorridos.

Washington, 17 (r.) - O Delegado Apostólico nos Estado Unidos declarou, em nome do Papa, que a Vila Papalina de Castel Gandolfo não podia ser considerada objetivo militar. Em sua declaração o Delegado Apostólico Mons. Amleto Giovanni Cicognani, disse o seguinte:

"S. Eminência o Cardeal Maglioni, Secretário de Estado de SS. o Papa Pio XII, enviou-me instruções para declarar que as recentes informações aparecidas na imprensa e atribuídas ao Alto Comando Aliado, segundo as quais o território papalino de Vila Castel Gandolfo está "saturado de alemães e portanto sujeito a bombardeio" não são verdadeiras. S. Eminência declara que nenhum soldado alemão foi admitido dentro dos limites da Vila Pontifícia, que é neutra, e que nenhum militar alemão se encontra presentemente nela".

Uma declaração suplementar, divulgada em nome da Conferência Nacional Católica, declarava o seguinte:

"A propósito da declaração do Delegado Apostólico nos EE.UU. deve ser recordado que, segundo informações recentes da Cidade do Vaticano, o Santo Padre franqueou a Vila Papalina de Castel Gandolfo, inclusive os apartamentos oficiais, para os que foram privados de residência pelo bombardeio das zonas limítrofes. Calcula-se que milhares de pessoas receberam asilo na Vila Papalina, inclusive mulheres e crianças. Os recentes ataques a Castel Gandolfo causaram a morte de várias centenas desses refugiados e a evacuação de muito mais. Uma irradiação do Vaticano afirmou, em 25 de fevereiro, que mais de 10.000 refugiados se encontravam na Vila Papalina e acrescentou que ainda não lhes é possível partir dali. Consequentemente, acrescentou a irradiação, qualquer ação bélica contra a Vila Papalina será não só uma violação dos direitos de extra-territorialidade, como constituirá um perigo para milhares de refugiados".

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O Exmo. Revmo. Sr. D. Jaime de Barros Câmara, Arcebispo do Rio de Janeiro, acaba de publicar magnífica circular sobre o ensino em que, inicialmente, manifesta sua satisfação por verificar que o "estudo da religião nos estabelecimentos de ensino público primário e técnico-profissional já é um fato consolador". E acrescenta: "Isso nos permite esperar que, freqüentando-os com proveito, as crianças não formem seu espírito em ambiente de indiferença religiosa. Embora ainda nem sempre tão propício como o das escolas católicas, encontra-se não raro naquelas, graças ao zelo individual e à consciência do corpo docente, cuidadosa orientação cristã. Deus seja louvado"!

Mostra a seguir o documento que "outro é, por desventura, o panorama do ensino secundário". O número de colégios católicos e ginásios católicos, principalmente para rapazes, é bem exíguo e "a maioria dos outros não oferece aos jovens os necessários elementos de educação religiosa, segundo as leis eternas do Decálogo, explicado pela Igreja, Mestra e Coluna da Verdade".

Depois de lastimar o fato de "estabelecimentos católicos, de bela aparência, bem montados tecnicamente, dotados de todos os requisitos pedagógicos" descuidarem da educação religiosa substituindo-a por "normas de mero naturalismo e máximas humanas", S. Excia. Revma. afirma:

"É assim que vai aumentando, lastimavelmente, o número de consciências mal formadas, ou deformadas, e que a despeito de tantas exigências da pedagogia moderna, não se consegue plasmar o caráter e a consciência. Falta o essencial: sem religião, não há moral. A moral chamada leiga, a moral agnóstica e atéia não resiste a muitas provas".

É dever indeclinável dos pais, lembra sua Excia. Revma., oferecer à prole uma educação conforme aos eternos ensinamentos da Igreja. Condena a circular, os internatos mistos e mostra não haver justificativa para a matrícula de católicos em colégios eivados de heresias ou em tais internatos onde impera a co-educação.

A circular do Exmo. Sr. D. Jaime de Barros Câmara é um documento oportuno nesta hora confusionista.

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Quanto aos atentados praticados contra a Basílica de São Paulo fora dos Muros, que pelo Tratado de Latrão é parte integrante dos Estados Pontifícios, entendemos que constituem injuriosa violação da soberania do Santo Padre, merecendo o mais caloroso protesto de todos os católicos.

A destruição de Monte Cassino, monumento venerabilíssimo da piedade cristã, é lamentada em todo o orbe católico. Entrincheirando-se ali, os nazistas criaram circunstâncias propícias ao desastre que agora sucedeu. Se Mussolini tivesse ouvido a voz de Pio XI, e não se tivesse aliado à Alemanha, nem as causas diretas nem indiretas de tão triste ocorrência teriam sobrevindo.