Legionário, N.º 606, 19 de março de 1944

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É comovedor o desvelo com que o Sumo Pontífice Pio XII, a despeito da situação verdadeiramente trágica em que se encontra, continua a estender por todo o mundo sua ação benfazeja.

Ainda na semana passada, o Ministro sem pasta, Sr. Richard Lew, informou que, graças à mediação do Vaticano representado respectivamente pelos delegados apostólicos junto aos governos de Londres e Tóquio, fora obtido um modus vivendi a respeito do tratamento dos prisioneiros ingleses internados na Malásia, Índias Ocidentais Holandesas e Filipinas, com iguais vantagens para os prisioneiros nipônicos na Inglaterra. Em conseqüência do acordo, o Sumo Pontífice assegura tratamento humano e condigno aos prisioneiros de ambos os países, devendo a Inglaterra fazer chegar os fundos necessários à subsistência de seus soldados por meio do Delegado Apostólico na capital japonesa. O Delegado Apostólico, por sua vez, remeterá as somas recebidas, diretamente aos governadores das zonas em que estejam internados os súditos britânicos. O Delegado Apostólico em Tóquio levou mesmo sua solicitude a ponto de visitar pessoalmente alguns campos de internamento de súditos britânicos, o que até agora fora rigorosamente vedado pelos japoneses a todos os representantes de potências neutras.

É interessante notar a plena confiança que dois países a-católicos, heréticos um e pagão o outro, depositam na Santa Sé, manifestação sensível do altíssimo grau de consideração de que no consenso unânime dos povos goza o Vigário de Cristo.

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Temos dito muitas vezes que os católicos devem acautelar-se sumamente diante das manifestações de tolerância ou longanimidade dos comunistas. Trata-se de mera manobra destinada a desarmar as prevenções e entrar com passo de raposa através das portas que a violência de um tigre não conseguira arrombar.

A prova de que a diplomacia soviética está empenhada em uma vasta manobra de mistificação se encontra em sua conduta com os reis da Itália e Iugoslávia.

Como ninguém ignora, as antigas dinastias reinantes da Europa conservam junto aos respectivos povos alto grau de prestígio. Ainda recentemente, o Instituto Gallup, mundialmente famoso por suas pesquisas a respeito do estado da opinião pública sobre vários assuntos, publicou o resultado de um inquérito realizado na Suécia - a dois passos do "paraíso russo" portanto - sobre a forma de governo monárquico. A maioria absoluta dos suecos é a favor da manutenção do trono. Assim, também na Iugoslávia e na Itália as respectivas casas reinantes gozam de grande influência. A Rússia procurou manobrar primeiramente no sentido de abolir a monarquia naqueles dois países. Seus asseclas em uma e outra margem do Adriático, e principalmente Tito e Sforza, trabalharam ativamente no sentido de incompatibilizar a coroa com o povo.  Perceberam que fracassaram: a Rússia mudou prontamente de atitude, mandou Tito reconciliar-se com o rei Pedro, reconheceu o governo  Badoglio e portanto o rei de quem Badoglio é ministro, e mandou às urtigas (muito merecidamente, seja dito entre parêntesis) o Sr. Sforza.

Dir-se-á com isto que a Rússia esta ficando monarquista? Nunca. Como não está ficando católica nem está ficando qualquer outra coisa que não seja comunista.

Simplesmente o que há é que o camarada "Stalin" está vestindo por algum tempo a pele do cordeiro.

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A prova de que ele percebeu esta necessidade está em que já se fala agora francamente de restauração da monarquia também na Rumânia, e a própria Rússia está dando prestígio a um príncipe Stirbe, personagem mais ou menos ignorado até aqui, mas que provavelmente poderá ser um "rei-tampão"... nas mãos dos comunistas.