Legionário, N.º 617, 4 de junho de 1944

7 DIAS EM REVISTA

O principal empenho da propaganda protestante... consiste em não parecer protestante. Para isto, utiliza-se de toda espécie de artifícios, desde as omissões cautelosas, os rodeios sorrateiros e inteligentes, que se notam nos prospectos e folhetos da "Associação Cristã de Moços", até a contrafacção vulgar empreendida pelo Sr. Salomão Ferraz, em sua conhecida "Igreja Católica Livre". O objetivo disto é muito claro. O Brasil tem uma graça especial: a Providência dotou seus filhos de um faro anti-protestante que os faz discernir prontamente o cheiro ácido da heresia, em todas as obras das seitas, e que os leva a fugir como da peste, de qualquer instituição clara ou veladamente eivada de protestantismo. Os rótulos protestantes fazem automaticamente o vácuo em torno de si. Se uma obra deixa transparecer que é protestante, está condenada a vegetar à sombra de colônias estrangeiras, sem nenhuma repercussão entre os brasileiros. E, por isto, o primeiro problema da propaganda protestante consiste, não em apresentar suas doutrinas, sob aspecto favorável, mas em escondê-las.

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Sabe-o muito bem o Exército da Salvação. E, por isto, se bem que ele seja incapaz de esconder inteiramente seu caráter herético, fá-lo quanto possível. Seu rótulo é o de "cristão". E porque sabemos que os únicos cristãos no sentido pleno e genuíno da palavra somos nós, católicos, temos por vezes a ingenuidade de pensar que tudo que é cristão é nosso. Por isto, ainda há muitos que recebem como uma simpática propaganda católica, os folhetos do Exército da Salvação, os pagam, e por vezes os lêem. A Salvation Army sabe muito bem disto, pelo que evita cautelosamente todos os ataques diretos à Igreja, em seus folhetos. Ela ministra a heresia ao público, deixando-o, entretanto, mal informado sobre o verdadeiro caráter herético de seu material de publicidade.

Que o Exército da Salvação proceda assim, ainda é explicável. Menos explicável é que as pessoas alheias ao corpo de propagandistas dessa organização, ao menos as supomos tais, mantenham cuidadosamente o equívoco astuto em que aquela instituição se envolve.

Um amigo nos deu um recente artigo da escritora Tarsila do Amaral, sobre o "lar das Moças" mantido pelo Exército da Salvação. É um laudatório algum tanto extenso, em estilo sentimental, sobre o abrigo que a Salvacion Army mantém para as gestantes solteiras. De princípio ao fim, elogios. Todos os aspectos da instituição foram analisados, descritos "comovedoramente" elogiados pela escritora que tanto ruído causou nos tempos da Aliança Libertadora. Nem uma vez, nem por descuido, lhe ocorreu dizer que a instituição era protestante. Foi só o que ela não viu... o que ela teria, entretanto, cultura suficiente para ver e saber.

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Cogita-se agora da constituição de um Estado judaico na Palestina. O Sr. William Beveridge, de cujo plano já se fala um pouco menos, pôs no cartaz o problema. [...]