Legionário, N.º 633, 24 de setembro de 1944

7 DIAS EM REVISTA

Todos os espíritos cristãos bem formados não podem deixar de lamentar os bárbaros acontecimentos verificados em Roma, por ocasião do julgamento do Sr. Caruso, antigo dirigente da polícia fascista. Como é sabido os agitadores e descontentes se apoderaram do Sr. Canetta, diretor da prisão de Regina Caeli, e o lincharam do modo mais cruel. O "Osservatore Romano", órgão oficial da Santa Sé, profligou com severidade este ato vandálico.

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Entretanto há aí algo a se considerar. Ninguém ignora que, se bem que a polícia fascista tenha sido menos cruel do que a nazista que chegou neste  terreno a uma “perfeição" técnica insuperável, também o regime do Sr. Mussolini caiu em gravíssimos abusos neste terreno. Como lembra o Santo Padre em sua famosa alocução que publicamos, os católicos são os defensores natos do direito natural. Assim, ainda mesmo que o regime fascista tivesse outorgado muitas facilidades às atividades católicas sob mais de um ponto de vista - que não negamos - é certo que isto não deveria tornar muitos católicos bastante cegos para não verem as ofensas irrogadas pelo regime ao direito natural em outros terrenos. A Santa Sé foi muito equilibrada. Não negou o bem, nem fechou os olhos ao mal. E, agora que a vindicta popular se erguerá na Europa inteira contra os excessos do totalitarismo, sua situação é boa. Infelizmente, nem todos os católicos seguiram este exemplo. E, precisamente por esta razão, agora que se torna evidente tudo que o fascismo tem de mau, as imprudências deles são invocadas pelos inimigos de nossa Fé para justificar contra nós acusações de toda ordem.

É, pois, preciso que se diga bem claro que a honra e dignidade do nome cristão só está incondicionalmente ligado ao que faz a Santa Sé, que é a única a representar, em caráter infalível, a doutrina da Igreja. Assim, portanto, nenhum ataque ao Catolicismo se justifica com fundamento no que tenham feito meros particulares.

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Mas o fato é que a verdade é a verdade. E, por isto, os católicos que não se atemorizaram em dizer claramente as coisas como eram, e que chamaram as crueldades crueldades, as ignomínias ignomínias, hoje colhem o fruto de sua conduta. Graças a Deus, entre estes está o LEGIONÁRIO que foi acusado de faltar com a caridade para com os fascistas e nazistas, porque teve a caridade suficiente para com as vítimas, para não calar os crimes de seus algozes. Sirva-nos esta experiência para compreendermos que a política melhor é a de agir sempre com imparcialidade diante de todas as coisas.

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No momento em que se noticia que as forças expedicionárias brasileiras estão tomando parte cada vez mais ativa nos acontecimentos militares, enche-se de justa ufania nosso coração à vista dos louros que estão colhendo no campo da honra. Entretanto, é preciso também que pensemos nas almas imortais. Não só para rezar pelos que faleceram no cumprimento do dever, honrosamente, mas para que Deus Nosso Senhor se apiade também dos vivos, auxiliando-os a carregar com militar e cristã sobranceria as cruzes pesadas desses dias de sacrifício e de heroísmo. O heroísmo é o clima habitual do católico. Por isto, o verdadeiro  católico sabe o que custa o sacrifício, qual o preço da coragem, e admira mais do que ninguém os bravos, por eles rezando com empenho todo particular.

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É grande o heroísmo dos que vão. Não é pequeno o dos que ficam. Rezemos também pelas famílias que fizeram generosamente a doação de seus chefes, de seus filhos, irmãos, parentes, para a defesa do Brasil e da civilização cristã. Este sofrimento, suportado em união com Nosso Senhor Jesus Cristo, reverterá em frutos para nossa Pátria.