Legionário, N.º 635, 8 de outubro de 1944

7 DIAS EM REVISTA

Infelizmente as hipóteses do LEGIONÁRIO sobre os projetos Pan-árabes estão em vias de realização, e da realização mais inteligente e prudente que se possa imaginar.

A fragmentação do mundo islâmico é coisa multisecular. Não é em um dia que se vence tal tradição. As conversações de Alexandria parecem ter tido por escopo realizar essa reunião "de modo muito modesto" inicialmente. No que consiste esse "modo muito modesto"? Em preparar a união dos povos maometanos, uniformizando suas legislações. Depois que as leis estiverem unificadas, os costumes igualados, tudo enfim preparado, a unificação política será feita simplesmente por decreto.

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Como se vê, o que se prepara é uma organização jurídica e social una, que vá do Nilo, ou melhor do litoral afro-atlântico ao Ganges, que se estenda pela orla do Mediterrâneo, do Mar Vermelho e do Oceano Índico. Essa organização jurídica e social comum será baseada em que? Forçosamente nos princípios comuns a esses povos. E quais são eles? Os princípios muçulmanos. Assim, pois, se prepara uma vasta "commonwealth" ou mesmo um imenso Estado muçulmano, bem às portas da Europa.

Quando nós, ocidentais, ouvimos falar em muçulmanos, sorrimos. Essa palavra parece-nos indicar forçosamente a disposição sonolenta dos serralhos, a lascívia estéril dos haréns, as intermináveis horas de divagações ociosas junto ao "narghilegh", os muezzins ignorantes e pachorrentos, proclamando suas preces do alto dos minaretes poéticos e inúteis. Tudo isto é muito interessante para distrair as crianças, para atrair os artistas e historiadores. E não passa, para os ocidentais, do artigo de "nursery" e de museu. Oxalá fosse sempre assim!

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O mundo muçulmano possui recursos naturais indispensáveis ao suprimento da Europa. Ele terá em mãos os meios necessários para perturbar ou paralisar a qualquer momento o ritmo de toda a economia européia. E, com isto, ele terá também meios para se armar até os dentes. O mundo muçulmano passará pela mesma transformação por que passou o mundo amarelo. Qualquer que seja o resultado desta guerra uma coisa é certa: o mundo amarelo não a perdeu. Porque, se a perdesse a China, o Japão tornaria uma das maiores potências do mundo. Se a perdesse o Japão - e já a perdeu potencialmente - a vitória seria da China. Os amarelos se sentaram um em cada ponta da gangorra. Qualquer que seja o lado que suba, os transportará para o alto.

Ao lado desta grande potência pagã que é a China - simpática aliás e benemérita por muitos títulos - temos a URSS, de um paganismo mil vezes pior, um paganismo satânico cheirando a apostasia. Se, ao lado dessas potências tivermos ainda um grande império Pan-árabe, o que será do Ocidente cristão? Em outros termos, o que será da influência internacional da Igreja?

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[erro tipográfico] ....vel. Mas ela pode sofrer derrotas parciais, por culpa de seus filhos. Quais são hoje seus filhos? Nesse Ocidente que chamamos cristão, quem é cristão autêntico? As duas maiores potências ocidentais "cristãs", são protestantes: Inglaterra e EE.UU. Entre os católicos, quanta desorientação, quanta tibieza!

Por tudo isto, os elementos presentes às famosas "conversações" recentemente realizadas entre diplomatas maometanos no Cairo parecem desprezar por completo a influência católica na solução de seus problemas. Tratando da Palestina, deliberaram entregá-la aos judeus. E os "cristãos" serão considerados como minoria étnica. Sabemos o que isto significa! Ser minoria neste século de ferro! Ferve ainda em nós o sangue dos cruzados?

Jeremias, nos chamarão. Se Jeremias estivesse vivo, o que faria ele? Riria? E se os que nos chamam Jeremias estivessem vivos ao tempo dele, o que fariam? Iriam se divertir em Babilônia, talvez.

Se Jeremias chorava, seu pranto não era estéril. Destinava-se a reerguer para a luta e para o triunfo os filhos de Deus.

O Santo Padre Pio XI escreveu certa vez um pensamento importante sobre esse assunto. Quanto mais nos mostrarem o que tem de ruim o mundo moderno, disse o Pontífice, tanto mais agradeceremos a Deus o ter-nos dado possibilidade de lutar contra todo este mal.

Tenhamos coragem de ver o mal. Choremos sobre ele. E lutemos com todas as armas da caridade e da fortaleza, para o debelar.