Legionário, 15 de abril de 1945

7 DIAS EM REVISTA

Plinio Corrêa de Oliveira

Um grupo de homens de ação desta capital escreveu ao Sr. José Eduardo Macedo Soares uma carta em que tecem longas considerações sobre a posição assumida pelo ex-capitão Luiz Carlos Prestes perante a sucessão presidencial.

O problema nos interessa pouco pelo que nos dispensamos de entrar na apreciação dos ditos e feitos do conhecido revolucionário na gravíssima situação que estamos atravessando.

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Entretanto, não podemos deixar sem registro uma importante afirmação dos missivistas. Trata-se do tópico em que afirmam que o reatamento das relações russo-brasileiras representa um passo importante na democratização do País.

Quer esse reconhecimento seja favorável, que seja nocivo a nossa constitucionalização, o que implicitamente afirmam os aludidos amigos do ex-capitão Prestes é que o estabelecimento de relações entre o Brasil e a Rússia não tem um significado meramente diplomático, mas pelo contrário, exercerá ação profunda no próprio curso de nossa política interna.

É interessante colher em fonte tão insuspeita uma confirmação das teses que nossa Folha sempre sustentou.

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Prometemos em edição anterior fazer alguns comentários sobre uma espécie de proclamação ou manifesto feito pelos sentenciados desta capital a propósito de polemicas despertadas pela atuação do Prof. Flaminio Favero à testa da Penitenciária do Estado.

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Não compreendemos como se possa ter consentido na publicação desse triste documento. Salvo prova em contrário, presume-se que todo sentenciado é delinqüente e culpado. E, se bem que a sociedade cristã tempere de indulgência os rigores de sua justiça, e tudo empenhe para obter a sua regeneração, o fato essencial é que todo depoimento de sentenciado tem um defeito de inidoneidade original, que anula por completo seu valor probante.

Isto, máxime quando a acusação feita ao Prof. Favero era precisamente de excesso de indulgencia para com os presos. Ninguém mais suspeito do que estes para opinar sobre o assunto.

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Ora, o mau gosto desta manifestação pública não ficou apenas nisto. Mal aconselhados, ou desvairados pela paixão, os sentenciados que assinaram a estranha manifestação, tiveram a extrema ousadia de sacar contra as administrações anteriores as mais graves acusações, como, por exemplo, de que em certos calabouços os presos chegavam a morrer pelo mau tratamento.

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Assim, a manifestação ao Prof. Favero assumiu um caráter de lamentável difamação de pessoas que deveriam ter sua reputação a salvo de acusações desta natureza.

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Especialmente o Sr. Acacio Nogueira, cujo nome não pode ser dissociado de quanto diga respeito ao passado da Penitenciária, e que já não é dos vivos, teve seu nome envolvido por essas acusações.

Nenhuma defesa é necessária. Mas, pena é que a acusação tenha sido feita.