Legionário, Nº 669, 3 de junho de 1945

7 DIAS EM REVISTA

Plinio Corrêa de Oliveira

Nada mais justo do que os dispositivos do decreto municipal 1208 (?) em que a cidade de São Paulo prestou homenagem oficial aos chefes de Estado de nossos dois grandes aliados, os Estados Unidos e a Inglaterra, dando seus nomes a importantes praças públicas da capital. Esse gesto, que exprime nosso reconhecimento pelo muito que fizeram na luta contra o inimigo comum, está em consonância com os sentimentos universais de estima e apreço, de que Roosevelt e Churchill são alvo em todos os setores da opinião nacional.

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Não merece igual aplauso o fato de se ter dado o nome de "Stalin" à praça contígua ao Parque Dom Pedro, limitada pelas ruas Santa Rosa, Ceres e pelo Palácio das Indústrias.

Abstração feita do regime político-social em que está o povo russo, seria concebível que se prestasse homenagem ao valor de seus soldados, dando a referida praça um nome qualquer que lembrasse seus feitos de armas. O nome preferível seria Praça Rússia. Mas, como já temos no Jardim Europa uma Rua Rússia, poder-se-ia escolher qualquer outra denominação. A escolha não seria difícil. Bastaria que ela exprimisse nossa simpatia pelo povo russo, de modo a excluir positivamente qualquer simpatia implícita para com seu regime.

Por exemplo, poder-se-ia tomar o nome de algum grande santuário nacional russo - e quantos são eles na própria Religião Católica - e designar com ela praça em tão má hora chamada Stalin.

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E, a julgar pelas declarações sobre liberdade religiosa, feitas pelo Sr. L. C. Prestes recentemente, os comunistas russos deveriam sentir-se muito penhorados com a modalidade especial dessa homenagem. Pois, não afirmam seus correligionários indígenas que eles não alimentam a menor hostilidade para com qualquer credo religioso?

Em lugar de homenagear a Rússia na pessoa de um homem-símbolo, que exprime um regime que abominamos, não seria preferível que a homenageássemos lembrando crenças comuns aos dois povos?

Ou a homenagem desagrada? E, nesse caso, que crédito dar às afirmações de L. C. Prestes acerca da cessação da hostilidade anti-religiosa que o regime bolchevista proclama hoje em dia?

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Um telegrama procedente de Nottinghan, na Inglaterra, informou recentemente que o "Bispo de Birmingham, Dr. E. W. Barndes, de 71 anos de idade, manifestou-se favorável à eutanásia e a esterilização em caso de doença mental, em discurso pronunciado perante o Congresso de Cooperativas dessa cidade".

Preliminarmente, convém lembrar que não se trata de um Bispo católico, mas protestante, e, segundo todas as aparências, anglicano. A Igreja Católica já tem sua doutrina absolutamente definida sobre o assunto, e é contrária a uma e outra coisa.

Em segundo lugar, é triste e digno de nota que uma medida tão caracteristicamente ligada às concepções filosóficas e biológicas do nazismo seja preconizada por um inglês de categoria, e mais especialmente por alguém que pretende dirigir-se ao povo, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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Um telegrama procedente de Copenhague informa que, se bem que a capital dinamarquesa já tenha sido libertada da opressão nazista, permanecem na cidade alguns focos de resistência que tentam uma reação desesperada.

Assim, durante a noite, os últimos soldados ou adeptos do nazismo, colocando-se em automóveis blindados que ainda têm em seu poder e aproveitando-se da desorganização total dos serviços de policiamento, percorrem a cidade disparando contra a multidão e postando-se diante de residência de personagens proeminentes, para promover atentados contra eles.

A selvajeria desse procedimento é sobretudo chocante, se atentarmos para o fato de que o nazismo está derrotado, e qualquer resistência só pode significar a inconformidade de um fanatismo delirante. Delirante e feroz, porque os crimes que inspira, nem sequer podem ser explicados pela esperança de um resultado útil para seus autores... esperança esta que, aliás, só serviria para explicar e nunca para justificar o crime.