Legionário, N.º 688, 14 de outubro de 1945

7 Dias em Revista

Chamamos a atenção de nossos leitores para as declarações sobre o comunismo, feitas pelo Exmo. Revmo. Sr. D. Jayme de Barros Câmara, Arcebispo do Rio de Janeiro.

Mais uma vez, e com uma clareza que não deixa margens nem a dúvidas, nem a subtilezas, a Igreja condena totalmente o credo vermelho.

As palavras do ilustre Metropolita merecem análise.

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Em primeiro lugar, o Sr. Arcebispo do Rio de Janeiro mostra claramente que a incompatibilidade entre comunismo e Catolicismo não está apenas no terreno [religioso], não é apenas porque os chefes comunistas ostentam ser ateus, e o comunismo a este título se costuma designar como "comunismo ateu". É entre o próprio programa social comunista e a doutrina social da Igreja que há incompatibilidade.

De sorte que, se um governo que pretendesse inculcar-se como católico, e desse a Igreja toda a liberdade e todas as garantias, entretanto procurasse aplicar os princípios comunistas no terreno meramente econômico, esse governo seria de fato anticatólico.

Jamais será suficiente frisar este ponto que a Igreja tem, aliás, acentuado com infatigável insistência.

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"Eclesia abhorret sanguine" - "A Igreja abomina o sangue". O sangue e a violência. A repressão ao comunismo, cuja propaganda constitui um atentado também à ordem temporal, incumbe ao Estado em primeira linha. E a Igreja jamais apontará aos seus fiéis o caminho das brutalidades, das ilegalidades, das tropelias, nocivas até ao próprio desenvolvimento da repressão autorizada e legal do Estado.

A Igreja usa uma arma incomparavelmente mais forte que o Estado: é a palavra de Deus, que S. Paulo compara a uma espada possante que penetra até a misteriosa juntura da alma e do espírito.

Lembra bem o Arcebispo do Rio, que é essa arma por excelência o grande meio de ação da Igreja contra seus adversários, na sua santa luta de vencer as almas salvando-as.

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Por fim, o Sr. Arcebispo do Rio de Janeiro desfaz os últimos resquícios do confusionismo, afirmando peremptoriamente que nada se mudou de essencial no comunismo. A Igreja nada espera, e nada tem a esperar, das famosas afirmativas de que o comunismo respeita os ideais cristãos.

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À vista de tudo isto, pode-se medir bem a insolência que tiveram certos agentes do comunismo, pintando em frente da Matriz de Jundiaí a foice e o martelo, a título de propaganda ideológica.

Implica isto em inscrever nos muros da casa de Deus a representação material de tudo quanto há de mais ateu.

A população de Jundiaí, essencialmente católica, indignou-se com o fato, e dirigiu ao Revmo. Pároco Pe. Artur Ricci vários testemunhos de solidariedade em desagravo desse doloroso fato.

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Francamente, devemos dizer que a condenação de Laval à morte é justa, e muito justa. Não nos interessam os pormenores do julgamento, e nem vamos discutir se o juiz Mongibeaux foi ou não foi imparcial. O que é certo é que Laval passará para a História como um traidor, cujo crime foi claro, escancarado, de notoriedade universal. E a consciência mundial ficaria agravada se tamanho traidor não tivesse a punição que lhe é devida.

Não sabemos se o Sr. De Gaulle lhe dará indulto ou não. O que é certo, e o que essencialmente importa, é que o veredictum da justiça se pronunciou sobre ele segundo o que a própria evidência dos fatos exigia.

No "caso" Laval as agravantes são inúmeras, e cada qual mais dura que a outra. Homem público de relevo, tinha mais que outros a obrigação de defender sua pátria; pelo contrário, traiu-a. Francês, tinha mais que muitos outros a obrigação de defender a civilização cristã, capitulou entretanto diante de inimigos capitais da Cristandade, e abandonou à sanha dos abutres a Primogênita da Igreja. Na execução de seu crime não conservou sequer as formas exteriores de decência que os traidores mais vis costumam respeitar. De si, a traição é discreta, silenciosa, insidiosa até. E tem pelo menos a vantagem de ter vergonha de si mesma. Laval inaugurou um tipo novo de traição: a traição eufórica, risonha, que escolhe precisamente os momentos em que se requinta para se exibir. E que em suas exibições prefere os meios mais sensacionais para mostrar ao mundo a hediondez de sua própria face.

É duro dizer tudo isto. Mas em consciência é só o que se poderia dizer. Laval representa o que o "colaboracionismo" tem de mais baixo e odioso.