Legionário, N.º 693, 18 de novembro de 1945

7 Dias em Revista

O Sumo Pontífice Pio XII, ao ter notícia da invenção da bomba atômica e dos terríveis estragos que produziu, manifestou seu paternal pesar pelo fato de se ter chegado a tal conquista científica, precisamente na época em que os homens se mostram mais belicosos. Assim, não há o que se não possa recear da aplicação profusa desse terrível sistema de destruição.

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A propósito da reunião realizada entre os Srs. Truman, Atlee e Mackenzie King, podemos perguntar: será que a entrega do segredo da bomba a outros países é um fator capaz de aquietar as angústias do Sumo Pontífice, ou seja, de todos os católicos? Ou, pelo contrário, tornará mais alarmante a situação?

E, imediatamente, vem à baila o caso russo. Ao que parece, certos políticos estão profundamente persuadidos de que a URSS entraria em guerra caso não lhe fosse entregue o segredo da bomba. O que eqüivale a dizer que o indivíduo A tem uma metralhadora, e B um revólver. E A é tão ingênuo que se persuade de que B o agredirá caso ele não entregue a metralhadora. Se B é tão briguento que, só de revólver ataca um homem armado de metralhadora, e isto só porque não quer ser atacado pela metralhadora(!), pergunta-se: o que fará ele quando tiver voltado o cano da metralhadora contra A?

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Visto de outro lado, o problema também é simples. A bomba atômica pode ser roubada e disparada também por algum grupo de gangster ou malfeitores, pode ser utilizada em guerra civil por um partido contra outro. Se todos os países tiverem a bomba será ela menos utilizada do que se só alguns a tivessem?

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Como seus irmãos siameses, os nazistas, também os comunistas sabem mentir com perfeição.

Um telegrama da Reuters narra que os comunistas realizarão eleições em Viena no próximo dia 25. Primeira mentira, no sentido de que estas eleições não são livres, e portanto, só poderão exprimir um resultado falso. Para a propaganda dessas eleições, outra mentira: são os dizeres dos cartazes de propaganda soviéticos afixados em Viena, asseverando que o "exército russo salvou os vienenses da bomba atômica".

A URSS treme de medo da bomba atômica cujo segredo está em mãos dos Aliados, e há de ter salvo Viena dessa bomba, que aliás ninguém jamais quis atirar contra a gloriosa cidade dos Habsburg.

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Reconheçamos porém que em um ponto a URSS tem razão. É de exigir o fuzilamento de Rudolph Hess. Em tempo, o "Legionário" já focalizou tudo quanto há de poder por detrás desse caso. Agora, não podemos deixar de lamentar que Hess tenha "perdido a memória" de tão singular maneira, isto é, precisamente no momento em que sua memória deveria servir para elucidar muita coisa.