Legionário, Nº 698, 23 de dezembro de 1945

7 Dias em Revista

O "Legionário" já tem acentuado várias vezes o luxo de que se cercam os comunistas, já não disfarçadamente, como há alguns anos atrás, mas publicamente e de modo ostensivo.

Assim, condecorou o governo soviético os generais Montgomery e Eisenhower com medalhas cravadas de rubis e brilhantes tão custosas que Eisenhower declarou ironicamente à imprensa londrina que não as usava em público, para não ter de andar acompanhado por batedores da Scotland Yard. No noticiário telegráfico essas manifestações de luxo continuam. As conferências com os chefes soviéticos são em palácios, e seguidas de faustosos banquetes. No mundo inteiro as embaixadas russas são cada vez mais luxuosas.

Como se parecem, por toda parte, os comunistas. Nosso stalinzinho (…), o Sr. Yeddo Fiuza, veio a São Paulo receber as homenagens de seus eleitores. Esperávamos que descesse proletariamente de um vagão de segunda classe, ou quando por muito de um vagão dormitório do noturno das 7 horas, o camarada Fiuza. Não: "S.S. veio de cruzeiro do sul", informou a imprensa.

Confere...

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E, já que tocamos no assunto soviético, seja-nos permitido externar toda a nossa apreensão ante as enigmáticas negociações que se estão desenvolvendo atualmente em Moscou. No momento em que escrevemos, continua o mais impenetrável segredo a respeito do que se fabrica na misteriosa alquimia política de Moscou. É indisfarsável que ali se joga o destino do mundo. O que teremos? Guerra? Paz armadíssima, paz atômica? Ou derrota sem guerra?

Natal. De Roma nos virá, como sempre, a palavra suave, paternal, elevada do Sumo Pontífice falando ao Sacro Colégio e ao mundo. Será um eco da promessa angélica. Paz na terra aos homens de boa vontade.

De Moscou, o que nos virá para este Natal?

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Estamos na torre de Babel. A confusão das línguas dispersou os construtores do orgulhoso monumento. Hoje, a confusão das línguas já não é o nosso único mal. Temos a confusão das idéias.

Um telegrama proveniente de Paris nos informa que os comunistas estão promovendo uma séria campanha para a moralização de certos bairros da cidade, e a completa extinção de certo gênero de nemhotéis, etc., etc., etc. Nisto cooperam largamente com os jovens católicos...

Mas, afinal, o que vem a ser o comunismo? Não é a supressão da família, a extinção da moral, a cessação de tudo quanto enfreava a libidinagem humana na era da Civilização Cristã? Não sabemos nem que comunistas são estes, nem que católicos.

E uma pergunta nos vem ao espírito. Alguém não estará sendo logrado nessa impossível colaboração? Pensamos mais um pouco, e nos lembramos de que São Tomás de Aquino explica que a completa extinção de certas tolerâncias traz como conseqüência um risco para a organização da família, pelo que as deve o Estado, prudente circunspectamente, deixar subsistir.

Estas colaborações dão, ou não dão forçosamente em logro?... e quem é logrado?... os comunistas, nunca!