Legionário, Nš 720, 26 de maio de 1946

7 Dias em Revista

Aplaudimos sem tergiversação, a ação enérgica da polícia no Largo da Carioca, ao menos em suas linhas gerais. Não estivemos presentes ao local, e, portanto, não podemos saber se a polícia não foi algum tanto precipitada ao atirar, se poderia ter dispersado o comício sem tiros, se pelos menos poderia ter agido exclusivamente contra os perturbadores da ordem, em atingir pessoas indiferentes, que transitavam pelo Largo. Todos estes pormenores, aliás importantíssimos, são da alçada das autoridades subalternas que agiram concretamente, no momento. E a apreciação disto só pode resultar de um inquérito bem feito, ao qual se deve seguir, conforme o caso, uma punição exemplar. Mas o princípio que orientou a autoridade superior foi certo. É o que cumpre afirmar com coragem.

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E qual é este princípio? Que os comunistas como outros quaisquer habitantes, não podem fazer uso da palavra nos locais proibidos pela polícia com fundamento em conveniências de ordem. Quanto ao Largo da Carioca, estas conveniências são evidentes. Este Largo é qualquer coisa como a Praça Antônio Prado, ou a Praça João Mendes, em São Paulo. Ou, talvez, como a própria Praça do Patriarca. Escolher o momento em que o trânsito chegou ao seu auge e a confusão de veículos e pedestres na praça é quase inextricável, para fazer um comício em que se prega a extinção de tudo quanto há de mais fundamental e santo no Brasil, e esperar que daí não procedam distúrbios além de desastres de trânsito de toda ordem é simplesmente ridículo. A polícia fez bem, portanto, em negar autorização para que o comício se realizasse naquele local. Os infratores da ordem policial deveriam, pois, ser punidos logo que desobedecessem ao que lhes ordenou. Do contrário, o Brasil se tornará em uma Babel para que não lhe faltam aliás propensões, no momento presente.

Se, pois, as autoridades subalternas agiram na execução desta diretriz geral de modo excessivo, é preciso salvar o princípio, e reconhecer que, em si mesma, a diretriz é legítima.

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Afinal do que se queixam os comunistas? Do tratamento que receberam? Que outras correntes da opinião se queixem, compreende-se. Mas eles? Que tratamento teriam os que em Moscou quisessem fazer um comício anticomunista? Pensem nisto, e depois digam se lhes assiste direito a qualquer reclamação.

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Ninguém ignora que a Suíça é, de todos os países do mundo, o mais pacífico, neutro, liberal. Pode servir de modelo a todos liberais do Brasil. Pois os liberais suíços, mais perspicazes do que tantos dos que entre nós nutrem ilusões sobre a URSS, acabam de dar um belo exemplo de coragem e de lealdade a respeito do comunismo. O governo suíço, todo ele constituído de liberais, publicou um relatório oficial, em que afirma que "apesar da dissolução do Komintern e da III Internacional em 1942 continuou tendo ligações no estrangeiro".

Vejamos, à luz deste fato recentíssimo, o que aconteceu no Largo da Carioca. Repetimos: se houve excessos, devem ser punidos. Mas os maiores criminosos que estavam no Largo da Carioca não foram os que talvez tenham cometido a grave falta de atirar sem motivo. Foram os que para ali se dirigiram, contra a ordem das autoridades brasileiras, a serviço de potência estrangeira, para trabalhar por um governo que fará do Brasil uma colônia. Esta a pura verdade.

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A França dá provas de que o catolicismo continua vivaz em seu povo. Haja vista a notícia da grande peregrinação de estudantes a Nossa Senhora de Chartres, feita pelos universitários de Paris. Serão aos milhares os peregrinos que farão a vasta caminhada a pé, atestando com esta expiação, sua humildade cristã, e com este objetivo de viagem, sua devoção mariana. Coisas destas enchem a alma.

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Acrescentam as notícias que numerosos estudantes cismáticos e protestantes se juntarão, neste ato de piedade, a seus colegas católicos.

Em tese, é bom. Na prática é perigoso, e até perigosíssimo. Vivemos em uma época de tremenda confusão de idéias e princípios. Todos os adversários do Catolicismo estão empenhados em confundir, tanto quanto possível, os campos e lançar o mundo no interconfessionalismo. Isto posto, atitudes como esta só podem dar origem a tendências e interpretações más.

Tanto mais quanto seria explicável que um ou alguns não católicos, em vias de conversão, tomassem esta atitude. Mas um grande grupo? Estará todo o grande grupo a caminho da conversão?