Legionário, Nş 728, 21 de julho de 1946

7 Dias em Revista

Os dolorosos acontecimentos verificados em Trieste na semana passada confirma nossas asserções sobre a precariedade do que sobre o problema Adriático se resolveu na conferência dos "quatro grandes". Trieste passou a ser uma "terra de ninguém", em que os bolchevistas tudo fazem para dominar a situação.

Dizem os telegramas que as autoridades de ocupação norte-americanas estão procurando ativamente os culpados do assassinato de alguns soldados yankees. Será verdade? Admitamos que a polícia americana acabe por encontrar os culpados, e que estes sejam agentes oficiais do governo soviético: o que farão os Estados Unidos? Revelarão ao mundo a descoberta? Para que, se sabem que a URSS provavelmente não lhe dará satisfações?

Para sofrer a humilhação de uma resposta insolente? Ou para reagir, e levar o mundo para a guerra?

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Infelizmente, outra asserção desta folha se confirmou. No que diz respeito à Itália, a proclamação da República implicou num verdadeiro desencadeamento de demagogia. Fervem as greves e agitações sociais por toda a península. E não admira, desde que se arrasou imprudentemente um princípio moral de ordem e de tradição, como a monarquia, precisamente no momento em que toda a máquina estatal sofria o embate de violentas forças de desagregação.

Se o Sr. De Gasperi pensou desarmar a demagogia, sacrificando-lhe a coroa, há de andar singularmente desiludido. Pelo menos, aprenderá ele a lição que os fatos se incumbiram de infligir a tantos estadistas ingênuos, isto é, que diante da demagogia só há uma atitude que não seja tola, isto é, a reação. Sim a reação, a legitima defesa frontal, declarada ostensiva e absolutamente tão enérgica quanto a própria demagogia. Esta deve ser a política de todos os que, em qualquer classe social, desejam salvar a civilização.

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Enquanto uma grande e gloriosa nação católica como a Itália sofre assim da circulação das toxinas comunistas em todo o seu organismo, os muçulmanos se estruturam cada vez mais fortemente. Nos últimos dias, tiveram a audácia de acenar para o mundo ocidental com a idéia de um governo palestiniano no exílio, a funcionar no Cairo. É uma verdadeira declaração de guerra diplomática ao Ocidente. E agora, mais recentemente, tiveram o bom senso de combater com energia o comunismo, resolvendo expulsá-lo do seio das nações muçulmanas.

Em outros termos, enquanto nós, católicos, nos debilitamos com concessões, nossos adversários se organizam.

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E não se pense que exageramos a importância da questão muçulmana. O Sr. Attlee, que está fazendo no Oriente a política criminosa que o Sr. Chamberlain fez na Europa, criou, com a retirada dos britânicos da Índia, problemas missionários gravíssimos. Assim é que Portugal começa a se agitar, com receio de que, saindo os ingleses, o movimento pan-hindu se volte contra as possessões lusas na Índia. Nessas possessões, Portugal fez florir cristandades vigorosas e pujantes. Há uma esplêndida vida religiosa na Índia portuguesa, e uma verdadeira assimilação da cultura lusa pelo elemento local. Mas tudo isto cairá inevitavelmente desde que assim o entenda Ghandi ou desde que o queiram os chefes da Liga árabe.

Estes problemas missionários já estão começando a se evidenciar. Não tardará muito que apareçam também as questões internacionais, o atrito entre o neo-arabismo, de metralhadora em punho, contra o Ocidente dividido, anarquizado, extenuado.

Nesse dia, o mundo maldirá Attlee, como hoje maldiz Chamberlain. Mas será tarde...