Legionário, Nš 729, 28 de julho de 1946

7 Dias em Revista

Folgamos em elogiar o decreto-lei pelo qual o Presidente Eurico Dutra acaba de estabelecer, a título permanente, as capelanias nas forças armadas do país.

Há pouco tempo tivemos oportunidade de registrar, também elogiosamente, o decreto-lei pelo qual se estendeu novamente a sucessão hereditária em caso de inexistência de ascendentes ou descendentes do falecido.

O LEGIONÁRIO, jornal essencialmente apolítico, vendo nesta medida um meio de assegurar a estabilidade e pujança da família, não poderia regatear seus aplausos ao Governo. E os deu com sincera satisfação.

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Isto nos anima a formular uma pergunta. Quando chegará o dia em que o Presidente há de revogar a atual lei eleitoral, que tanto e tanto dificulta a interferência dos católicos na política, e eqüivale para nós a um verdadeiro título de inferioridade em relação aos outros cidadãos?

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Um colaborador do "Estado de São Paulo", Sr. Frederico Heller, escreveu, há poucos dias, um artigo para o qual chamamos a atenção de nossos leitores. Mostra ele que os partidos comunistas existentes nos vários países europeus estão começando a tomar ares de independência em relação à URSS, sempre que a atuação internacional desta pareça colidir com os interesses do respectivo país.

Com muita sagacidade, o autor anota estas atitudes, demonstrando, em seguida, que não se trata, em absoluto, de uma evolução, mas de uma manobra. Com efeito, se em cada país o Partido Comunista fosse sempre e uniformemente contra os interesses nacionais e a favor da URSS, dentro em pouco o comunismo estaria repudiado pela opinião pública da Europa inteira.

Os vários Partidos Comunistas simulam, pois, uma tal ou qual adesão à causa do país em que funciona cada um... no fundo para melhor servir à URSS.

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Esta observação nos deve servir para acompanhar a atuação do comunismo [no Brasil]. É possível que, dia mais dia menos, o ex-capitão Prestes promova alguma manifestação patrioteira na Constituinte. Já saberemos, entretanto, que não se trata senão de manobra pour épater les bourgeois.

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Exemplo característico dessa ardilosa política foi o discurso do leader comunista no parlamento italiano. Obrigado a definir-se sobre a política internacional dos correligionários seus patrícios, advogou com todas as forças uma política de neutralidade entre a URSS e o bloco das democracias, política esta de que, segundo ele, a Itália teria os maiores benefícios a esperar.

Evidentemente, vê-se que ele não teve a coragem de chegar até o fim e de dizer as coisas com clareza. Neutralidade? Como assim, se no cenário internacional a URSS parece ter assumido a empreitada de desmembrar a Itália e de arrasar? Não foi Molotov quem insistiu pela anexação de Trieste à Iugoslávia? Não foi ele que pediu a intervenção dos aliados na Itália, para evitar uma onda de reação anticomunista, a que ele (de acordo com o velho chavão) chama onda de fascismo?

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Registramos com desprazer as imensas vantagens que a URSS obterá no tratado de paz com a Finlândia. Porto no Mar Báltico, livre comunicação com este porto através do território finlandês, desmilitarização, quase total da Finlândia. Enfim, Porkkala-Ud será uma Dantzig soviética no Mar Báltico.

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Sempre que os comunistas são derrotados, declaram que as eleições foram fraudulentas. Nestes últimos dias, sofreram eles uma derrota categórica, nas eleições turcas. Tanto bastou para que a imprensa russa dissesse que as eleições foram fraudulentas...

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A conhecida petroleira espanhola Passionaria telegrafou aos poloneses, manifestando seu pesar porque a Espanha continua escrava de Franco, e seu gáudio... pela liberdade de que goza a Polônia!

Sem comentários.

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Recrudescem na China as hostilidades entre comunistas e anticomunistas. No Egito e na Índia, a onda de nacionalismo está cada dia mais impetuosa. Na Palestina o atentado ao QG britânico deu uma gravidade sem precedentes à luta política. Toda a Ásia está em agitação, e esta situação se estende à África do Norte.

Por toda parte é o paganismo dos países gentios que se organiza e levanta a cabeça. Um dia veremos a imensa gravidade das complicações que isto trará para o Ocidente.

Sorriam desta previsão os que sorriram quando falávamos do poderio mundial do nazi-fascismo.

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Causa-nos estranheza que em plena tensão internacional a Inglaterra haja restituído à Iugoslávia todo o ouro - copioso aliás - que esta possuía no Banco de Londres. É ouro que entra indiretamente para os cofres da URSS para preparar a próxima guerra. Porque esta devolução?

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Um dos maiores perseguidores dos católicos alemães, Arthur Greiser, condenado à morte, pediu ao Santo Padre que interviesse em seu favor. O feroz gauleiter [chefe de distrito nazista] da Polônia Oriental, que mereceria cem vezes esta punição, se curvou assim diante da Igreja e, esperando da imensidade de sua misericórdia, pediu ao Vigário de Cristo que se apiedasse do verdugo dos cristãos.

O Sumo Pontífice, tendo em consideração esta confiança comovedora ...[erro tipográfico, ilegível] flor medrada precisamente no coração pedregoso de um bandido, atendeu paternal e benignamente ao pedido.

Todo o mundo se edificará, por certo, com tamanha clemência, bem própria a quem é na Terra Vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Todo o mundo, sim, excetuando-se os comunistas, que por sua imprensa atacaram ferozmente o gesto do Santo Padre.

Confere.