Legionário, Nº 747, 1º  de dezembro de 1946

7 Dias em Revista

Se os homens responsáveis pelos rumos da política em nosso país estivessem diretamente jurados para lançar o Brasil nos braços de aventureiros demagógicos e escravos de cartas de prego socialistas e bolchevizantes, não agiriam com mais perícia  e habilidade do que o estão fazendo atualmente de modo indireto, através da confusão das rixas e rivalidades pessoais, da falta de união de forças dos elementos conservadores.

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Com efeito, dessa fragmentação daqueles que, no Brasil, por fás ou por nefas, ainda representam nossa elite intelectual e política, os únicos beneficiários serão os pescadores que andam lançando seus anzóis nas águas turvas do mal-estar social, a granjear popularidade barata à custa da miséria e das desilusões do povo.

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Enquanto assim se apresenta sombrio o panorama político no Brasil, das terras de França nos chegam notícias da queda do governo chefiado por Bidault.

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Esta mudança no governo francês dá ensejo a que os comunistas mais uma vez ponham à mostra seu proverbial despistamento e seu decantado “realismo” político.

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Sendo indispensável a colaboração dos socialistas para que os comunistas executem seu plano de tomar as rédeas do poder, declaram os vermelhos franceses que seguirão “por caminhos diversos da Rússia”, que “o comunismo se orientará para o socialismo”, superando a etapa da “ditadura do proletariado” através de métodos democráticos de governo, etc.

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Quem não vislumbra em tudo isso um mero engodo e um mero recuo temporário destinado a mover as dificuldades presentes? A ditadura bolchevista começou na Rússia justamente por esses processos “democráticos, através da convocação de uma assembléia constituinte”.

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E se os partidários da ação direta sentem necessidade desses recuos, é pelo fato de ainda existir em França uma opinião pública vigilante, que pode estragar os seus planos, mesmo porque uma aliança entre comunistas e socialistas não é novidade, como aconteceu ao tempo em que estavam em moda as “frentes populares”.

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Insistimos em que a subdivisão da esquerda em várias facções é mais uma questão de tática do que de princípios. No fundo, georgistas, trotskystas, leninistas, stalinistas e todas as alas esquerdistas estão de acordo, embora os menos informados dessas correntes possam dar uma impressão diferente com suas lutas em torno de questões adjetivas.

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Sem ignorar que a nau de Estado com toda a probabilidade passaria para as mãos dos comunistas, o Sr. Bidault, ao renunciar, disse ser seu dever manifestar que “ao novo governo devem ser concedidas faculdades para agir com a maior autoridade possível, a fim de restaurar as finanças do país”. Em se tratando de membros de um partido totalitário como é o comunista, eis o que se chamaria chover no molhado se a intenção não fosse diferente…

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No conselho da ONU o Sr. Molotov fala sobre a redução dos armamentos e sugere que se proíba o uso da energia atômica para fins bélicos. Procedendo tais sugestões do representante de um país useiro e vezeiro em desrespeitar os tratados e agir pela força, de nada valendo sua palavra empenhada, será o caso de se indagar: - Quem amarrará o guiso no rabo do gato?

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Como uma réstia de luz no meio destas sombras, vemos a notícia do reatamento das relações diplomáticas entre a Santa Sé e a Áustria, interrompidas desde o advento do Anchluss. As probabilidades de salvação para um determinado povo crescem na medida em que nele aumenta a influência salutar da Igreja.