Legionário,  749, 15 de dezembro de 1946

7 Dias em Revista

Continua infelizmente a investida anticlerical contra a Santa Sé, na Itália. Doe-nos ver que o Vigário de Cristo é obrigado, se bem que não diretamente, mas através de seu órgão oficioso, a tomar conhecimento dessas baixezas, e a retorquir essas calúnias. A luta entre grandeza tamanha e pequenez tão venenosa faz-nos lembrar a pugna entre o leão e a serpente. Ou a hostilidade do grande São Paulo com o intrigante vulgar e baixo, que seria provavelmente o latoeiro Alexandre.

Não é por si que a Santa Sé se defende, pois que está acima de todas estas misérias. Fá-lo apenas por amor as almas rústicas e ignorantes, que os anticlericais querem seduzir por meio de intrigas e mentiras, roubando-as ao aprisco da Igreja.

Impressionante e incisiva é a reflexão que o "Osservatore Romano" faz a este propósito. Em Roma, diz o jornal oficioso da Santa Sé, ataca-se impunemente o Papa. E, entretanto, se Roma existe, deve-o ao Papa. Pois que é só por ser a capital da Cristandade, o centro do orbe católico, que Roma não foi arrasada como Stalingrado ou Berlim.

E quem ignora isto? No mundo inteiro, ninguém: não há quem não saiba que, se Roma ainda existe, deve-o exclusivamente a sua condição de sede do Papado, e à ação diplomática desenvolvida pelo Papa, pessoalmente, em favor da cidade eterna, junto a ambos os grupos beligerantes.

Tudo isto torna particularmente amarga a leitura das turbulências e desordens de que a cidade de São Pedro tem sido alvo, segundo o "Osservatore Romano": bombas lacrimogêneas foram lançadas contra os fiéis, em uma cerimônia em louvor da Imaculada Conceição; vários sacerdotes e Bispos tem sido gravemente injuriados.

Em Milão, estudantes vestindo hábitos eclesiásticos forçavam as jovens a dançar com eles, e praticavam imoralidades públicas.

Bem se vê que o LEGIONÁRIO andou muito bem em formular seu protesto pelas violências de que anda sendo vítima o Pontífice, e em pedir as orações de todos os seus leitores em favor do Pai comum dos fiéis.

Reiteramos hoje este protesto e este pedido. Mas isto não nos basta. Queremos ainda formular uma observação. Discursando certa vez sobre as perseguições anti-religiosas do México, o Santo Padre Pio XI aludiu ao inexplicável silêncio da imprensa no tocante a todas as atrocidades que ali se perpetravam contra os católicos, enquanto as agências telegráficas, por vezes, chegam a dar realce aos fatos mais insípidos e insignificantes, com o mero propósito de produzir e vender notícias. É a grande conspiração universal do silêncio, a propósito de tudo que diz respeito à Igreja, acentuou o Soberano Pontífice. Essas palavras não podem deixar de ser rememoradas hoje. Qualquer espoletinha que estoura em Tel-Aviv ecoa nos telegramas do mundo inteiro. Em Roma, pode-se fazer tudo contra os fiéis, sem excitar nenhum  interesse das agências noticiosas.

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O general Tito recebeu recentemente a visita de um grupo de prelados da igreja cismática da Iugoslávia, que com ele manteve longa e cordial palestra. Esta visita foi interpretada pela imprensa com uma demonstração evidente de que o regime vigente na Iugoslávia nada tem de hostil aos cismáticos. Assim, prosseguem as relações cordiais entre os cismáticos e comunistas que vimos denunciando insistentemente nesta folha. Sirva-nos isto para abrir os olhos do povo para a grande manobra envolvente que o comunismo tenta realizar em nossos dias. Ele não é mais oficialmente ateu. Pelo contrário, colabora de bom grado com todas as igrejas e seitas que não contrariem sua doutrina política e social. E oferece à Igreja de Deus a mesma colaboração. Verdadeira tentativa de simonia: se a Igreja de Deus aceitasse as vantagens e liberdades que os comunistas lhe oferecem, seria obrigada a renunciar à proteção da Lei Natural, expressa no Decálogo. E a este tráfico, jamais se rebaixará o Catolicismo.

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Se com o Catolicismo este mercado é impossível, com os cismáticos e hereges é facílimo. Sabemos todos como o comunismo penetrou na mais aristocrática e conservadora das seitas inglesas, o anglicanismo episcopaliano de que o Dr. Temple, deão de Canturbery, e o pouco saudoso "arcebispo" da mesma sede foram expoentes. Em larga medida, os pastores protestantes são utilizados como agentes de propaganda comunista, e não há muito tempo, em Friburgo, onde se realizou um sermão no templo protestante, pregado por um pastor que era ao mesmo tempo líder comunista conhecido. Com os cismáticos, o mesmo se dá. O vigário geral de uma das sedes cismáticas mais importantes, Moscou se não nos enganamos, era um dos chefes da organização dos "sem Deus". Os russos soviéticos aproveitam, assim, seu "pessoal especializado" em questões religiosas: outrora, incumbidos de demolir igrejas, e hoje os utilizam para fomentar cismas e heresias.