Legionário,  N.º 755, 26 de janeiro de 1947

7 Dias em Revista

A nota com que o Sr. Raul Fernandes, Ministro do Exterior, respondeu ao comunicado soviético referente à agressão sofrida por um funcionário brasileiro em Moscou, pareceu-nos insatisfatória. De um lado, não teve a linguagem altiva e incisiva que as circunstâncias exigiam. De outro lado, não continha o indispensável protesto contra a incorreção de atitudes do embaixador soviético no Rio de Janeiro, que se permitiu a liberdade de conceder entrevistas a nossa imprensa, defendendo o ponto de vista da URSS sobre o assunto. Com que direito o representante bolchevista se dirige assim, imediatamente à opinião pública brasileira, procurando aliciá-la contra nosso patrício injuriado em Moscou, e isto antes de conhecer a atitude oficial do Itamarati?

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Tudo isto, não obstante, a nota de nossa chancelaria contém afirmações muito dignas de registro. Ficamos sabendo por ela, que a embaixada do Brasil está alojada num indecoroso hotelzinho de Moscou, sem poder encontrar local adequado a seu funcionamento normal. Ficamos sabendo que o governo brasileiro teve de pedir melhores instalações ao Kremlin, porque a tirania da URSS é tal, que nem sequer se pode obter um edifício para alugar, sem autorização do poder público. E ficamos ainda sabendo que o Kremlin se manteve, até o presente momento, inteiramente indiferente aos pedidos do Brasil, embora fornecesse ao seu representante no Rio de Janeiro, um equívoco Sr. Zuritz, verbas vultosas para se instalar em um excelente edifício na Capital do País.

A este propósito, uma informação digna de nota. Nem todos os nossos leitores saberão, talvez, que esse Sr. Zuritz vive no Rio num grand train de vie, procurando aproximar-se das rodas plutocráticas e capitalistas, elegantes, e dando recepções vistosas, às quais certas revistas mundanas consagraram crônicas talvez não gratuitas!

É deste estofo o igualitarismo soviético!

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Um recente telegrama da Venezuela confirma, infelizmente, a notícia que demos há algum tempo atrás, sobre a fundação de uma "igreja católica apostólica venezuelana", unida por vínculo orgânico à seita ativa e vulpina que se chama "igreja católica apostólica brasileira". São mais de trinta sacerdotes católicos romanos da Venezuela, que apostatam assim miseravelmente, ligando-se ao bispo apóstata Carlos Duarte da Costa e aos sacerdotes apostatas e bispos de contrabando que a este se ligaram.

No que dará isto? Em nada? É possível. Em algo de grande, perigoso, durável? Não é nada impossível...

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As eleições francesas para a presidência da República não podem passar sem um comentário. Os dois principais candidatos foram o socialista Vincent Auriol, e o líder do MRP, Champetier de Ribes. Como os comunistas votassem no primeiro, de preferencia ao segundo, o socialista Auriol foi eleito por 452 votos, alcançando o Sr. Champetier de Ribes apenas 242.

Isto prova bem claramente que os socialistas fazem o jogo do comunismo. O MRP francês foi muito longe, longe demais na política de colaboração com os vermelhos, política esta que dentro de certos limites, nos primeiros dias de après guerre, se justificava. Apesar disto, no momento decisivo as preferências dos comunistas não foram para o MRP, mas para os socialistas.

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Em edição anterior, comentamos o caráter pagão do movimento insurrecional vietnamita contra a França. Notícias desta semana informam que cerca de cem missionários católicos franceses e espanhóis desapareceram na Indochina, com a irrupção da guerra civil, sendo que além disto foram raptados de conventos de Hanói seis sacerdotes e uma religiosa.

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Na Itália, o Sr. De Gasperi parece reafirmar sua posição. O que torna paradoxal sua situação é que, sendo ele o chefe de um Partido que se diz cristão, membros de seu gabinete mantêm a polêmica acesa com a Santa Sé, parecendo que a despeito disto o Sr. De Gasperi se sente perfeitamente à vontade ao lado desses colegas.

Assim, ainda nesta semana, o líder bolchevista Pietro Nenni, ministro do Exterior, fez declarações em que responsabiliza a Santa Sé pela campanha anticlerical que se desenvolve na Itália, e sustentou a tese de que tal campanha se deve à ingerência do clero na política. O "Osservatore Romano" refutou incontinente as alegações do ministro comunista, mostrando que tal ingerência não é só um direito, mas um dever, em toda a medida em que esses assuntos se relacionam com a doutrina católica.

A gravidade da atitude assumida pelo Sr. Pietro Nenni vem especialmente de que todas as relações entre a Igreja e o governo italiano passam pelo Ministério do Exterior, em virtude de ser a Santa Sé, considerada pelo pacto de Latrão, potência independente e estrangeira.

Vejamos se o Sr. Nenni continuará no segundo gabinete De Gasperi, ora em formação. Em lugar de continuar aliado à esquerda, o Sr. De Gasperi poderia e deveria dar agora um golpe parlamentar contra ela, aliando-se ao centro e direita.

Precisamente como no caso do MRP, o PDC italiano poderia ter de início colaborado com o comunismo. Mas agora esta colaboração já está durando demais.