Legionário, N.º 763, 23 de março de 1947

7 Dias em Revista

Lemos com emoção a notícia de que os católicos da capital baiana, afrontados com injúrias dirigidas pelos elementos comunistas locais contra o Romano Pontífice, organizaram uma grandiosa manifestação de protesto e desagravo. Constou tal manifestação de imponente procissão em que milhares de pessoas conduziram pelas ruas um andor com a imagem de Nossa Senhora de Fátima, rezando pelo Sumo Pontífice, pelo Brasil, e consequentemente, pelo esmagamento da heresia comunista.

Nesta grande manifestação, tudo merece aplauso e toca especialmente nossos sentimentos de católicos: a devoção a Nossa Senhora, a extrema suscetibilidade no tocante à honra, grandeza e dignidade do Soberano Pontificado, e o desejo de que sejam abatidos os inimigos da verdadeira Fé.

"Senhor, que vos digneis de humilhar os inimigos da Santa Igreja", suplica a Sagrada Liturgia na Ladainha das Rogações.

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E, já que estamos tratando deste assunto, registramos com especial agrado a notícia de que a Suprema Corte de Washington manteve, há poucos dias atrás, a decisão proferida pelo Tribunal de Justiça, e depois confirmada pela corte de Apelação, que autoriza a demissão de um funcionário do governo por pertencer a uma organização comunista.

Fica, assim, o governo norte-americano autorizado a demitir os funcionários públicos que manifestem convicções comunistas. Quando teremos o mesmo no Brasil?

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Causa-nos estranheza, a notícia veiculada pela AFP, de que em Paris foi descoberta uma organização clandestina anticomunista, que teria por objeto falsificar os documentos dos colaboracionistas, facilitando-lhes, assim, a fuga do território francês.

Seria admissível que uma organização de antigos "colaboracionistas" financiasse um escritório especializado em tais práticas. Mas é singular que uma tarefa de tal natureza esteja sendo realizada por uma comissão que se proponha como fim especialmente o combate ao comunismo.

Com efeito, anticomunismo e colaboracionismo são coisas perfeitamente distintas. Há e houve muitos anticomunistas que foram e se conservam irredutivelmente anti-colaboracionistas. De outro  lado, entre os colaboracionistas da primeira hora houve muitos comunistas: os telegramas dos dias da invasão noticiaram fartamente que o avanço das tropas nazistas era por toda a parte facilitada - em território francês - pela ação das células comunistas. Assim, o telegrama da AFP cria um ambiente de confusão. Por que seria necessariamente anticomunista uma organização destinada a proteger colaboracionistas? Por que seria necessariamente colaboracionista uma organização destinada tão somente a combater o comunismo?

Vemos neste telegrama uma das tantas notícias que pululam pelo mundo, que alimentam certas confusões com as quais só a esquerda tem a lucrar.

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Fazemos com tantos pormenores este comentário, porque sobretudo estranhamos na referida notícia um pormenor: numerosos Sacerdotes, especialmente religiosos, estariam implicados nesta falsificação de documentos em favor de colaboracionistas. Em conseqüência disto, a Sureté Générale, polícia especializada francesa, varejou várias casas religiosas.

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É absolutamente estranhável tudo isto. Vários sacerdotes de muitas Ordens e Congregações, falsificando documentos a favor de colaboracionistas, e mantendo para este efeito um sistema de transmissão de documentos especial?

Há uma explicação muito mais plausível para tudo. Alarmados com a onda de comunismo na França, alarmados sobretudo com a atitude fraca de muitos elementos anticomunistas na reação contra Moscou, certas figuras do clero e laicato católico teriam montado um organismo - não secreto - de ação anticomunista. Os comunistas, cientes do fato, teriam envenenado o assunto, afirmando tratar-se de uma organização colaboracionista.

É a dialética infernal dos totalitários: para eles, quem não é comunista é nazista, e vice-versa.

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Foram tão comprometedoras as informações prestadas por um ex-comunista, Luiz Budenz, antigo redator chefe do órgão vermelho "Daily Worker", a propósito do assassínio de Leon Trotzky, ocorrido no México em 1940, que uma comissão de personalidades norte-americanas acaba de requerer a abertura de um inquérito sobre o assunto.

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O servilismo dos comunistas do mundo inteiro, em relação a Moscou, é manifesta. O Partido Comunista britânico, por exemplo, na semana passada protestou, de modo oficial, contra o discurso do Sr. Truman, referente à proteção do Oriente Próximo e Médio pelos Estados Unidos. Ora, como é  bem evidente, toda a opinião sensata da Inglaterra, inclusive importante fração do próprio Partido Trabalhista(!), percebe a vantagem que todos os povos de civilização ocidental e cristã têm com isto. Só não percebem esta vantagem os comunistas ingleses...

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Seguindo também instruções de Moscou, a imprensa esquerdista francesa atacou acerbamente o discurso do Sr. Truman. O governo títere da Bulgária também protestou. Em suma, toda a máquina de propaganda soviética funcionou com a regularidade que torna até banais e insípidas as atitudes de seus agentes no mundo inteiro.