Legionário, n.° 789, 21 de setembro de 1947

7 DIAS EM REVISTA

Infelizmente, as agitações na Itália continuam. De todos os lados as greves se multiplicam criando para o gabinete De Gasperi uma situação difícil. Chegou-se mesmo a falar em revolução comunista. A sede central do PC italiano publicou um comunicado em que desmentia formalmente as versões referentes a um golpe de estado. Mas a palavra do PC vale muito pouco na Itália, como por toda a parte. O simples boato de revolução social, mostra bem até que ponto se extremaram as opiniões, e quanto se agravou a situação.

Como é evidente, pensamos no Papa. Ainda ecoam em nossos ouvidos as palavras trágicas de seu grande discurso na Praça de São Pedro. Pode ser que os acontecimentos de amanhã dissipem todas as nuvens, mas pode bem suceder o contrário. E nossos corações de filhos sofrem e sangram pelo Pai comum. Porque o Papa é a cabeça, o fundamento e o cerne da Igreja. Onde está Pedro aí e só aí está a Igreja de Jesus Cristo. E se Pedro sofre, é toda a Igreja que sofre com ele.

Mais uma vez insistimos sobre a necessidade de se rezar muito e muito pelo Santo Padre, nos dias tormentosos em que vivemos.

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O que há de muito significativo neste assunto é a atitude do Sr. Palmiro Togliatti, duce dos comunistas italianos. Até não há muito tempo, Togliatti procurava manter relações cordiais com figuras exponenciais do catolicismo da Itália, fazendo o possível para demonstrar por suas atitudes a tese absurda de que catolicismo e comunismo não são incompatíveis. E como sempre houve os ingênuos que deram crédito às manobras de Togliatti.

Agora, porém, os interesses do Kremlin mudaram, e Togliatti recebeu outra palavra de ordem. Hei-lo que ataca desabridamente a Igreja, e de modo todo particular o Vaticano. Quer isto dizer que, ao menos no momento, o governo soviético não vê nenhuma vantagem em proceder com moderação em relação à Igreja. O que justifica o temor de que ele venha a ordenar atos violentos contra o próprio Papado.

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O que há de muito considerável na atitude de Togliatti e dos comunistas italianos é a manifesta ilegalidade de seu procedimento. Os comunistas se dizem partidários do princípio da soberania popular. Dentro deste falso princípio, nada de mais incoerente do que sua atitude. Com efeito, as eleições para a Constituinte italiana foram honestas. Através delas, o povo italiano elegeu uma forte maioria anticomunista. E esta maioria por sua vez indicou o Sr. De Gasperi para formar gabinete. O ministério De Gasperi – empreguemos o detestável “dialeto” político da ideologia – é uma legítima e direta emanação do sufrágio popular. Com que direito pois, pretendem os comunistas forçar o Parlamento a derrubar este ministério por meio de greves?

A atitude dos comunistas justifica perfeitamente o que dizíamos há meses atrás. Não tememos a vitória eleitoral do comunismo em um pleito livre e raso. Não houve ainda o caso de um país que entrasse para o comunismo em eleições honestas. Tememos, isto sim, e, sumamente, a destreza, a violência e a astúcia das minorias fortemente organizadas que o comunismo arregimenta por toda a parte.

A versatilidade de Togliatti poderia servir para abrir os olhos dos ingênuos, que sonham com a política da mão estendida. Não cremos, porém, que tais ingênuos mudem de opinião. A pior obstinação é a dos espíritos tíbios e comodistas, que fabricam uma visão rósea das coisas, para poder viver maciamente. Esses idólatras do macio se agarram a seu ídolo com uma veemência invencível. E só abrirão os olhos no dia em que sua própria pele estiver em jogo.

Sim, porque em matéria de pele, ninguém é transigente, nem imprevidente, nem tíbio... Estas coisas são boas só quando se trata de princípios!

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Falando do silêncio oprobioso da imprensa mundial quando das perseguições religiosas no México, o Sumo Pontífice Pio XI usou uma expressão excelente: "a conjuração internacional do silêncio". Esta conjuração continua, lançando o véu, sempre e por toda parte, sobre as ignomínias praticadas pelos adversários da Igreja.

Na Inglaterra está veladamente restaurada a escravidão. O governo laborista está investindo no direito legal de designar para todo o inglês um emprego. Vejam agora nossos leitores como uma agência telegráfica encontrou meios de fazer a toilette, a este fato, noticiando em termos adocicados fato tão terrível. Leia-se, o telegrama, e diga-se se ele incute contra tal instituição a aversão que todos devemos sentir:

"A REDISTRIBUIÇÃO DA MÃO DE OBRA NA INGLATERRA - Londres, 18 - De acordo com os planos do governo a propósito da distribuição de mão de obra, que deverão entrar em vigor a 6 de outubro próximo, todos os homens de 18 a 60 anos de idade, e as mulheres de 18 a 40, que deixarem seus empregos à procura de outro deverão dirigir-se obrigatoriamente às Bolsas de Trabalho, onde lhes será facultada uma escolha tão ampla quanto possível de empregos considerados "essenciais", isto é, nas indústrias que produzem artigos para exportação.

E, em caso de recusa, será dada ordem formal ao interessado. Os salários e condições de trabalho serão fixados de acordo com as escalas aprovadas pelos sindicatos.

O Ministro do Trabalho assegurou que todos os meios de persuasão serão utilizados antes da aplicação de penalidades que vão desde 100 libras de multa a três meses de prisão.

Esses planos são complementares das medidas previstas no plano Cripps, em virtude do qual haverá redução ou interrupção no fornecimento de matérias primas e combustíveis às indústrias "não essenciais", o que as levará a dispensar trabalhadores que serão utilizados nos setores "essenciais".

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Na Iugoslávia, os católicos parecem que se organizaram militarmente e estão agindo contra as autoridades de ocupação comunistas. Aplaudimos a magnífica iniciativa. Como bem disse Pio XII, chegou o momento de opormos à violência dos maus a santa violência dos bons. E essa santa violência não é uma violência de opereta, feita de algodão e cartolina, mas uma violência eficaz, enérgica, invencível.

Que possibilidades de êxito tem esta iniciativa? Pouco importa. Há situações em que, pura e simplesmente, é preciso lutar, ainda que o êxito seja extremamente improvável.

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Nisto tudo, há um fato que não compreendemos: por que motivo o governo yankee retira suas tropas do Adriático, precisamente agora?