Legionário, N.º 803, 28 de dezembro de 1947

7 Dias em Revista

Antecipado nosso trabalho de redação por motivo das festas de Natal, não podemos, infelizmente, publicar hoje a alocução impressionante e de transcendental importância, que o Sumo Pontífice Pio XII, gloriosamente reinante, pronunciou no dia 24.

Esperamos, contudo, publicar este notável documento em nossa próxima edição.

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No dia 22 pp., transcorreu uma data da maior significação para a vida religiosa de São Paulo. Foi o 25º aniversário da Liga das Senhoras Católicas. Fundada pelo grande e saudoso D. Duarte, essa notável instituição tem prestado à Igreja ininterruptos e relevantes serviços, e constitui um título de glória para São Paulo e um modelo para todo o Brasil. Assim, compreende-se que os elementos de maior representação em número de pessoas de destaque em nossos círculos religiosos, sociais e intelectuais, se tenham prevalecido da oportunidade para manifestar à Liga das Senhoras Católicas sua admiração e estima.

No dia 22 foi celebrada Missa em ação de graças pelo acontecimento, na Matriz de Santa Cecília, a que presenciou elevado número de pessoas de destaque e representação. Foi oficiante o Exmo. Revmo. Sr. D. Antônio Alves de Siqueira, Bispo Titular de Aricanda e Auxiliar do Emmo. e Revmo. Sr. Cardeal-arcebispo D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota. À tarde, a condessa Amália Ferreira Matarazzo, presidente da Liga, ofereceu uma recepção em sua residência, a que compareceram o Exmo. Revmo. Sr. D. Antônio Alves de Siqueira, diretor eclesiástico da Liga, associadas, e demais elementos de nossa sociedade.

No dia 29, às 16  horas, realizar-se-á no Teatro Municipal uma sessão solene comemorativa, na qual o poeta Guilherme de Almeida recitará uma poesia sobre a obra da Liga, e a orquestra do Maestro Kaniefsky executará vários números. Falará por essa ocasião o Prof. Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, e a oração de agradecimento será feita pelo Exmo. Revmo. Sr. D. Antônio Alves de Siqueira.

Publicaremos em nossa próxima edição um noticiário pormenorizado sobre o assunto.

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Na França, a cessação das greves parece dar certa estabilidade ao governo Schumann. Assim, os comunistas, capitulando diante do MRP, evitaram que subisse ao poder o seu pior inimigo, que é o gen. De Gaulle. Ao que parece, esta tática agradou aos comunistas. Na Itália, estão eles investindo contra De Gasperi. Em conseqüência, toda a opinião anticomunista, que constitui a grande maioria, prestigia De Gasperi. E os comunistas evitam com isto a ascensão do Partido Monarquista que eles abominam. Na Inglaterra, igualmente, os comunistas romperam com os trabalhistas, que aparecem assim aos olhos do eleitorado como uma força conservadora. E, com isto, os trabalhistas procuram provar à opinião pública – cuja maioria é fortemente conservadora como provaram as últimas eleições – que Churchill não é seu anteparo único ante a onda comunista que cresce. Em outros termos, os fracassos comunistas na França, Itália e Inglaterra estão consolidando no poder não as correntes nitidamente anticomunistas destes países, mas as que no mapa político ocupam o meio termo entre o comunismo e o anticomunismo.

Seria preciso ser muito ingênuo para não vislumbrar nisto um ardil dos próprios comunistas.

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Por isto mesmo os comunistas vão exultar, verificando que a “Terceira Força”, remendo do MRP e do Partido Socialista, se está organizando na França, sob o pretexto de combater o comunismo, mas na realidade para evitar a ascensão de De Gaulle ao poder.

Não somos partidários do general, cujo programa positivo não conhecemos. É inegável, contudo, que a linha política que ele preconiza em relação ao comunismo é muito mais clara, lógica, prudente do que a desta “Terceira Força”.

É inegável também que, enquanto De Gaulle parecia fraco, os socialistas e o MRP praticaram sem rebuços a politique de la main tendue com os comunistas, e que, verificando que a opinião pública apoiava o general e sua política anticomunista, os socialistas e o MRP, fazendo do anticomunismo um expediente político para se conservarem no poder, romperam com seus aliados da véspera. Antes da vitória eleitoral de De Gaulle, eles preconizavam a conciliação. Agora, do modo mais inesperado aparecem como partidários da ruptura com Moscou. Por que? Quem não vê que o desejo de conservar o poder e de evitar a ascensão de De Gaulle tem uma correlação íntima com a nova tática dos elementos componentes da “Terceira Força”?

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Por que atacamos com tanta insistência a “Terceira Força”? Por um motivo simples, precisamente o mesmo pelo qual atacamos a política do guarda-chuva de Chamberlain. O espírito de Munique e a mentalidade da “Terceira Força” são absolutamente a mesma coisa. É um espírito de decrepitude e de morte, de otimismo [corte no original] de fraqueza e de leviandade. É o espírito com que Bisâncio se defendeu contra os turcos, e Luiz XVI contra a Revolução. É o espírito dos godos espanhóis por ocasião da invasão maometana, e de Kerensky em face do comunismo. É a mentalidade dos que resolvem os problemas fechando os olhos, adiando, protelando, permitindo que tudo se agrave, tudo piore, exclusivamente para não enfrentar hoje as dificuldades que serão inevitavelmente maiores amanhã.

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Pode-se, pois, imaginar com que desolação lemos a notícia de que a “Terceira Força” tende a transformar-se numa verdadeira internacional, englobando o trabalhismo inglês, o PDC italiano e outras correntes. Diante da Internacional russa, de aço e de fogo, teremos uma barreira de papel de seda, a pálida e frouxa internacional de sonhadores, de medrosos e de profiteurs, que fará ao mundo, nesta nova era de sua trágica história, todo o mal que fez na guerra passada a “quinta coluna”, conjugada com o “chamberlianismo”.

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Em nossa última edição, saiu truncada uma nota da redação desta folha. Trata-se de um tópico da bela oração que o Santo Padre Pio XII pronunciou na Basílica Ostiense, quando ali esteve distinguindo-a com sua visita por ocasião do XIV centenário do fundador da ínclita Ordem de São Bento. O tópico saiu na íntegra, mas faltaram algumas linhas da introdução com que o publicamos. Queremos esclarecer aqui que aquele tópico não pertence à Encíclica Mediator Dei, foi colocado como nota à mesma, para uso dos estudiosos, por esta redação, já que trata do mesmo assunto.