Revista "Catolicismo", n° 482, fevereiro de 1991 (www.catolicismo.com.br)

Em prol da Lituânia livre

TFPs EMPREENDEM VITORIOSA CRUZADA

Plinio Corrêa de Oliveira

Quando as tensões existentes entre a União Soviética e a Lituânia, em março do ano passado, se agravaram a ponto de conduzir a uma situação claramente conflitiva, poder-se-ia perguntar qual o alcance da agressão soviética, então levada a cabo. E a resposta seria: nenhum. Porque já anteriormente houvera conflitos sérios em outras regiões da URSS, como, por exemplo, no Azerbaidjão, e na Geórgia, as quais sofreram brutal repressão por parte do Kremlin.

São nações pequenas que, como toda etnia, têm, de si, um natural direito à própria independência. Desejavam escapar da colonização e também das fauces de um regime que lhes era imposto de fora para dentro, sem raízes no pensamento, na História e nas tradições nacionais. Regime, ademais, causador da espantosa miséria que a todas afligia.

Nada mais simpático, portanto, do que a causa da independência dessas pequenas nações. E o mundo presenciou desagradado a intervenção soviética em todas aquelas regiões. Apesar disso, entretanto, a repressão se consumou e a bota soviética continua até hoje a exercer sobre tais nações sua pressão humilhante.

Quando se deu a intervenção soviética na Lituânia, talvez se pensasse que ocorreria o mesmo que naquelas outras regiões, por serem análogas as circunstâncias.

Contudo, dá-se um fato diametralmente oposto: o mundo inteiro se interessa a fundo pela situação criada naquela nação báltica, apesar de a mídia não ter feito nenhum empenho especial em levantar contra o governo soviético a opinião pública.

Mas as TFPs e Bureaux-TFP, existentes em 20 países, souberam sentir a indignação espontânea, natural, autêntica, da opinião mundial, não suscitada artificialmente pela mídia como por mais ninguém.

Isso as TFPs o captaram a tal ponto, que ousaram um passo enorme: a promoção de um abaixo-assinado, que, se alcançasse um resultado pequeno, seria nocivo à própria Lituânia.

Daí resultou um efeito colossal. Por que razão o caso lituano levantou tanto mais os ânimos do que os outros casos análogos? Resposta: porque se deu num momento em que seu clamor se somava ao outro clamor – tão emudecido que parecia morto, mas que vivia na memória de todos – isto é o clamor das nações anteriormente esmagadas.

- "Agora mais uma? Depois mais duas? Mais três nações?! Nações às quais nos vinculam laços como o da comum pertencença à civilização ocidental, que reconhece o direito de cada povo a viver sua própria vida? Como não indignar-se vendo agora tais nações trucidadas pela brutal agressão soviética?"

Veio de tudo isso o desejo de dizer um basta a Moscou. Desejo que merecidamente ganhou muito em força de impacto, quando a admirável resistência lituana se foi desdobrando em atos de fé e de valentia, que tem deixado assombrado o mundo vil e utilitário de nossos dias. Desejo esse que desfechou na realização do monumental abaixo-assinado promovido pelas TFPs, que reuniu 5,2 milhões de assinaturas em 26 países.

Todo mundo sentiu que se tratava de uma mensagem para dizer ao Kremlin: "Desta vez, saiba que há no Ocidente quem brade: Pare! Pare porque isto nós não queremos mais presenciar de braços cruzados!" Isto explica a solidariedade de todos os signatários em relação à Lituânia.

No caso do Brasil e das muitas outras nações em que o abaixo-assinado se realizou, tal solidariedade é acentuada pelo fato de a Lituânia ser uma nação católica.

Constituiu-se ela, por primeira vez, em reino cristão, nos remotos idos de 1250, quando o rei Mindaugas abraçou a Fé e recebeu a coroa real do Papa Inocêncio IV.

Em 1322, o rei Gediminas apoiou intensamente as atividades missionárias dos franciscanos naquela nação. Em 1386, o grão-duque Jogaila desposou a herdeira do trono da católica Polônia, Edwiges, tornando-se, no ano seguinte, rei de um todo político constituído por duas nações, o que, por sua vez, favoreceu ainda mais a cristianização da Lituânia.

O apogeu político da Lituânia ocorreu no governo do grão-duque Vytautas (1392-1430), o qual deteve as hordas tártaras que ameaçavam invadir a Europa, e estendeu as fronteiras de sua pátria do Mar Báltico até o Mar Negro.

Vytautas, o Grande, foi eleito, no Concílio de Constança, chefe de todos os exércitos cristãos contra a invasão turca (1415).

Assim, o catolicismo, embora introduzido tardiamente, se consolidava. Para isto contribuiu o longo período de paz durante o reinado de Casimiro IV, grão-duque da Lituânia (1440-1492). Seu filho Casimiro (falecido em Vilnius, em 1484) foi inscrito pela Igreja no catálogo dos Santos como Padroeiro da Lituânia.

Nessas condições, o abaixo-assinado das TFPs é um aviso para os soviéticos e para Gorbachev: "Não esperai iludir-nos ainda mais com vossos manejos realizados pela exibição de falsas tendências moderantistas, quando alguns povos já estão prostrados em terra, como o Azerbaidjão e a Geórgia. E agora três outros começam a sangrar e a morrer em vossas mãos. Acabou-se, estamos descontentes! Sabei Gorbachev, sabei soviéticos: um descontentamento universal faz eco à voz das TFPs e vos diz: basta!"

É também esse "basta" para os Governos, cujas chancelarias tantas e tantas vezes ignoram a opinião pública em matéria de política internacional. Saibam tais Governos que entre os motivos de popularidade e impopularidade figura, com destaque, este: o que fazer diante do caso da Lituânia. E as TFPs se propõem a acompanhar o desenvolvimento dessa questão, e ir noticiando nos países onde o abaixo-assinado foi promovido (e, eventualmente, em outras nações ainda) como vai se desenrolando a agressão soviética.

E isso de maneira tal que, se a Lituânia – como também a Letônia e a Estônia – chegarem a perder efetivamente sua independência, haja um clamor universal ainda muito maior, que cause ao comunismo um prejuízo muito mais ponderável do que o lucro, tão relativo, que Gorbachev espera alcançar com o sacrifício dessas três vítimas inocentes.