A recordação das penas do Inferno, sempre oportuna em todos os tempos

Da obra “Guerreiros da Virgem – A RÉPLICA DA AUTENTICIDADE – A TFP SEM SEGREDOS“, Plinio Corrêa de Oliveira, EDITORA VERA CRUZ LTDA., Dezembro de 1985, Cap. VI, tópico 4

É certo que, já antes do Concílio Vaticano II, se fazia notar em muitos pregadores uma tendência a falar cada vez menos do Inferno. Tendência esta em uma mútua relação de causa e efeito com o desinteresse (quando não a antipatia crescente) de certo público mundano, ou então sofisticadamente “intelectualizado”, para com pregações sobre esse tema.

Não espanta. Pois o pecador é habitualmente infenso a que se lhe fale da punição de seus pecados, como o mau pagador evita conversar sobre suas dívidas. De outro lado, os pregadores imediatistas e utilitários evitam tratar de temas que desagradam seus ouvintes. Isto não obstante, continuam válidas para todos os homens, em todos os tempos, e em todos os lugares, as palavras da Sagrada Escritura: “Em todas as tuas obras lembra-te dos teus novíssimos, e nunca jamais pecarás” (Eccli. VII, 40).

Como se sabe, os novíssimos são: Morte, Juízo, Inferno e Paraíso.

Por isto, documentos do Magistério eclesiástico dos mais graves, tratados e sermões de teólogos, moralistas e pregadores dos mais eminentes, escritos de incontáveis Santos têm versado o tema per longum et latum, para o maior proveito dos fiéis.

Diz em outro lugar o Eclesiástico: “O temor do Senhor expulsa o pecado; quem não tem este temor não poderá ser justo” (I, 27-28). E ainda: “Não há coisa melhor do que o temor de Deus, e nada há mais doce do que observar os mandamentos do Senhor” (XXIII, 37).

A idéia de que o temor de Deus é o princípio da sabedoria, aparece não menos que sete vezes nas Sagradas Escrituras (Ps. CX, 10; Prov. I, 7; IX, 10; XV, 33; Eccli. I, 16; I, 25; XXI, 13).

Em princípio, pois, falar sobre as penas do Inferno, usando, ao fazê-lo, de proporcionada insistência, só pode ser benfazejo.

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Estátua de Santo Afonso Maria de Ligório na Basílica de São Pedro (Vaticano)

São famosas, por exemplo, as missões populares organizadas por Santo Afonso Maria de Ligório, e postas em prática na Igreja pelos Redentoristas, com grande concurso de povo, pelo menos até o fim da chamada “era pré-conciliar”. Segundo as normas de Santo Afonso, os pregadores deveriam dirigir-se às ruas e praças no cair da noite e exortar o povo a comparecer à Missão. O próprio Santo traça as normas de como devem ser feitas essas “exortações noturnas”:

“Sem estas exortações, pelo menos nos primeiros quatro ou cinco dias, ver-se-á a igreja freqüentada apenas por aqueles que menos necessitam da Missão. A experiência tem demonstrado com evidência que as exortações da noite conseguem de modo maravilhoso acordar essas almas preguiçosas e levá-las à Igreja.

“Essas exortações, é de se notar, devem ser de curta duração e até mesmo bem curta, não devendo ir além de quinze minutos. ….

“Serão feitas em tom veemente, não faltarão aí palavras de terror, que firam com freqüência o coração e os ouvidos dos assistentes. ….

“Não devem elas terminar com o ato de contrição, mas sim com uma sentença aterradora. ….

“É bom retornar sempre ao argumento, assim: “Ouviste, pecador? Se vens ao Senhor, tu o encontrarás clemente e misericordioso; se recusas seu abraço paternal, Ele te fugirá, não te chamará novamente…’ ….

“Finalmente se conclui com uma sentença aterradora, que deve estar em conexão com o argumento, com a proposição. Sentença curta em termos graves, aterradores, que façam profunda impressão e toquem o coração do ouvinte. Por exemplo: “Treme, pecador, treme! Quiçá esta noite ainda Deus te mandará a morte, quando não queres mudar de vida! E serás assim um condenado!’ Ou: “Geme, lamenta teus pecados, faze-o agora para não o teres que fazer na eternidade!’ Ou: “Continua, na tua vida desregrada, continua a ofender a Deus; escuta, porém: no Vale de Josafá hás de ouvir a sentença de Jesus Cristo: Ide, malditos, para o fogo eterno…’ Poder-se-á terminar também com as palavras do cântico, caso elas se prestem a isso, assim:

“De um dia para outro? Assim morres, pecador!” (Santo AFONSO MARIA DE LIGÓRIO, Os exercícios da Missão, Vozes, Petrópolis, 1944, pp. 9 a 14).

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