A TFP explicada por Dr. Plinio: a essência da vida nesta terra é o cumprimento dos Mandamentos

Santo do Dia, 20 de julho de 1985 – Sábado

 

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de Catolicismo, em abril de 1959.

 

“O homem não nasceu para ser rico, não nasceu para ter saúde, não nasceu para isto, para aquilo, senão na medida em que ele possa praticar os dez Mandamentos da Lei de Deus e os cinco Mandamentos da Igreja. O ponto importante é este. Fazer uma viagem, gozar as férias… não tem importância. O que tem importância é isto!”
Como influenciar de modo benéfico toda a sociedade? O Padre não pode estar presente em todo lugar, não é possível. Então, como fazer para salvar as almas onde não está o sacerdote?
Em conferência para encerramento de simpósio de jovens da TFP brasileira (Santo do Dia de 20 de julho de 1985), o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira explanou sinteticamente sobre as metas e os métodos da entidade por ele fundada e cujos ideais se irradiaram pelos cinco continentes.
Para outras exposições relativas à TFP, consulte, por exemplo, as seguintes:

* Entrevista concedida a jornalista do “The Tablet” e “Finantial Times”

* Qual é o papel do Clero e dos leigos? O que a TFP é e pretende ser no futuro? – Dr. Plinio responde

* A missão dos Correspondentes-Esclarecedores da TFP – Se simplesmente os bons tivessem consciência do momento atual e se unissem, eu afirmo que seria a letra maiúscula de um capítulo de ouro cuja palavra final seria vitória!

* O que eu sou? O que devo fazer? Para onde vou? Qual é meu rumo? – Procure salvar MUITAS almas! – Conferência de encerramento de dias de estudos e entretenimentos para jovens que estão se aprofundando no conhecimento do ideal e da vocação da TFP

* Mentalidade TFP e a de uma boa Pia União de Filhas de Maria – Sempre esperei enfrentar grandes polêmicas doutrinárias… E ainda espero!

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Meus caros, vamos então conversar sobre a TFP.
Em primeiro lugar, vamos tratar do seguinte ponto, que é fundamental para se entender o que é a TFP: os senhores já ouviram falar evidentemente, mesmo os “enjolras” mais “enjolras”, já ouviram falar nos Dez Mandamentos da Lei de Deus.
Os senhores sabem que esses Mandamentos foram revelados por Deus ao povo judaico, no alto do Monte Sinai, que foram gravados numa pedra e levados por Moisés para os judeus cumprirem. Isto ficou para todo o sempre.
Quando, séculos depois, nasceu Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnado no seio puríssimo de Maria Virgem por obra do Divino Espírito Santo, quando Ele veio à terra disse a respeito dos Mandamentos o seguinte: que Ele não veio para modificar a Lei, nem para destruí-la; Ele veio para que a Lei fosse cumprida e levada à sua perfeição. Depois Ele acrescentou Seus próprios ensinamentos aos ensinamentos que Moisés e os profetas do Antigo Testamento haviam recebido.
Considerando o conjunto da Revelação feita no Antigo Testamento e da Revelação feita por Ele no Novo Testamento, estava feita a Revelação oficial, e estava marcado para todo o sempre o ensino dEle e da Santíssima Trindade. Portanto, esse conjunto de ensinamentos é perpétuo e definitivo: “Passarão o Céu e a terra, mas Minhas palavras não passarão”, disse Ele.
Ele disse também a São Pedro: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra Eu edificarei a Minha Igreja. E as portas do inferno não prevalecerão contra Ela. Eu te darei as chaves do Céu, e o que ligares na terra será ligado no Céu, o que desligares na terra será desligado no Céu”.
Os Dez Mandamentos, que vão ser objeto de nossa atenção especial no momento, se resumem em dez princípios.
Outro dia, eu vi uma lei número 84 mil e não sei quanto, aqui no Brasil. Mas a numeração atual está muito mais longe; essa foi a que me caiu na mão. E é a numeração da lei federal para o Brasil inteiro. Além disso, cada Estado tem suas leis próprias, e depois cada município tem suas leis próprias. Quantas leis carregam os brasileiros? É uma pirâmide de leis, que cada um de nós carrega nas costas. E assim é com todos os Estados contemporâneos.
Apesar disso, a gente olha em torno de si e não encontra ordem. Tudo está torto e todo mundo está descontente. Para cada novo descontentamento, um “tiro de fuzil”, que é uma nova lei. A nova lei é mais um peso para a gente carregar… Onde vai parar isso?
* Se todos os homens cumprissem os Dez Mandamentos…
Se todos os homens cumprissem os Dez Mandamentos, grande número dessas leis se evaporaria por desnecessidade. E como o mundo seria perfeito!
Santo Agostinho, que viveu ainda antes da queda do Império Romano do Ocidente, na cidade de Hipona, no norte da África, e que é um grande Doutor da Igreja, dizia o seguinte: Imaginem um país onde o rei cumpra os Dez Mandamentos e todo o povo também; imaginem um lar onde o pai cumpra os Dez Mandamentos, a mãe também e todos os filhos; imaginem uma escola onde todos os professores cumpram os Dez Mandamentos e os alunos também; imaginem um exército onde todos os oficiais cumpram os Dez Mandamentos e os soldados também; imaginem os Dez Mandamentos observados em qualquer campo da atividade humana.
Imediatamente entra ali uma coisa chamada a perfeição. A organização torna-se exímia e tende a ser perfeita, desde logo. Enquanto os Mandamentos forem cumpridos, os frutos serão os melhores, os mais excelentes, os mais magníficos. Isto se chama a ordem.
Essa ordem foi levada à sua plenitude por Nosso Senhor Jesus Cristo. E Ele deu aos homens a força necessária para pô-la em prática. Os Dez Mandamentos são muito bonitos, empolgam. Cada um deles é lindíssimo: “Não matarás… Amarás a Deus sobre todas as coisas… Não tomarás Seu santo nome em vão etc. Tudo é lindíssimo! A gente começa a cumpri-los, é uma beleza!
Daí a algum tempo, que peso! Porque é difícil cumprir os Mandamentos. É tão difícil cumpri-los, que a Igreja até ensina o seguinte: que nenhum homem é capaz de cumprir os Dez Mandamentos duravelmente, sem o apoio de Deus. Só por si, não há um só homem capaz de cumpri-los. Esta é a verdade.
Os homens só são capazes de cumprir os Dez Mandamentos se a graça de Deus os ajudar. Mas Deus dá essa graça a todas as criaturas. E, por causa disso, todos têm a possibilidade de cumpri-los. Quando não cumprem os Mandamentos, pecam, porque tinham possibilidade de cumpri-los. Quando os cumprem, vão para o Céu; quando não os cumprem, vão para o inferno.
Então, a desventura eterna sem remédio, no inferno, ou a felicidade celeste, a felicidade na terra, a perfeição moral, a tranquilidade de consciência, tudo resulta de os homens cumprirem ou não os Dez Mandamentos. A moral católica é um desdobramento, é uma explicação dos Dez Mandamentos.
Os senhores compreendem que, muito naturalmente, é do interesse, é da conveniência do demônio, que quer perder todas as pessoas, fazer com que sua obra de tentador leve os homens a violar os Mandamentos. É claro.
E está na bondade, na sabedoria de Deus, na glória dEle, ajudar todos os homens a praticarem os Dez Mandamentos. E aqui na terra há uma luta perpétua: no centro estão os homens, de um lado os Anjos e os Santos, Deus Nosso Senhor; do outro lado, os demônios.
No fundo está Satanás, em cuja boca Dante Alighieri imagina — o demônio de fato não tem boca, porque é um puro espírito; é uma imagem poética de Dante — ele imagina que está metido, por toda a eternidade, o asqueroso dos asquerosos, o nojento dos nojentos: Judas Iscariotis, o vendilhão.
Segundo a imaginação de Dante, Judas estaria metido na boca imensa de Satanás, com a cabeça para dentro e as pernas para fora, e Satanás eternamente mastigando Judas. Satanás sentindo eternamente o mau gosto da traição na boca, e Judas eternamente mastigado pela revolta. A traição e a revolta espumando e brigando uma com a outra, nessa mastigação eterna…
*A essência da vida do homem na terra consiste em praticar os Dez Mandamento de Deus e os Cinco Mandamentos da Igreja
A essência da vida do homem na terra é praticar os dez Mandamentos de Deus e os cinco Mandamentos da Igreja. Porque tudo na terra irá bem se for assim, e porque depois ele vai para o Céu. Isto é a razão de ser da vida.
O homem não nasceu para ser rico, não nasceu para ter saúde, não nasceu para isto, para aquilo, senão na medida em que ele possa praticar os dez Mandamentos da Lei de Deus e os cinco Mandamentos da Igreja. Esta é a razão de ser do homem, o ponto importante é este. Fazer uma viagem, gozar as férias, não sei o quê… não tem importância. O que tem importância é isto.
Agora, o que procuram Deus, Seus Anjos e Seus santos, agindo sobre os homens? O que procuram Satanás e seus sequazes, agindo sobre os homens?
Vamos imaginar, por exemplo, um “projeto de enjolras”, um menino de 7, 8, 10 anos, um “enjolras” em semente. Ele passa diante de uma confeitaria, onde estão expostos doces deliciosos, e pensa: “Como seria bom comer isso!” Fica com vontade. Olha e vê que o dono da confeitaria está pensando em outra coisa, está de costas, e que ele pode passar a mão naquilo sem ninguém notar. É uma delícia… Mas não pode pegar, porque é roubo! Ele vê que aqueles doces estão uma maravilha, mas não pode roubar, porque é pecado.
Vem então o demônio e atua sobre a cabeça dele: “Olhe que beleza! Olhe aqui!” Não sei qual é o doce de que cada um dos senhores gosta mais. Nem sei mais se os doces têm hoje os mesmos nomes que tinham no meu tempo de criança. Não sei se conhecem um doce chamado éclair. É uma espécie de tubo comprido com creme dentro, e em cima revestem com açúcar colorido. É uma coisa muito gostosa.
Então o demônio diz a ele: “Olhe aquele creme que está dentro… e essa massa que ladeia está deliciosa!…Lembra-se daquele outro que você comeu, como é bom?” E aviva isso na cabeça dele. Depois continua: “Olhe aquele cor-de-rosa em cima, que coisa atraente! Olhe aqui, passe a mão… ninguém vê. Você sai comendo, vai para a rua comendo. Já justificou a sua tarde, você gozou alguma coisa”. O demônio não fala, ele não tem voz, mas faz o sujeito sentir isso.
Vem um Anjo, o Anjo da guarda do menino, ou o seu santo protetor, e diz: “Que coisa horrível, você sendo ladrão! Você violar a Lei de Deus: não cobiçarás os bens alheios, não furtarás! Você está cobiçando uma coisa que não tem dinheiro para comprar. Você não precisa, é para seu mero regalo. E, de outro lado, pertence a outro. O outro faz para ganhar dinheiro, para ele e a família dele. Como é que você se apropria disso? Por que  não comeu em sua casa à vontade? Sua mãe ainda insistiu com você para comer, e você disse que não tinha vontade, porque estava com pressa de sair. E agora você vai comer esse negócio, vai roubar?” E continua: “Olhe que beleza a consciência tranquila! Deixe esse éclair de lado e vai andando. E você venceu o demônio!”
*O homem fica como um pêndulo, atraído para o bem e para o mal
O homem é livre. Ou ele pratica o bem, faz uma boa ação e cresce em santidade, e Deus lhe manda novas graças, ama-o de modo especial; ou ele peca e come o éclair.
Imediatamente depois que ele roubou e comeu o éclair, o demônio diz alguma coisa para o mal dele. Porque depois de ter arrastado o projeto de “enjolras” para o pecado, ele acrescenta: “Ih… você agora pecou! Você é um ladrão! Para você não tem mais remédio, está perdido. Já pensou: com dez anos e já é ladrão? O que você vai ser daqui para o futuro? Você não é mais nada. Goze a vida! Coma mais um éclair!”
Vem o Anjo e diz: “Vá se confessar depressa. A sua alma ficará limpa. Peça perdão a Nossa Senhora, faça uma pequena penitência que o Padre manda fazer e esqueça isso. Deus, na Sua misericórdia, a rogos de Nossa Senhora, o perdoará. Passe a tarde de domingo pensando em outra coisa”. O menino aceita ou não aceita. E assim vai.
Mas o demônio muitas vezes não age sozinho. E muitas vezes também, Deus Nosso Senhor, Nossa Senhora, Seus Anjos e Seus santos não agem sós. Eles agem por outros homens.
O demônio sopra para outro menino que está lá perto: “Está vendo aquele? Veja como ele vai roubar… Por que você não rouba também? Olhe lá, preste atenção no jeitão dele: vai se aproximando, fingindo que está procurando uma coisa, olhe a mão dele que entra na prateleira onde estão os éclairs e tira um. Felizardo! Olhe a cara contente dele. Ele se esgueirou para fora da confeitaria e vai comer naquele canto. Olhe lá, comeu. Olhe como está gostoso. Você não quer um?”
– “Eu tenho medo”.
– “Vai e converse com ele. Diga a ele que você achou muito engraçado e peça que lhe ensine como se faz isso”.
O menino vai lá, se apresenta para o outro: – “Como é? Você comeu esse doce, hein?! Formidável você! Como é que a gente faz para tirar?”
O outro fica “mega”. Depois do pecado do roubo, vem o pecado da megalice:
– “Isso eu faço muitas vezes, eu vivo disso!”
Na verdade, ele vive do trabalho honesto do pai dele e das economias da mãe.
– “Ah, é formidável! Então vamos fazer uma coisa: vamos roubar alguns doces em algumas confeitarias hoje à tarde!”
O demônio age sobre um, sobre o outro, e os dois vão ficando piores.
Também pode acontecer o contrário. O anjo da guarda faz o menino ali olhar e diz: – “Olhe o coitado, ele está tentado. Antes que ele tire outro éclair, chegue lá perto e converse com ele, fale um pouco, tire da cabeça dele essa história do éclair. Conte para ele uma história interessante, convide-o para fazerem um passeio juntos. Aborde-o, você que é da TFP.”
O menino vai e aborda o outro. Quando chega a noite, aquele ladrãozinho se confessou, está perdoado. E de noite, em casa, quando vai se deitar, ele tira o seu primeiro terço do bolso, oscula-o e põe aqui no bolso do pijama. Houve uma mudança na vida dele.
 * Deus atua sobre os homens através de outros
Isso é assim entre os meninos. Mas com os homens adultos não é assim. Com os homens adultos, a coisa é muito mais séria. O homem adulto, quando tem virtude, ele não gosta dos que pecam, sente-se mal junto aos que pecam. Ele quer fazer bem aos que pecam e, por causa disso, procura tirá-los do pecado. Mas, viver na camaradagem com os que estão ligados ao pecado, incomoda a ele. Ele não pode ver a Lei de Deus violada, fica profundamente irritado, profundamente aborrecido com isso:
A glória de Deus, onde fica?! Deus tem direito a tudo e aquele O ofende?!
Ele não pode ouvir outros dizerem palavras impuras, sem que seu pudor se irrite com isso.
Mas, de outro lado, o impuro não pode ver um amigo dele nunca se gabar de que esteve num lugar bom, não pode ver o amigo viver sempre com a boca limpa e com as maneiras de gente que é pura.
Resultado: sai briga. E então os adultos se organizam. Há alguns que organizam grupos de homens para levar outros homens para a perdição. E outros se organizam para levar grupos de outros homens para o Céu. E entre essas duas posições há uma batalha.
É uma batalha intensa, porque em geral é a batalha do exemplo, a batalha da palavra, do argumento, da influência. Quem tem mais convicção, melhores argumentos etc., tem mais possibilidade de levar o outro. É claro. Embora Deus sempre nos ajude contra os que são piores do que nós, nós podemos ser muito tentados pela influência de um outro e deixar nos arrastar.
Então há uma batalha entre dois exércitos, que são visíveis e invisíveis. Visíveis na terra, de homem a homem; invisíveis, porque atrás de uns luta o Céu, atrás de outros luta o inferno. Dentro de cada um lutam o Céu e o inferno. A todo momento o demônio solicita para o mal, a todo momento a graça de Deus está convidando para o bem. E a todo m
omento, no marcador de segundos de um relógio, nós estamos dizendo sim ou não a essa grande batalha. Queiramos ou não queiramos, é assim.
Há uma categoria de gente que sabe disso e não se incomoda, vive como se nada disso fosse real. É gente que tem pouca fé, duvida, não toma a sério, acha incômodo isso, quer viver como quer. Isso forma a grande maioria das pessoas.
* Entre os dois exércitos, a terra de ninguém a ser conquistada
Há os que batalham para o bem, os que batalham para o mal e os que não batalham nem para o bem nem para o mal, gozam a vida. Há, portanto, uma terra de ninguém.
Os senhores sabem o que é uma “terra de ninguém” entre dois exércitos: entre a linha de combate de um e a linha de combate de outro, no momento em que eles estão lutando, há uma faixa de terra chamada “terra de ninguém”. Entre o exército do bem e o exército do mal, existe uma terra de ninguém enorme, que é essa gente aí. E trata-se, para aquele que ganhar a partida, em algum sentido da palavra, trata-se de levar mais gente da terra de ninguém para o seu próprio lado.
Nós somos os soldados de Deus, os soldados de Nossa Senhora, os guerreiros da Virgem! E temos por missão tirar do mal esses maus e conquistá-los para Nossa Senhora. Isto é difícil. E temos por missão entrar na “terra de ninguém” e levar esses que estão indecisos e irresolutos para o bom caminho. Isto é menos difícil.
Para não remontar muito longe, nós podemos dizer que há 500 anos se trava uma batalha assim no Ocidente. Primeiro, a Religião verdadeira Católica Apostólica Romana, em luta com uma religião falsa, a religião protestante. Os bons hábitos da Igreja Católica e os defeitos inoculados pela religião protestante, luta de católicos contra protestantes.
Depois arrebenta uma outra coisa pior, 200 anos depois de Lutero, que é a Revolução Francesa. A Revolução Francesa quis fazer no terreno político o mal que o protestantismo fez no terreno religioso. Foi uma espécie de protestantismo político.
E depois nós temos uma coisa pior, filha da Revolução Francesa e neta do protestantismo, e que é o mal levado ao último ponto: é o comunismo. Também aqui estou simplificando muito os traços gerais.
O comunismo é uma escola de pensamento que é o contrário da Religião Católica. Dessa escola de pensamento eles deduzem, por meio do raciocínio, uma moral que é o contrário dos Dez Mandamentos. E dessa moral decorre uma organização do Estado que é o contrário do Estado católico, é a negação completa da Religião Católica.
Em matéria de religião, o que dizem os comunistas? – “Não há Deus.” Em matéria de filosofia, o que eles dizem? – “Não há alma humana, é tudo matéria”. No que diz respeito à história do mundo, eles dizem: “Como não há Deus, não é Deus que governa o mundo. Há um impulso inicial na terra, que existiu desde sempre; não houve Deus. Esse impulso leva a terra sempre a melhorar, e tudo vai cada vez melhor”.
Mas esta “melhora” consiste em “libertar” os homens dos Mandamentos, para que eles gozem mais a vida. É um dos aspectos da evolução de todas as coisas continuamente.
“Nós caminhamos para uma ordem de coisas — dizem eles — em que não vai mais haver nem sequer governo, nem sequer país, nem sequer família“. Os homens vão viver como certas espécies animais no pasto. Eles se reproduzem e vivem soltos por aí.
Aliás, os animais quase todos são assim. Quer dizer, um macho e uma fêmea têm uma cria, nasce um passarinho, por exemplo. Quando ele sabe voar, ele voa do ninho paterno e nem mais toma em consideração quem é seu pai ou sua mãe. Ele vai ter filho com o próprio pai ou com a própria mãe. Aquilo vai tocando como pode; é a bicharada. Na lei dos bichos está bem. Não para o homem, que é animal racional.
Os comunistas então imaginam que, de melhora em melhora, haverá um momento em que o homem será tão bom, que não precisará mais de governo, não precisará mais de Deus. E viverá como quiser, à vontade, e que essa é a ordem perfeita.
Os senhores tomando como ponto de partida a Revelação do Antigo Testamento e depois toda a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, e comparando com o que ensina o marxismo, verão que é o contrário. Há dois exércitos: o dos bons e verdadeiros católicos apostólicos romanos e o dos comunistas. Uns querem puxar para um lado, outros querem puxar para o outro lado.
Esses dois grupos não são, necessariamente, exércitos com arma na mão. Os bons têm a mente, o zelo, a língua, o estudo, o argumento, o bom exemplo, têm a irradiação da virtude, que impressiona tanto. Eles lutam por Deus. Os outros lutam pelo demônio.
Nesse mundo de indiferentes que há por aí, a batalha se trava entre uns e outros. Essa batalha, Deus já a previu quando houve a maldição depois do pecado original: “Eu porei inimizades entre ti e a Mulher, entre a tua posteridade e a posteridade dEla, e Ela te esmagará a cabeça”. Quer dizer, haverá uma inimizade eterna entre Nossa Senhora e a descendência espiritual dEla, de um lado, e o demônio e os filhos malditos dele, de outro lado. Mas Nossa Senhora esmagará a cabeça da serpente!
São Luís Grignion de Montfort, um missionário do século XVIII na França, um dos nossos grandes padroeiros, faz esta observação muito aguda: Deus nunca faz uma inimizade, mas tudo quanto Ele faz é bem feito. E a única inimizade que Ele fez foi entre Nossa Senhora e o demônio, entre os filhos da Virgem e os filhos do demônio. Essa inimizade divide a História de ponta a ponta. 
* Para a batalha de Deus, Ele instituiu a Santa Igreja Católica
Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu a Igreja e organizou-a com Papa, Bispos e Sacerdotes. Depois constituiu-se, durante a vida da Igreja, por sopro da graça, o estado religioso, pelo qual alguns sacerdotes, algumas damas vão viver em conventos; fazem votos de obediência, castidade e pobreza, para cumprir durante toda a vida. Entregam toda a sua vida para fazer o bem.
O Papa, os Bispos e os Padres são a Hierarquia da Igreja. Eles dirigem a Igreja, têm, em graus diversos, a missão de ensinar qual é a verdadeira doutrina católica, de governar os católicos para se salvarem e salvarem os outros, e de santificar, distribuindo os Sacramentos, por onde os católicos recebem a graça. Isso é o que eles devem fazer.
Agora, nós leigos temos um encargo: é de, no mundo onde vivemos, prolongarmos a ação deles, lutarmos pela prática dos Mandamentos. Cada um, na situação em que está, na posição que tem etc., deve lutar para a prática dos Mandamentos e para combater o mal.
Lá por 1928, tinha vinte anos um homem nascido em 1908. Esse homem viu com clareza tudo isso que estamos comentando aqui e considerou, com desolação, que havia bispos, padres, freiras, havia o Papa no alto da Igreja, mas quase não havia quem, dentro da sociedade civil, desse o bom exemplo e lutasse.
A situação na qual ele se encontrava era esta: no domingo se enchiam as igrejas, todo mundo assistia a Missa, parecia muito bom. Chegando fora, já na hora da dispersão, começavam os pecados. Durante a semana, ninguém mais rezava, ninguém mais se lembrava de Deus, nem nada. No domingo, iam como cordeirinhos para a igreja de novo…
Agora, o padre não pode estar presente em todo lugar. Não é possível. Seria preciso haver tantos padres quanto há homens, não é possível. Então, como fazer para salvar as almas nos lugares onde não está o padre? É estar lá, pregar, ensinar e lutar.
 * A “pontaria” da Contra-Revolução e descobrir o “sumum” do mal e fazer a luta contra ele
Se um homem tem que lutar contra um exército e vê que ele e os amigos dele são pouco numerosos, o problema é fazer a melhor pontaria possível, senão está perdido. Assim mesmo é difícil. Só por milagre ele ganhará, quanto mais se não fizer pontaria.
Qual é a “pontaria” da Contra-Revolução? É escolher o “sumum” do mal e fazer a luta contra ele: a luta contra o comunismo e contra uma espécie de variante do comunismo: o socialismo. Essa luta tem que ser feita em nome da doutrina católica por homens que não são padres, homens que lutam no campo temporal, porque do contrário não há quem lute nesse campo. Então, a TFP é uma organização civil.
Mas é organização civil por quê? Porque ela luta no campo civil, no campo da vida de todo mundo e luta para uma finalidade civil, que é evitar uma deformação do Estado brasileiro, evitar que o Estado brasileiro caia nas garras do comunismo. Como o brasileiro, o argentino, o chileno, ou de qualquer outro país, o mundo inteiro.
E essa organização civil move-se pela doutrina da Igreja. Ela vai aprender na Igreja o que a Igreja ensina, para aplicar no campo civil. Ela é filha amorosa da Igreja.
Acontece que essa organização, além de ter a necessidade de acertar a pontaria, precisa que os que têm armas, o tempo inteiro estejam atirando, senão o adversário avança…
Os senhores imaginem, por exemplo, uma torre do alto da qual estejam homens com fuzis. Essa torre tem, por exemplo, cem homens dentro dela e tem no alto vinte atiradores de primeira ordem. Esses atiradores têm que descansar, mas enquanto eles descansam, as armas não podem descansar, porque o exército oposto é de centenas de milhares. E quando uns são liquidados, outros avançam, e noite e dia estão procurando conquistar a torre. Então, as armas dos defensores da torre não podem descansar.
O que é que eles têm que fazer? Eles têm que, noite e dia, estar atirando. Quando uns vão descansar, outros entram no posto. De maneira que os homens descansam, os fuzis nunca. Para isso ser bem feito, o que é que se deve fazer?
Imaginem que pelo mato, perto da torre, existam alguns que são obrigados a trabalhar no mato para manter a família. São lenhadores, são caçadores, têm que trabalhar para manter a família. Mas dizem aos da torre o seguinte: “Nós temos algum tempo livre, mas não podemos ir morar na torre com vocês, porque do contrário nossas famílias morrem de fome. Nós temos obrigações para com elas. Mas vocês querem que, de dentro do mato, de vez em quando nós demos uns tirinhos também?”
Respondem os da torre: “Fenomenal! Atirem também, porque é muito bom! Mas o grosso da coisa é conosco, porque nós resolvemos morar na torre.”
O que é morar na torre? Morar na torre – uma torre psicológica, evidentemente – é morar nas sedes da TFP, onde se dorme, se come, se reza e se passa o dia inteiro trabalhando pela TFP. Quando se é maior de idade, vai-se para lá. Quando se é menor de idade, não. É preciso licença paterna, sem a qual entra em função o Juiz de menores e agarra o menor; não pode ser. E é por isso que, para um “enjolras” ir morar na sede, tem que ter licença paterna arquivadinha. E eu já disse isso em jornais para os nossos adversários. E por isso eles não mexem conosco neste ponto.
Mas, para obter a licença paterna, é preciso fazer sentir aos pais que a gente não deixa a casa porque não ama a casa, não deixa a companhia deles porque não ama a eles. Mas que a gente vai para um lugar onde se pode fazer um bem maior.
Nossa posição é a seguinte: se o comunismo tomar conta do Brasil, está perdida a independência do Brasil, ele passa a ser governado por Moscou. Se amanhã um país vizinho do Brasil quiser tomar uma ponta do território brasileiro, o governo pode convocar milhões de rapazes brasileiros, a partir dos dezoito anos e até antes, para ir lutar. E é uma obrigação, porque pela independência da pátria se faz tudo.
Mas, nós lutamos tanto ou mais do que um soldado, porque nós defendemos da pátria esse território chamado cabeça. No dia em que o comunismo tiver tomado conta das cabeças, ele terá tomado conta do país.
 * Defendendo a mente de cada brasileiro, nós defendemos a independência nacional
Não quer dizer que os senhores tenham com isso o direito de deixar a casa para ir morar na TFP sem a licença deles. Mas é preciso que eles compreendam que um rapaz que deixa a casa para atender à convocação do país, não é que não queira a casa, é que ele tem uma obrigação mais alta. É preciso que eles compreendam isso e aplaudam esse belo gesto dos senhores.
E para compreenderem isso, é preciso saber explicar. Para saber explicar, não basta ouvir só uma conferência, é preciso aprender. Para aprender, é preciso que na Sede da Saúde, onde se explicam tantas coisas excelentes, também isso se explique.
Então, essa organização feita para combater o comunismo, para defender a Civilização Cristã, para defender a Lei de Deus, para que Nossa Senhora calque cada vez mais a raça de Satanás, é preciso que tenha sedes onde a gente se reúna, estude, adquira bons amigos, onde a gente tome deliberação de lutar – uma luta ideológica – por esta causa; lutar mais ou lutar menos.
Os que querem lutar menos, podem ter suas justas razões. Vão se casar, vão ser correspondentes esclarecedores da TFP. Os correspondentes-esclarecedores são os combatentes no mato, que dão seus tiros. Vamos ter agora um Congresso deles. Os senhores vão ver o Congresso, vão vê-los, vão sentir o entusiasmo deles, o deslumbramento, o calor deles. Mas o que dá calor a eles é saber que os senhores, que todos nós estamos na torre. Então é um outro aspecto da TFP. É uma reunião de gente que forma outros para morarem na torre e utilizarem a torre.
 Eu volto a dizer: é muito bobo, é poca quem pensa que isto se faz exclusivamente ou principalmente com as armas. Se o comunismo agredir com armas, nós pedimos ao governo armas para defender o país, é fora de dúvida. Se, muito mais perigosamente, ele agredir pela mente, nós estamos aqui na estacada!
O essencial dos essenciais essencialíssimos está descrito. Isto é a TFP — Tradição, Família, Propriedade.
 * Tradição, Família, Propriedade, por quê?
Porque o comunismo é sagaz. Ele gostaria de lançar todo mundo diretamente no abismo dele, mas sente que não vai. Então ele quer abater três barreiras: a tradição, a família e a propriedade.
Ele não quer que haja mais tradição e quer que todo mundo abandone os exemplos gloriosos do passado.
Ele quer que não haja mais família, porque a família é um baluarte contra o comunismo. Ele quer o amor livre, quer as relações entre homem e mulher como de cachorro, ou gado no pasto. A família monogâmica, um só esposo fiel à sua esposa, uma só esposa fiel ao seu esposo, o comunismo não pode querer isso. Então ele quer a família deformada, com marido impuro, mulher impura, televisão porca ligada o dia inteiro dentro de casa, palavrões, que os senhores mais ou menos terão visto. Ele quer com isso acabar com a família; é evidente.
A propriedade privada, a propriedade individual corresponde a dois Mandamentos da Lei de Deus: “Não furtar” e “Não cobiçar as coisas alheias”. Cada um trabalha para si, para sua família. Com isso lucra o governo, porque se cada um cuida de si, o conjunto anda bem. Também estou simplificando enormemente, mas é assim.
Tradição, Família e Propriedade são as três instituições que nós defendemos para barrar o caminho do comunismo. Tradição, Família e Propriedade formam TFP. O resto, em uma outra noite, em uma outra ocasião nós explicaremos, se Deus quiser.

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