A única coisa elogiável que eu encontrei em minha vida é a Igreja Católica! Santo Odilon de Cluny (1) – Sua festa se comemora no dia 1o. de janeiro

Santo do Dia, s/d, mas antes do dia 23 de setembro de 1972

 

A D V E R T Ê N C I A

Trechos de gravação de conferência do Prof. Plinio a sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

 […] de Santo Odilon, à guisa de introdução para o Santo do Dia  talvez de sábado, uma coisa assim.

Esta ficha de Santo Odilon é uma ficha magnífica! Já mais de uma vez eu tentei começar a ler e comentar aqui com os Srs., mas sempre por uma circunstância ou outra eu não posso levar o comentário até onde eu queria.

Mas cada época tem os seus grandes homens característicos. Santo Odilon foi um grande homem característico da Idade Média.

Quer dizer, um grande homem no sentido verdadeiro da palavra, no qual nós notamos a conjunção de um lado, de uma santidade eminente, e de outro lado qualidades de caráter extraordinárias, qualidades pessoais extraordinárias.

Via-se que ele era um homem de grande valor pessoal, no plano humano, adornado por graças sobrenaturais incomparavelmente mais preciosas do que qualquer valor pessoal. E que isto tinha uma amplitude e uma grandeza de aspecto, uma harmonia, que os senhores não encontram nos grandes homens do tempo da Revolução.

É interessante também acompanharmos a vida, a descrição da personalidade de Santo Odilon porque nós veremos ali mais uma vez a tese que nós demonstramos por ocasião dos comentários de Nossa Senhora de Jasna Gora.

Quer dizer, é patente que se Santo Odilon vivesse em nossos dias seria um ultramontano de primeiríssima força! E é patente por aí que todas as figuras verdadeiras, autênticas da Igreja constantiniana, portanto, da Igreja Católica “tout court” [propriamente dita, n.d.c.], que é a mesma coisa; que todas essas figuras, máxime os santos em que Ela empenha a Sua infalibilidade declarando que eles foram perfeitos no seguimento do espírito, na posse do espírito dEla e na observância da Lei dEla ── todos eles são, de um modo ou de outro, contra-revolucionários perfeitos.

Essa tese nos fará amar cada vez mais a Igreja e compreender o nexo vital, profundo, insubstituível entre a Santa Igreja e a nossa vocação. E por isso eu desejo desenvolvê-la com toda a atenção.

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Sede São Milas, sábado, 23 de setembro de 1972, Santo do Dia

Hoje é festa de Nossa Senhora Medianeira de todas as graças. Amanhã é a festa de Nossa Senhora das Mercês. Originariamente, essa festa era própria à Ordem Religiosa de Nossa Senhora das Mercês, que foi fundada por pedido expresso de Nossa Senhora e cujos cavaleiros viajam as costas ameaçadas pelos piratas muçulmanos e resgatavam os cativos cristãos.

Eu fiquei de tratar com os Srs. a respeito de Santo Odilon e dar a descrição maravilhosa da personalidade dele de acordo com um contemporâneo. Esta ficha nos foi organizada pelo Professor [Fernando Furquim de Almeida], grande estudioso dos assuntos que dizem respeito a Cluny.

Como está na nossa rotina que o Santo do Dia no sábado seja breve, eu vou tratar apenas de uma parte da personalidade de Santo Odilon.

A ficha diz o seguinte [extraída do primeiro biógrafo dele, Jotsald, cfr. Pe. Jardet, “Saint Odilon, abbé de Cluny – Sa vie, son temps, ses oeuvres”, Imprimerie Emmanuel Vite, Lyon, 1898 – ndc:

“Antes de tudo, comecemos pelos seus méritos menores.”

São, portanto, os méritos menores, são mais os sinais da virtude do que a virtude propriamente dita. E é descrito aqui o porte e o modo de ser do santo.

“Esse homem tinha um andar grave, uma voz admirável, ele falava bem. Era uma alegria vê-lo. Seu rosto tinha uma fisionomia angélica, seu olhar uma serenidade extraordinária. Cada um de seus movimentos, de seus gestos, todos os atos de seu corpo, exprimiam a honestidade.”

* Todo o modo de ser de Santo Odilon era cheio de compostura e de dignidade

É preciso dizer que a palavra honestidade, no francês antigo em que a ficha está escrita,  não é a virtude que hoje nós chamamos habitualmente de honestidade, que é o por onde se respeita a propriedade dos outros. A honestidade naquele tempo significava outra coisa, era compostura. Un “honnête homme” era um homem muito composto, um homem muito digno. Então todo o modo de ser dele era cheio de compostura e de dignidade.

“Cada dobra de seu hábito sacerdotal tinha um ar de dignidade, e mostrava o respeito que ele tinha a si mesmo e o respeito que ele tinha aos outros.”

Nas dobras da batina dele se notava o respeito que ele tinha por si mesmo e pelos outros. É interessante, para os senhores compreenderem bem isso, os senhores verem esse padre típico da Igreja Católica, um padre que Ela canonizou por exprimir perfeitamente o seu ideal sacerdotal, os senhores compararem, eu não digo só com padre progressista, sem traje sacerdotal, vestido de playboy, correndo de um lado para outro… que é uma abominação. A comparação nem é possível, e nem se pode pôr.

* Um pequeno tratado sobre os vários modos de se andar

O bonito, o que é que é o passo grave? É um passo que é firme, que é másculo, que é varonil, que indica a atitude de alma de um homem, que quando tomou uma atitude, tomou! Em cada pedaço de chão que ele pisa, ele dominou. Isto é o passo grave. É de um homem que quando anda para frente anda vencendo, ainda que não tenha diante de si obstáculos visíveis. Ele anda como quem enfrenta qualquer coisa. O andar dele é cheio de consequências, é cheio de ponderação.

O modo de andar das pessoas define muito as pessoas. Quase que se poderia fazer…  os senhores sorriem porque os senhores sabem quanto isso é verdadeiro ── um tratadinho dos vários modos de andar.

Porque há modos de andar de pessoas frívolas, levianas. A gente olha, eles podem ser vistos de longe, aquilo é sem rumo… Eles podem tomar a qualquer momento um caminho para qualquer lado da calçada, ou evitar a rua. Eles não têm diretriz. São passos de uma mentalidade instável, frívola, que muda de rumo a qualquer momento, de uma mentalidade pouco maturada.

outros passos, que são passos de gente mole. A gente tem a impressão que vê esse sujeito [em vez de] ser carregado pelas pernas, carrega as pernas, aquilo vai… E as pernas que pousam de um modo mole e dengoso, ou esparramadas, aquilo vai… A gente tem a impressão que as pernas são cartilaginosas e vão ficando para trás, enquanto o sujeito preguiçosamente vai avançando…

outros passos que são passos efeminados. Não têm solidez, não tem vigor. Falta qualquer coisa que é o passo do varão, não é?

Há outros passos que são passos megas e que a gente nota, e esses existem também –  a gente nota que o sujeito se aproveita – não tendo outro recurso para chamar atenção sobre si a não ser os pés – se aproveita dos pés. Então bate no chão e faz, para atenuar a nulidade do rosto, ele faz espalhafato com os pés. É o recurso, não é? Os cavalos tem até duas vezes mais… para não falar de animais ainda mais prosaicos.

Há também passos malandros, passinhos rápidos, que se esguiam. Quer dizer, é muito interessante a gente prestar atenção no passo das pessoas.

A título de curiosidade, quem é que já fez um exame metódico dos passos das pessoas, levante o braço. Um, dois… não perderam seu tempo, ouviu? Três, no fundo. O passo da pessoa diz muito. E por causa disso, esse biógrafo, esse contemporâneo de Santo Odilon que o conheceu de perto, julgou que deveria começar por descrevê-lo pelo passo.

* Comentário sobre a voz, a fisionomia angélica e a elegância de Santo Odilon

Os Srs. estão vendo, de outro lado, como ele faz acompanhar o passo pela voz. Os senhores vejam o que é que ele diz da voz de Santo Odilon, que coisa extraordinária! Diz o seguinte:

“Que ele tinha uma voz admirável, ele falava bem, era uma alegria vê-lo. Por quê? Porque sua fisionomia angélica espelhava serenidade.”

Também é preciso dizer o que é que queria dizer “angélico” na Idade Média. Não é  esse tipo de anjinho como no altar da capela da Sede do Reino de Maria, uns anjinhos gorduchinhos, com ares de irresponsáveis. Não é elogio para um homem ter aquela carinha, não é? O anjo, eram os anjos de Fra Angélico. Grandes heróis do Céu, príncipes na presença do altíssimo, recolhidos, contemplativos, supereminentes de inteligência e de vontade. São os anjos dos vitrais medievais. Essa era a cara angélica de Santo Odilon.

Então, os Srs. estão vendo que era uma cara angélica, uma voz angélica, e um passo que aos Anjos terem passo, seria um passo angélico. Isso é que era Santo Odilon. Os Srs. estão vendo que grande figura.

Era um homem que tinha a verdadeira elegância, que não consiste em ter necessariamente uma roupa muito bem cortada, e muito menos em estar muito na moda. Mas que consistia em comunicar o esplendor do seu espírito ao seu porte e seu traje. Isto é que é a verdadeira noção da elegância. Ele tinha um esplendor de espírito, de personalidade e ele comunicava isto, sem perceber, ao seu traje.

Algumas pessoas têm esse dom. Então ele tinha uma batina composta e não havia uma prega da batina dele que não espelhasse o respeito que ele tinha de si mesmo e dos outros.

* O respeito de si mesmo e dos outros é a verdadeira humildade

Esse respeito de si mesmo e dos outros é a verdadeira humildade porque é respeitar a cada um como deve ser e respeitar-se a si próprio como deve ser. Ele sabia que ele era um santo. Ele sabia que ele era a alma do grande movimento de Cluny, que por sua vez era a alma da Idade Média. E a alma da alma de uma coisa é a alma da terceira coisa. De maneira que ele era a alma da Idade Média, a alma irradiante da Idade Média. Abade, superior de uma ordem religiosa, homem sagrado por Deus, padre, monge, ele sabia de tudo isso, ele se respeitava enormemente.

Isso não é ser mega. Respeitar-se não é ser mega. Ser mega é utilizar-se de si próprio para fazer farol. É não se respeitar. Ele se respeitava enormemente. Mas ao mesmo tempo, ele respeitava muito os outros, que é o contrário do mega.

A Igreja diz, Santa Teresa repetiu com Ela, “a humildade é a verdade”. Isto sendo assim, aquele que se trata a si próprio e trata a cada um dos outros como deve tratar, com o respeito que toda criatura humana merece, esse é humilde.

Então nós vemos o porte ao mesmo tempo principescamente angélico e cheio de humildade desse varão de Deus, que se espalha por toda a sua personalidade.

Da túnica de Nosso Senhor, da capa dEle, está escrito no Evangelho que estava impregnada de uma virtude, de uma força que curava todo mundo que tocava nEle; de tal maneira o homem se comunica através de seu traje.

Santo Odilon evidentemente não podia ter comparação com Nosso Senhor, mas a sua capa tinha um qualquer esplendor que era a comunicação de sua personalidade. Daí a dignidade de cada dobra.

Os senhores podem então imaginar um claustro medieval todo em ogivas, e Santo Odilon andando sozinho pelo meio e ao longe um noviço que o vê. O noviço se ajoelha, Santo Odilon passa e abençoa. O noviço fica olhando assim… Vai e escreve isto depois, é claro! E daí ficam então essas impressões sobre a extraordinária personalidade de Santo Odilon, o padre-tipo.

* “A única coisa elogiável que eu encontrei em minha vida é a Igreja Católica”

Os srs. procurem ver se isto é a ideia que os srs. têm do padre-tipo, e os srs. acham que têm uma ideia bem diferente, não é?

E eu quero retificar esta ideia, para os senhores entenderem bem o que é um padre segundo o espírito da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. É um elogio do sacerdócio mais do que um elogio de Santo Odilon. E é mais do que um elogio do sacerdócio, é o elogio da Igreja Católica que eu estou empreendendo e que, com a graça de Nossa Senhora, eu não cessarei de elogiar até o fim dos meus dias!

Porque é a única coisa elogiável que eu encontrei em minha vida é a Igreja Católica! Todas as outras coisas só são elogiáveis em função da Igreja, e na medida em que participam dEla. De maneira que o que eu estou fazendo é o elogio da Igreja. Assim é um padre, assim é a Igreja que acalenta esse ideal sacerdotal. Assim, e super assim, deverão ser os padres do Reino de Maria.

Bem, nós continuamos:

“Ele trazia consigo qualquer coisa de luminoso que convidava imitá-lo e venerá-lo. A luz da graça que estava nele brilhava, por assim dizer, no exterior e manifestava a qualidade de sua alma, pois o comportamento de uma alma, como já foi dito, transparece na atitude do corpo. Falemos brevemente de sua aparência exterior.”

* Comentando sobre a indescritível luminosidade própria aos santos

Esse homem era muito dado a “Ambientes e Costumes”. Ele soube fixar essa luminosidade que havia em Santo Odilon e que a gente nota em tantos santos, e que é uma coisa que não é muito fácil, é bem difícil de descrever, porque é uma luminosidade do olhar, mas é mais do que uma luminosidade do olhar, é qualquer coisa que fica em torno do santo, e que os senhores sentem muito no quadro de São Pio X, nas fotografias de São Pio que pertence ao Grupo de Santiago e que está agora na minha sala na Sede do Reino de Maria.

Vale a pena, quando os senhores forem lá, entrar na minha sala e procurar ver aquele quadro. O quadro é bonito. Mas ele absolutamente não é decorativo naquele lugar. Mas eu quis ficar com ele ali, porque exatamente me alenta e me entusiasma ver a luminosidade daquela pessoa. É qualquer coisa que não é só posta pelo pintor.

Assim como um vivo se distingue de um morto, e a gente não sabe no que é, como é que a gente distingue um morto de um homem que dorme? Não se sabe no que é. Assim também a luz de um santo, se distingue de qualquer irradiação natural do talento de quem não é santo.

Ali São Pio X, por exemplo, há qualquer coisa que não é descritível, mas que enche a gente de ânimo, de satisfação, de alegria. A gente compreende a indestrutibilidade da Igreja Católica olhando para São Pio X.

Bem, a gente vê que aquilo foi o grande Santo Odilon.

* Os contrários harmônicos na alma de Santo Odilon

“Ele era de estatura média. Seu rosto exprimia a uma vez a autoridade e a benevolência.”

Esse autor acentua muito bem os contrastes. Pouco antes ele disse que Santo Odilon tinha qualquer coisa que dava o desejo de venerá-lo. Inspirava o desejo da veneração. Mas ao mesmo tempo, o desejo da imitação. Quer dizer, era uma dessas venerações que não excluía, que não barrava, que não empurrava o sujeito para longe, mas que atraía.

Uma veneração que não se impunha ao sujeito, dizendo o seguinte: “Fique sabendo que eu sou assim e que você não é” —  que é do mega, não é?  ──, mas é uma veneração que dizia o contrário: “Eu sou assim. Muito mais, infinitamente mais do que eu é Nosso Senhor Jesus Cristo! Se eu devo ser perfeito como Ele, por que você não procura ser perfeito como eu?”

É um convite para aproximar-se, para unir-se, para subir. Assim era Santo Odilon.

Aqui vem outro contraste muito bonito: ele era cheio de autoridade e de benevolência.

A Revolução procura nos fazer acreditar que o homem que tem autoridade é malévolo. É uma espécie de fera que subiu, e que fica contentíssima porque encontra oportunidade de passar o porrete nos outros, como quem diz: “Eu apanhei até subir, agora que eu estou em cima, desconto dando nos outros”.

Isso é “de lo último do ponto” de vista católico, mas é “de lo último”! Não pode ser mais ordinária uma concepção da autoridade do que essa. Pelo contrário, a autoridade é feita para fazer o bem. A missão dela é de cumprir a benevolência. “Bene-volência” quer dizer querer o bem dos outros, querer antes de tudo o bem da Igreja, o bem da Civilização Cristã, que se faça por toda parte a vontade de Deus, que Nossa Senhora seja Rainha. Ou o desejo de que os outros se associem a este bem, pertençam a esse bem, trazer a todos para o bem. De preferência, com indulgência, com bondade, com misericórdia.

Então, ele exprimia em alto grau ao mesmo tempo a benevolência e a autoridade.

* O olhar dos olhares: o do Santo Sudário de Turim

“Com os doces, quer dizer, com os homens amenos ele se mostrava risonho e acolhedor, mas para os orgulhosos e os rebeldes, ele se tornava tão terrível que era difícil para os rebeldes sustentarem o olhar dele.”

Os senhores estão vendo que santo perfeito e acabado? Que verdadeira maravilha? Aliás, todo santo é perfeito e acabado, mas eu tenho entusiasmo por essa arma do homem que é olhar. Quão poucos homens possuem essa arma.

O olhar dos olhares, o olhar mais perfeito que os senhores conheceram, em sua vida e como mais perfeito os senhores nunca conhecerão, é um olhar de pálpebras fechadas. É um olhar sem vida, é um olhar morto, é o olhar do Santo Sudário de Turim. Não há mais vida naquele semblante e as pálpebras estão fechadas.

Examinem o olhar. É uma coisa… Nunca ninguém olhou daquele jeito. Aquelas pálpebras fechadas olham mais do que qualquer olhar. Os senhores podem imaginar o que é que seria o olhar com que Nosso Senhor olhou a São Pedro? De tal maneira que São Pedro chorou durante a vida inteira e até morrer, o ele ter renegado a Nosso Senhor?

O último olhar, eu me comprazo em pensar nisto, o último olhar que Nosso Senhor deu na terra não foi para os monstros que o assediavam. Nem foi para as santas mulheres  para São João que estava ao pé da Cruz. Eu tenho como certo que o último olhar dEle foi para Nossa Senhora.

Se alguém pudesse medir o olhar de afeto dEle para Nossa Senhora, o mundo de amor, de respeito… dEle Deus, hein? O mundo de respeito que ele deitou nesse olhar, um mundo de veneração, o entendimento de almas recíproco, e como Nossa Senhora retribuiu esse olhar? O que foi essa troca de olhares? Foi o momento culminante da história dos olhares em toda a história da Humanidade. Alguém que tivesse conseguido olhar para esses dois olhares… teria o Céu. E poderia ficar cego depois. Até talvez fosse vantagem, porque ver o que depois? O que nós vemos? Quem viu esses olhares já está tudo visto. Não precisa ver mais nada. É até melhor não ver mais nada. Cancela. Cessa. Está acabado. Não vê mais nada, não é verdade?

Este é o valor de um olhar. Esse homem que escreveu isto soube ver o olhar terrível de Santo Odilon. Isso é admirável! Terrível como um exército em ordem de batalha, como foi Nossa Senhora.

* Ter uma forma de magreza que é flexível e que é toda cheia de força, é uma perfeição de antítese, uma maravilha

“Ele tinha uma forma de magreza que lhe acentuava a força.”

Isto é uma beleza, não é? É mais uma vez uma contradição, não é? Porque numa concepção taurina das coisas, o homem quanto mais encorpado, mais forte. Mas ter uma forma de magreza que é flexível e que é toda cheia de força, é uma perfeição de antítese, uma maravilha, não é?

“Ele tinha uma palidez cheia de elegância, e os cabelos brancos eram para ele uma forma de distinção.”

Os senhores vejam que coisa linda, não é?

* Uma coisa que o mundo moderno não compreende: olhares de olhos acostumados às lágrimas

“Seus olhos brilhavam com brilho singular, que inspiravam ao mesmo tempo surpresa e espanto. Eram olhos…”

Vejam que magnífica definição desses olhos:

“…eram olhares de olhos acostumados às lágrimas.”

Como o mundo moderno não compreende mais isso! O mundo moderno só gosta dos olhos habituados a rir. Olhos estultos e néscios, que só dizem o que sente o egoísmo. O mundo antigo compreendia qual era o valor do olhar, dos olhos habituados a chorar pelas coisas santas. Chorar pela Paixão de Nosso Senhor, chorar pelos pecados que há no mundo, chorar pelos seus próprios pecados. Como isso ilumina os olhos! O pranto sagrado, pelos grandes espíritos, transforma o interior do olhar numa coisa luminosa, como uma rosácea de catedral num grande dia de sol.

“Porque ele tinha recebido a graça da compunção. De seus movimentos, de seus gestos, do seu andar emanava uma espécie de autoridade, de gravidade e de paz. Ele abordar alguém era como um raio de alegria e de graça. Era uma surpresa deliciosa ser abordado por ele.”

Os srs. vejam que coisa maravilhosa: numa sala ou numa capela, alguém estava rezando e Santo Odilon se aproximava. A pessoa não pensava nisso. Santo Odilon se inclinava e dizia: “Meu filho, reze por tal intenção ou faça tal coisa”. A pessoa inundada por uma graça, e tinha tido uma surpresa deliciosa.

Os senhores veem o que é um sacerdote segundo o ideal constantiniano da Igreja, segundo o ideal verdadeiro da Igreja! E como nós devemos venerar o estado sacerdotal e o verdadeiro ideal sacerdotal!

“Ele era perfeitamente senhor de si, sem nenhuma forma de enfeite, sem nenhuma forma de truque. A natureza tinha feito dele qualquer coisa de admiravelmente harmônico e ordenado. Santo Ambrósio tinha razão de dizer que a beleza do corpo não é virtude, mas por causa disto deveremos desprezar esse dom de Deus?”

É o modo de dizer que ele era um homem formoso, e que a beleza do corpo dele vestia adequadamente a beleza da virtude. Era o símbolo da beleza de sua virtude.

Aí os senhores têm uma parte desse enorme fichário sobre Santo Odilon. Se Nossa Senhora permitir, haveremos de ir estudando ponto por ponto Santo Odilon até o fim.

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