Plinio Corrêa de Oliveira
Antes de tudo, as boas notícias.
Causou-me real alegria – que desejo partilhar com os leitores – uma carta da qual transcrevo o seguinte tópico:
“Tendo-me sido dado hoje o prêmio correspondente ao “operário n.º 1″ de São Paulo, em 1969, desejo agradecer à querida TFP o muito que lhe devo. Pois a fidelidade no cumprimento do dever, o amor ao trabalho, eu os devo principalmente à formação social que a TFP me deu”.
A carta é assinada por um membro dedicado do nosso setor operário, o jovem cooperador Albertino Coutinho, eletricista da indústria farmacêutica “Squibb”. A qualificação de 1º operário de 1969 lhe foi conferida no VI Concurso “Operário Bandeirante”, promovido pela “Folha de S. Paulo” e patrocinado pela Light – Serviços de Eletricidade S.A.
Não é bem verdade que palavras como estas compensam de sobejo a contrariedade que o coaxar das calúnias pode por vezes produzir?
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A TFP argentina, sob a direção do seu brilhante presidente, o jovem Cosme Beccar Varela Hijo, vem alcançando vivo sucesso na campanha que, através da revista “Tradición, Familia, Propiedad”, desencadeou contra o IDO-C e os “grupos proféticos”, organismos de infiltração ativa na Igreja. Os índices de venda da revista são altamente estimulantes, em Buenos Aires como no interior. Muito estimulante, também, é a carta que a nossos irmãos argentinos enviou Mons. Alfonso Buteler, arcebispo de Mendoza. Dela transcrevo estas corajosas palavras: “A atitude do sr. e de seus colaboradores é reconfortante. Nem todos os filhos da Santa Madre Igreja voltaram-lhes as costas. Ainda há quem sinta o santo orgulho de lutar por Ela. O sr. e seus companheiros compreenderam que é um honroso dever lutar e defender a verdade, desmascarando os inimigos emboscados dentro das próprias fileiras dos fiéis. Não abandonem a luta. A Virgem Mãe, que esmagou tantas heresias, fará sentir a sua intervenção nesta campanha pela verdade e a honra da Igreja. Do meu posto de velho Pastor, acompanho-os com a minha pregação, minhas orações e minha benção”.
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Agora, ao mudar de assunto, uma névoa de tristeza me passa pela mente. Toca-me dizer uma palavra sobre declarações feitas à imprensa, a propósito de nossa campanha contra o IDO-C e os “grupos proféticos”, pelo Emmo. Cardeal Rossi.
Eis a primeira parte dessa declaração: “Esclareceu (o Cardeal) que é essa (a TFP) uma sociedade civil; não é organização eclesiástica. Ele reconhece aos católicos a liberdade de se associarem; no entanto, nega-lhes o direito de insistirem no seu empenho de identificar a Igreja com a sua posição associativa ou partidária: ‘Tradição, Família e Propriedade’ fala por ela própria e não tem correspondência com a palavra e a ação da Igreja”.
Embora com pesar nosso, somos obrigados – não só pelo teor dessas palavras, como pelo alcance que lhes dá a alta autoridade de quem as disse – a nos defender. Diga-se, antes de tudo, que não parece preciso o conteúdo da imputação. No que consiste o (a TFP) “identificar a Igreja com a sua posição associativa ou partidária”? Permito-me notar que estamos muito longe de ser um partido: não temos eleitores nem candidatos, e não pretendemos cargos públicos. Quanto à mencionada “identificação”, o sentido mais plausível dela talvez seja que a TFP se arroga autoridade para falar oficialmente em nome da Igreja. É só folhear qualquer das numerosas obras que difundimos, para se ver que jamais o fizemos.
Aliás, se o houvéssemos feito, teríamos agido à maneira dos “grupos proféticos”, que desejam reduzir ou eliminar os poderes da Sagrada Hierarquia, e proclamam o advento da era da emancipação total do laicato. Em outros termos, seríamos sequazes dos próprios erros que estamos denunciando à custa de tanto trabalho, tanto sacrifício e tantas incompreensões.
Nossa posição, quando citamos documentos da Igreja, se resume no seguinte: 1) todo católico que trate de questões cívicas, deve fazê-lo à luz dos ensinamentos da Igreja: é a própria Igreja que lho preceitua; 2) assim, se um católico trata, por exemplo, dos aspectos morais da lei do inquilinato, deve inspirar-se nos documentos do Magistério Eclesiástico, pois a Igreja é a mestra da Moral; 3) cumprindo esse dever, o católico não fala em nome da Igreja; ele apenas se baseia nos ensinamentos desta: basear-se em um autor é coisa bem diversa de falar em nome dele.
Entretanto, os problemas de natureza cívica não se reduzem a meros princípios morais. Cada um deles tem também todo um conteúdo concreto, ao qual os princípios morais se devem aplicar.
Na análise dos aspectos concretos de tais problemas, a TFP tem tomado várias vezes posição, é bem verdade. Mas o tem feito sob sua exclusiva responsabilidade. Assim, data venia, não vejo no que as referências de S. Emcia. se nos possam aplicar. É de se presumir que S. Emcia., sobrecarregado de afazeres, não tenha tido tempo de ler nossas obras. Algum assessor não o terá, pois, informado exatamente. Isto esclarecido, S. Emcia. nos relevará que nos defendamos da severa e desagradável acusação de, não só agirmos contra nosso direito, mas de “insistirmos” nesse agir errado.
O outro tópico contido na entrevista de S. Emcia. é este: “Rememorou-nos (o Cardeal) o nobre lema da Igreja de Cristo: “Unidade nas coisas essenciais; liberdade nas acidentais e caridade em todas as coisas”. Possivelmente haja comunistas no grande e espalhado mundo do Clero brasileiro. Mas à Igreja não cabe o papel (frisou o Cardeal Rossi) de apontar, com o dedo, a ovelha negra, numa denúncia. Ela é a primeira a condenar e a censurar, mas condena e censura como a Mãe e como a Mestra”.
Queremos crer que o repórter tenha ouvido mal. Não nos parece crível que S. Emcia. considere descaridoso “apontar com o dedo” clérigos comunistas – e ipso facto apóstatas – no mesmo momento em que “aponta com o dedo” a TFP, por motivos que, a serem fundados na realidade, seriam bem menos graves.
A isto, seja-nos lícito acrescentar uma consideração. A infiltração comunista em meios católicos é incontestável em nosso País. Para o provar, basta o testemunho de 1.600.368 brasileiros, entre os quais arcebispos, bispos, sacerdotes, religiosos de ambos os sexos, ministros de Estado, altas patentes das Forças Armadas, professores universitários e magistrados, que contra ela pediram, em 1968, providências ao Papa Paulo VI, em abaixo-assinado promovido pela TFP.
- Emcia. sabe, sem dúvida, que tão notória infiltração não se poderá ter dado sem a participação de clérigos comunistas. É, pois, inadmissível que o Purpurado as tenha referido à existência de padres comunistas como uma hipótese vagamente possível. Como dizíamos, o repórter deve ter ouvido mal.
É o que, sobre a entrevista de S. Emcia., e com todo o respeito devido à Sagrada Púrpura, nos sentimos no dever de ponderar.