Auditório Nossa Senhora Auxiliadora, Reunião de Recortes – 22 de maio de 1993 – Sábado
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
“O Estado de S. Paulo”, 12 de maio de 1993
Arquivos da KGB ajudam Igreja em canonização
Roma – A KGB abriu seus arquivos para a Igreja Católica, para que examine um caso de canonização na Ucrânia. Enviados do episcopado ucraniano estão consultando documentos da KGB sobre o cardeal Josef Slipyi e que esteve internado em vários campos de concentração russos. Slipyi morreu no exílio em Roma, em 1984. A abertura dos arquivos também permitirá à Igreja estudar a canonização do cardeal húngaro Mindszenty e do croata Stepinac. Mindszenty foi preso pelos comunistas em dezembro de 1946, liberado durante a revolta de 1956 na Hungria. Morreu em Viena, em 1975.
* * *
O cardeal Slipyi do rito ucraniano padeceu enormemente no tempo em que ele esteve preso. Ele foi detido em uma prisão enormemente fria, a Hungria já está no centro da Europa, mas numa parte já bastante fria, em certas épocas do ano é muito fria. E ele era obrigado a ficar como os outros prisioneiros com uma janela aberta e, naturalmente, com escassez de cobertas e isso determinou o fato de que os pés deles se enregelaram em mais de uma ocasião. E que nessas ocasiões os artelhos inteiramente endurecidos pelo frio se quebravam facilmente, e que ele perdeu vários dos artelhos assim na prisão. Os senhores podem imaginar a dor e o mal-estar que tudo isso deveria causar.
Deste sofrimento ele se libertaria facilmente se ele quisesse fazer um documento de adesão ao comunismo, aí acabava tudo e começava a vida macia para ele. A porta do inferno também se abriria para ele.
* A atitude da “saparia” em relação aos Prelados católicos que eram perseguidos pelo comunismo
Bom, ele esteve aqui em São Paulo e durante… não me lembro exatamente em que ano. Exceto na diminuta colônia ucraniana de São Paulo havia um “frio” muito grande a respeito da presença dele aqui. Via-se por que era por causa da posição muito oficialmente anticomunista que ele tinha. Aliás, por toda a parte ele era visto assim por aquilo que nós costumamos chamar de “saparia” [pessoas muito bem colocadas na sociedade e de linha pró socialista/comunista, n.d.c.].
Se havia alguém que era sapo naqueles dias era o presidente Kennedy dos EUA. E em geral toda a família Kennedy “sapíssima”. Quer dizer, católicos, ostentando a condição de católicos, mas levando toda uma vida e todo um modo de conceber as coisas dentro do estilo sapo de coisas.
O cardeal Mindszenty, arcebispo de Budapeste – que é um outro desses mártires – foi obrigado a fugir. Ele conseguiu durante um motim húngaro contra os comunistas, fugir da prisão. E passou da prisão para a embaixada americana. E ali na embaixada ele telegrafou ao governo norte-americano pedindo licença para ficar na embaixada norte-americana na Hungria. Ele pediu licença e de fato esperou umas horas e veio um telegrama do presidente Kennedy autorizando a ele a ficar na embaixada nas condições que o governo norte-americano determinasse.
Isso indica bem a autenticidade anticomunista dele.
Depois ele voltou para Roma e depois andou por um lugar e por outro e foi para a Venezuela.
* Na Venezuela e na Colômbia, outros contatos do Cardeal Mindszenty com a TFP
Na Venezuela ele foi homenageado pela TFP venezuelana num ambiente de frieza completa da parte…
De maneira que ele partiu de Caracas para Viena. Em Viena ele foi operado e apesar de ser um homem robusto, morreu.
Essa é a história em traços muito gerais deste grande cardeal que fica na perspectiva de ser canonizado.
* Alguns depoimentos sobre os contatos do Cardeal Mindszenty com as TFPs da Venezuela e da Colômbia
(Sr. Julio Loredo: Dr. Plinio, logo após dele ter estado na Venezuela, ele esteve em Bogotá. Foi recebido lá pela TFP, umas 50 pessoas no aeroporto, ele teve uns cinco contatos conosco lá. É curioso, ele estava com dois padres, um deles o secretário pessoal dele, um húngaro, bem favorável a nós, etc. O outro era um padre posto por Paulo VI para estar com ele e acompanhar. Quando o padre de Paulo VI estava na sala, ele só falava húngaro ou latim, muito frio e muito distante. Era só esse padre ir embora que imediatamente ele dizia: “TFP, eu conheço muito bem, sigam adiante, conheço muito bem, etc.” E num desses contatos foi entregue uma carta do Sr. para ele convidando-o a vir aqui. E ele disse: “Eu conheço ao Dr. Plinio e eu vou para lá.” O último contacto foi no próprio aeroporto, ele subindo a escada para entrar no avião a última coisa que ele disse: “Até São Paulo, até São Paulo.” Quinze dias mais tarde estava morto.)
O Sr. viu tudo isso?
(Sr. Julio Loredo: Eu estava lá sim Sr.)
Isso é um depoimento muito interessante. Até o Sr. tendo tempo fazer um relato de tudo isto e fazer assinar pelos membros da TFP colombiana que se encontram aqui, seria um documento muito bom para o nosso arquivo. E podia fazer dois exemplares, um para o arquivo da TFP bogotana e outro para o arquivo da TFP paulista.
(Sr. Julio Loredo: Sim sr, praesto sum!)
E valia a pena aproveitar a presença aqui dos principais dirigentes da TFP colombiana para levar isto a efeito. Eu consideraria isso um verdadeiro presente feito à TFP brasileira termos um exemplar dessa recordação guardado em nosso arquivo.
Eu pergunto se os venezuelanos querem acrescentar alguma coisa a isso?
* “Se me tivessem informado melhor o que era a TFP, eu teria dado muito mais atenção a eles”
(Sr. Pedro Morazzani B.: O que o Sr. disse é tal qual, tudo o que o Sr. relatou sobre a frieza do governo venezuelano foi tal qual. Estava combinado dele ir à sede, na hora dele sair do seminário onde ele estava em Caracas para o aeroporto, ele ia passar pela sede. E foi justo aí quando o presidente – o que acaba de ser posto fora – convidou-o para passar nessa mesma hora pelo palácio presidencial. Nós temos uma fita gravada com as palavras que ele dirigiu ao grupo naquela ocasião. Ele recebeu o grupo duas vezes. E nós ficamos sabendo pelos tios dos “R.”, que foi um dos húngaros que receberam a ele na Venezuela, ficamos sabendo que ele se queixou com esses húngaros venezuelanos, ele disse: “Se os senhores tivessem me informado melhor o que era a TFP, eu teria dado muito mais atenção a eles. Vocês não me informaram bem.” E ele só ficou sabendo o que era a TFP pelo arcebispo de Valencia, e que estranhamente falou bem de nós durante uma visita que ele fez.)
Também isto com outras recordações que os senhores tenham da visita do cardeal Mindszenty à Venezuela, de contatos pessoais, valeria a pena fazerem um relatório, exatamente como eu acabei de pedir à TFP colombiana. Porque são documentos preciosos para a História.
(Sr. Pedro Morazzani B.: Ele foi recebido no aeroporto com estandartes, e a despedida também foi com estandartes. E duas vezes nos recebeu no lugar onde ele estava morando lá.)
Em que lugar era?
(Sr. Pedro Morazzani B.: Num seminário.)
Está muito bem.
Pois então vale a pena redigir essa recordação toda para o nosso arquivo.
(Sr. Pedro Morazzani B.: Praesto Sum!)
(Dr. Koury: Dr. Plinio, eu vou dar um depoimento que talvez tenha acontecido com todo mundo. Quando ele veio à América Latina, era um ambiente assim muito tenso entre comunismo-anticomunismo e a atuação do Sr. era marcante. E todo mundo estranhou que ele fosse à Venezuela e à Colômbia. E toda a luta contra o comunismo na América Latina estava aqui no Brasil e aqui em São Paulo. E ninguém entendeu por que ele ia à Venezuela e à Colômbia e não vinha ao Brasil. Eu fiquei com a certeza nítida de que não deixaram ele vir por causa do Sr. Eu não sei o que é que o Sr. acha?)
É pelo menos uma hipótese muito provável à vista do que acabamos de ouvir. O Sr. viu que, pela narração do Sr. Morazzani, ele se queixou a pessoas da colônia húngara em Caracas que não o informaram adequadamente.
(Sr. Pedro Morazzani B.: Estava combinada a vinda dele para cá.)
Para o Brasil?
* O Cardeal Mindszenty aceita o convite de vir a São Paulo visitar o Prof. Plinio
(Sr. Pedro Morazzani B.: Foi combinado em Caracas, e ele aceitou. O Sr. Francisco Tost está aí lembrando também isso. Estava combinado, ele tinha combinado um encontro com o Sr. aqui em São Paulo depois da operação dele.)
Mas nós não recebemos essa comunicação da parte dele. Quer dizer, nós esperávamos que ele viesse mas não tínhamos comunicação.
(Sr. Pedro Morazzani B.: Não, mas ficou verbalmente combinado e ele aceitou o convite.)
Mas combinado com quem?
(Sr. Pedro Morazzani B.: conosco lá em Caracas.)
Sei.
(Sr. Francisco Tost: Dr. Plinio, havia uma coisa que o Sr. mandou dizer a ele a seguinte mensagem, que ele viria aqui a São Paulo mas o Sr. queria comunicar para ele que internamente na colônia havia gente que era pouco simpatizante da TFP, e que o Sr. queria desde já combinar com ele uma visita ao Sr. e à sede da TFP. Então, o cardeal – eu me lembro – nesse seminário onde estava hospedado por perseguição porque era para ser hospedado no Clube Militar, no centro de Caracas, e a nunciatura exigiu que fosse hospedado num seminário que ficava fora da cidade. Então o cardeal mandou dizer o seguinte: “Eu agradeço muito ao professor Corrêa de Oliveira o convite que ele me faz. E agradeço muito que me previna sobre a situação da colônia húngara no Brasil. É muito de imaginar que isso seria assim porque a missão dos consulados e embaixadas húngaras no mundo é difundir o comunismo e, portanto, ele aí devem estar infiltrados, etc. E mando dizer ao professor Plinio que a primeira coisa que vou fazer em São Paulo quando chegue é ir visitá-lo.” [aplausos]
Inclusive havia dois pormenores muito interessantes. O Sr. mandou que se oferecesse a ele o “Bucko” [“A liberdade da Igreja no Estado comunista”, escrito pelo Prof. Plinio]. Oferecemos um [exemplar] em húngaro, explicou-se do que se tratava e ele fez elogios extraordinários que devem estar gravados nessa fita que o Morazzani faz menção aí. Foram elogios em húngaro e que havia um tradutor, uma pessoa de boa posição com relação com a TFP. Elogiou muitíssimo o “Bucko” inclusive dizendo o seguinte que ele achava que pela temática que tinha, era indispensável uma larga difusão para essa obra.)
Quem disse isso, o cardeal?
* “Meu coração bate no mesmo diapasão que o coração deles”
(Sr. Francisco Tost: O cardeal Mindszenty, sim Sr. No aeroporto quando ele estava saindo, ele foi recebido pelo povinho, e em uma sala fechada foi recebido pelo administrador apostólico de Caracas e vários outros arcebispos, mas numa sala fechada. E as pessoas ficaram fora formando um corredor, e ali estava a TFP formando um corredor. Quando ele saiu se aplaudiu com muita vivacidade, etc. E ele de pronto assinalou uma das flâmulas e disse: “O que é isso?” E explicaram, o tradutor húngaro disse: “Tradição Família Propriedade, um movimento católico.” Aí o cardeal parou e tocou essa flâmula e disse: “Meu coração bate no mesmo diapasão que o coração deles.”) [aplausos]
O Sr. sabe se essa flâmula foi conservada?
(Sr. Francisco Tost: Sim Sr.)
Está com o Sr. Francisco Javier Tost?
(Sr. Francisco Tost: Está à disposição do Dr. Plinio hoje à noite.) [risos]
Ahahah! Isso eu não quero, não quero chegar até lá.
(Sr. Francisco Tost: Não, não, eu nunca tive… enfim, me pareceu que era uma pequena coisa assim, e eu fiquei com a… mas eu a tenho aí, está à disposição do Sr. É do Sr.)
É uma grande coisa, fica como condomínio nosso. [risos]
(Sr. Francisco Tost: Não, não. É do Sr. mesmo. Dr. Plinio, um outro pormenor que revela essa situação muito tensa que havia. O cardeal foi muito expressivo com relação à TFP, etc., muito elogioso sempre. Mas se notava que havia um ambiente de verdadeira violência contra nós e contra ele. E no momento em que foi tirada uma foto, que é uma foto que é conhecida e que aparece o grupo de Caracas com vários estandartes e o cardeal no centro. A foto foi feita num jardim e ficou muito distante de onde estava toda a guarda dele, o padre secretário, os carcereiros dele, não é? E então aí se cantou com ele o Credo, explicando em inglês porque ele sabia inglês, que se cantava o Credo para simbolizar a vitória da fé católica no meio dessas trevas etc., que era propósito da TFP e que se unia com ele. E ele ficou muito contente e depois se cantou a Salve Regina. Tiramos a fato, e no momento já de despedir, ele disse para os que estavam mais próximos dele, disse: “Eu de qualquer jeito vou estar na sede de vocês, eu quero estar.” Disse em inglês.
Essa operação não era esperada, Dr. Plinio, essa operação foi surpreendente, me chamou muito a atenção inclusive a pessoas muito próximas dele. Por exemplo, o pai e o tio do Sr. R. foram educados pelo cardeal Mindszenty quando eram jovens, e eles mostraram muita surpresa. E confirma que a primeira coisa que faria era ver o Sr. aqui em São Paulo, parece que o propósito era impedir. Seria isso Dr. Plinio.)
Também vale a pena fazer um relatório.
(Sr. Francisco Tost: Vou fazer, sim Sr.)
Está muito bem, ótimo.
Nota: Para ver a coletânea de artigos do Prof. Plinio sobre o Cardeal Mindszenty, clique a página ESPECIAL a ele dedicada.