Catolicismo Nº 112 – Abril de 1960
A gravura desta página reproduz uma tela de Lucas Cranach, o Velho (1471-1528), conservada no Museu de Gand: “A coroação de espinhos”. Em torno do Divino Redentor, manietado e revestido de uma púrpura de irrisão, agrupam-se cinco figuras. No primeiro plano, um homem Lhe estende uma vara à guisa de cetro e, ao mesmo tempo, num cumprimento caricato, suspende o gorro e mostra-Lhe a língua. Ao lado, outro alarga a boca em atitude de escárnio. Os demais, ao fundo, se empenham em enfiar na cabeça adorável do Salvador, à guisa de coroa, como que um imenso chapéu de espinhos. No centro o Filho de Deus, dando mostras de dor física, mas sobretudo de intenso sofrimento moral, que supera o tormento corpóreo, e absorve inteiramente a Vítima divina. Dir-se-ia que Nosso Senhor sofre com o rancor destes miseráveis verdugos, mas que esse ódio não é senão a orla de um imenso oceano de rancor que se estende para além, até as fímbrias do horizonte. E é por esse oceano que o olhar de Jesus se alonga em dolorosa meditação.
