Como praticar a virtude da admiração no dia a dia? Responde Dr. Plinio

Palavrinha aos baianos, 5 de julho de 1990

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo“, em abril de 1959.

 

(Pergunta: que conselhos práticos o Sr. nos daria para praticá-la?)

Para praticar, meu filho, é preciso o seguinte. A gente nunca admira uma coisa quando inveja. Porque a inveja leva a gente a negar que o outro tenha essa qualidade.

Então, para admirar nós devemos ter uma alma ávida de ver as coisas maravilhosas, e encantar-se com elasprimeiro ponto. Eu vou daqui a pouco mostrar como é que a gente faz isso.

Segundo ponto: deve combater a inveja. De maneira que quando nós vemos no outro uma qualidade que nós admiramos, nós não devemos ter pesar que o outro tenha aquilo que nós não temos. Nós devemos dar glória a Deus porque àquele nosso irmão Deus deu tal coisa.

Terceiro ponto: por que é que devemos dar glória a Deus? Porque Deus deu-nos aqueles que são mais do que nós, porque toda qualidade humana é um reflexo de Deus, de uma perfeição de Deus. E se um homem tem uma certa qualidade maior do que a minha, esse homem em certo sentido é reflexo de Deus para mim. E eu devo estar contente de ele ter aquela qualidade e agradecer a Deus.

Eu não sei se vocês ouviram falar de um canto italiano chamado [Enrico] Caruso [1873-1921, tenor italiano]?

(Sim)

Ouviram falar do Caruso. É um cantor… mas eu não imagino que seja possível cantar melhor do que o Caruso! Ele morreu há muito tempo, ele era cantor no tempo em que eu era menino. Depois ele morreu. Vocês podem fazer uma ideia…

Mas outro dia uma pessoa me deu de presente um disco que é cópia de um disco do tempo do Caruso. Mas muito nítido, ouve-se muito bem etc., muito interessante. Bem, e eu estava vendo o Caruso cantar. E eu estava admirando a voz dele, porque é uma voz que o mundo inteiro admirou. Mas me veio, enquanto eu ouvia aquilo, me veio ao espírito o seguinte: “Você, Plinio, você gostaria de ter a voz do Caruso?” Podia vir na cabeça de outros também a mesma pergunta. Resposta: “Deus não me deu uma voz do Caruso. Se Deus não me deu, eu não quero ter. Mas eu dou graças a Deus que deu ao Caruso aquela voz. Aonde eu vejo um pouco o reflexo de Deus na voz do Caruso”.

E assim eu ouvi com gosto ainda maior o disco do Caruso. Está claro isso, ou não?

(Claríssimo)

Então, vocês entre si. Vocês vivem muito entre si, se encontram todo dia, estão todos juntos etc. É mais ou menos fatal que vocês tenham qualidades desiguais. Um de vocês, vamos dizer, é muito inteligente. O outro tem uma inteligência comum. Um outro é muito engraçado, e um outro, pelo contrário, não é engraçado, é meio pesadão. E daí para fora… força física diferente, todos os homens são diferentes. Quando vocês notarem em algum amigo uma coisa diferente, não invejem! Vocês fiquem contentes e deem graças a Deus. Aquele, na proporção em que ele tem uma qualidade maior do que a de algum de vocês, naquilo ele é uma imagem de Deus para vocês. E deve agradecer a Deus.

“Está bom, mas eu não tenho!” Mas Deus lhe deu um papel mais bonito do que o de ser admirável: é o papel de admirar! O papel de ser humilde, não querer ser mais do que os outros, e admirar!

Não acha que é bonito?

[Magnífico]

Nossa Senhora no “Magnificat” – vocês conhecem a canção que Ela cantou quando visitou Santa Isabel: “Magnificat anima mea Dominum”…

Bem, tem um momento em que Nossa Senhora diz: “Deposuit potentes de sede, et exaltavit humiles – Deus destituiu os poderosos das cátedras ou dos tronos em que estão, para elevar os que são humildes”.

Quer dizer, quando o sujeito é “mega” [orgulhoso], Deus o joga no chão! E quando o sujeito é humilde, e se alegra de ver a grandeza dos outros, Deus o eleva.

Está claro? Então, foram feitas duas perguntas, não é? Mas eu tenho pouco tempo… Uma das muitas coisas que Deus me deu pouco, foi o tempo. De maneira que não podemos esticar mais…

(Aparte inaudível)

Sim… se alguma vez eu aparecer na Bahia, vamos ficar… É um velho plano. Eu já estive na Bahia duas vezes. Deslumbrei-me com a praia da Amaralina. Naquele tempo, não sei se hoje ainda é assim, naquele tempo quando se vinha do aeroporto para a cidade de Salvador passava-se pela praia da Amaralina. Não sei se hoje ainda é isso, ou se mudou o caminho?

(Aparte: Mudou o caminho. A praia hoje não é aquilo que o senhor viu)

Bom, isso… Nada mais é o que foi. Mas naquele tempo a praia de Amaralina era linda! O mar é sempre uma beleza, eu tenho encantos pelo mar! Depois, a areia branca, o vento tocava e fazia assim montinhos… A praia toda cheia de palmeiras, e as palmeiras todas elas viradas numa certa direção, que era o vento que batia e batia tanto naquela direção que as árvores não voltaram mais ao normal. Era poético, era uma beleza.

Eu olho para o pessoal que estava no ônibus, para ver se eles não comentavam. Não! A alma contemporânea perdeu a ocasião de se maravilhar…

Vocês não acharam que a história de São Pedro Armengol é maravilhosa?

[Sim, uma maravilha!]

Vocês tentem contar para qualquer um: ele não acha uma maravilha. Acha uma bobagem. Era melhor São Pedro Armengol em vez de ter feito tudo quanto fez, ter uma oficina para consertar automóveis, ou uma banca para câmbio negro ou para vendas de drogas. Porque é o que dá dinheiro. Dinheiro é o rei do mundo hoje, porque o demônio é o rei do mundo hoje. Está claro?

Bem, então, meus caros, vamos agora rezar três Ave-marias para Nossa Senhora dar a vocês muita devoção a Ela, humildade e castidade. Quem quer ser casto, seja humilde. Em geral, quando tem um rapaz qualquer que tem dificuldade em manter a castidade, é porque é mega. Combata a megalice, que a impureza diminui e desaparece.

Nota: Para ler os comentários integrais do “Ambientes e Costumes” que ilustra o presente áudio, clique aqui.

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