Auditório Nossa Senhora Auxiliadora, quarta-feira, 18 de novembro de 1992
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Continuação da leitura de “Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana”, a pedido do auditório da TFP, a fim de que Dr. Plinio o comentasse.
Capítulo V: Elites, ordem natural, família e tradição – Instituições aristocráticas nas democracias – O ensinamento de Pio XII
No capítulo anterior considerou-se o ensinamento de Pio XII a respeito da missão da nobreza nos dias atuais. Cabe agora analisar a doutrina do Pontífice sobre o papel que toca às elites tradicionais – e entre elas, principalmente, à nobreza – no sentido de preservar a tradição e, deste modo, ser fator de progresso; e sobre a perenidade dessas mesmas elites, inclusive a sua perfeita compatibilidade com uma democracia verdadeira.
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Formação de elites até em países sem passado monárquico ou aristocrático
Eu chamo a atenção dos Srs. nesse capítulo porque interessa especialmente ao continente americano.
No continente americano houve três países com algum passado monárquico. Dois tiveram [no] passado, hoje ainda um tem [no] presente.
O passado monárquico foi do Brasil, os Srs. todos sabem, mais o do México, que teve muito temporariamente como imperador Maximiliano de Habsburg, que foi executado pelos revolucionários em Querétaro. Quer dizer, não teve tempo de fixar instituições monárquicas no México.
Depois há no Canadá, onde a rainha da Inglaterra é rainha do Canadá. Onde também as instituições monárquicas se firmaram pouco, porque não se estabeleceu uma Câmara dos Lordes, nem todo o cerimonial, toda pompa e toda etiqueta da corte inglesa, mas, enfim, um certo perfume da monarquia por lá ficou.
Então, se pode dizer de modo geral que o passado monárquico nosso foi o passado colonial. Tanto da América do Norte, quanto da América Central e da América do Sul.
Isto vai ser objeto, como os Srs. verão depois, de um estudo em cada grupo de países sul-americanos. Quer dizer, há no livro na edição de língua portuguesa uma nota sobre as elites tradicionais no passado brasileiro, depois no passado das nações hispano-americanas, depois no passado da Inglaterra e alguma coisa do Canadá. De maneira que se deve ter uma informação opulenta a respeito deste ponto que é de uma importância capital: é como é que uma elite se forma e se torna tradicional. Porque essa é exatamente a matéria-prima de que se faz uma nobreza verdadeira e não uma nobreza de nouveau-riche, de parvenu, de aventureiros, mas uma nobreza verdadeira. Isto é um fenômeno natural.
Como é que esse fenômeno se desenvolve nas sua autenticidade? Este ponto interessa maximamente para quem deseja que haja elites e que, portanto, não quer fabricá-las, mas quer que elas nasçam espontaneamente, como, por exemplo, dentro de uma ostra nasce a pérola.
A formação de elites tradicionais, com um tônus aristocrático, é fato tão profundamente natural, que se manifesta mesmo em países sem passado monárquico ou aristocrático:
“Também nas democracias de recente data, e que não têm atrás de si qualquer vestígio de um passado feudal, foi-se formando, pela própria força das coisas, uma espécie de nova nobreza ou aristocracia. Tal é a comunidade das famílias que, por tradição, põem todas as suas energias ao serviço do Estado, do seu governo, da administração, e com cuja fidelidade ele pode contar a qualquer momento”.
Os Srs. notam, portanto, que permanece no que diz respeito às elites tradicionais o pensamento que existe quanto à nobreza. É uma classe que existe para o serviço do país, e que dedica todo o seu esforço a isto. Mas não faz isso artificialmente, é o jogo natural das circunstâncias.
Quer dizer, essas famílias têm interesses que são interesse] comuns ao bem do país, comuns à toda a nação, e por causa deste interesse a família se joga, se atira, na promoção dos interesses coletivos do país. Mas esta tarefa alarga o espírito da família e ela toma um amor, ela toma uma identidade, uma conaturalidade, pela qual ela passa a representar o país, a ser como que uma face do país. Aí a elite tradicional está constituída.
Como isto é muito importante, eu pergunto se alguém, sobre esse ponto, quer me fazer uma pergunta.
Magnífica definição do que seja a essência da nobreza, que faz lembrar as grandes estirpes de colonizadores, desbravadores e plantadores, que durante séculos fizeram o progresso das Américas, e que, mantendo-se fiéis às suas tradições, constituem preciosa riqueza moral da sociedade em que vivem.
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A hereditariedade nas elites tradicionais