Devemos desejar a exaltação da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, agora! E isto refletindo nas leis, nos modos de ser, na linguagem, na decoração ou na polidez

Auditório São Miguel, Correspondentes Esclarecedores norte-americanos, 26 de junho de 1984

 

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

 

(…) significa a grande união de alma que existe entre nós, aos pés de Nossa Senhora.
A essa união de almas, fundamentalmente, eu sou mais sensível do que a tudo. Eu sinto essa união de almas nos nossos Encontros, desde o primeiro momento em que nos encontramos, todas as vezes que chegam, é como uma espécie de tufão agradavelmente quente, carregado de aromas. Esse convívio dentro da compreensão mútua nos torna a todos nós mais ardorosos na defesa da causa de Nossa Senhora.
Aí a gente toca com as mãos o que Nosso Senhor disse: “Sempre que dois ou mais estiverem juntos em Meu nome, Ele estará também presente”.
Não há, para quem está neste vale de lágrimas, coisa mais agradável do que o convívio daqueles que são um só conosco nos mesmos ideais. E, por esta forma, esses poucos momentos de convívio que eu tenho são para mim um verdadeiro prazer.
Todas essas lembranças aqui dadas, tantas vezes marcadas por uma intenção especial, quer dizer, é porque são dietéticas, é porque eu gostaria etc., etc., manifesta um traço comum entre a alma do brasileiro e a do norte-americano. Apesar das distâncias geográficas que há entre nós, as diferenças étnicas entre muitos, apesar disso há uma forma de abertura de coração que o ambiente norte-americano dá. E é uma característica norte-americana. A seu modo isso também existe no brasileiro, que é muito afetivo e que gosta de ser tratado assim e gosta de tratar assim.
Há, portanto, um como que arco-íris pousando entre os dois povos. Isso existe por uma tradição cristã presente num povo e noutro. Celebremos isso pelo prazer de estarmos juntos agora.
Eu não posso perder de vista o fato muito grato para mim de que a África do Sul também está representada aqui. E também o Canadá, nos juntamos admiravelmente para constituir um todo.
Ainda sobre os canadenses e sul africanos haveria muito a dizer, mas eu acho que um tema mais alto do que esse que tratamos agora nos atrai: é a graça nova. E eu proponho que, portanto, nós subamos mais um degrau e nós encontremos nos patamares iluminados da graça nova. Será talvez um pouco árduo porque o tema que pediram que eu tratasse, que é a graça nova, é um tema subtil.
Deus que é o criador do universo, pôs subtileza numa quantidade incontável de obras dEle, especialmente nas coisas do espírito. Não é possível tratar, portanto, da matéria, sem fazer uma porção de distinções, uma porção de especificações que entretanto são indispensáveis para que eles, que são os beneficiados da graça nova, compreendam que estrela que lhes caiu do céu na mão. E, portanto, se permitirem, eu encontro desde já no assunto. Vamos tratar da graça nova.
Há uma pergunta fundamental que é a seguinte – a graça nova se reduz ao seguinte: ao fato de que a pessoa, recebendo essa graça, tem a intenção de viver como um bom católico a sua vida individual e de família?
É preciso dizer, antes de tudo, que a pessoa que vive segundo os Mandamentos de Deus a sua vida individual e a sua vida de família é digna de um alto apreço. Eu estou longe, portanto, de querer ter qualquer expressão que diminua o valor desta condição, desta situação de alma.
Mas, eu sou obrigado a mostrar no que é que a graça nova é muito mais do isso. Ao afirmar isso, mostrarei que é tão mais alta que aí nós compreenderemos bem o que a graça nova é.
Considerem um católico do primeiro tipo que falei, um católico que vive no estado de graça e que leva sua vida preocupado em ir ao Céu, em levar sua família para o céu, etc. Certamente, um tal católico tem desejo da salvação das outras almas. Certamente ele tem também um certo desejo de progredir na virtude. Ele é, portanto, em alguma medida, um homem de um ideal de purificação individual, de santificação individual cada vez maior e ele tem o desejo, quando ele encontra no seu caminho pessoas necessitadas espiritualmente, ele tem o desejo de lhes fazer algum bem.
Certamente o que tem a graça nova, se pressupõe nele que tenha tudo isso. Mas a diferença começa se acusar agora. Quem tem a graça nova, de um modo mais ou menos claro ou mais ou menos confuso, ele é favorecido pela graça com um conhecimento especial da gravidade do pecado de Revolução, da extensão desse pecado, da iminência de uma ruína moral e cultural e material completa que ameaça a humanidade e, em função disso, ele é convidado por um impulso interno da graça a lutar contra isso, a ter a ideia de que ele não pode viver contente num mundo assim, que não lhe basta salvar-se e salvar aos seus. O mundo está dominado por um dragão, um demônio e é preciso acabar com ele.
(Aplausos)
A afirmação que vou fazer é um pouco ousada. Eu precisaria fazer um estudo mais profundo para transformá-la verdadeiramente numa afirmação. Mas as coisas se passam como se a graça nova fosse um pouco do dom do discernimento dos espíritos, dom do Espírito Santo. O próprio do discernimento dos espíritos é quando a pessoa é favorecida por esta graça, simplesmente ao ouvir expor uma doutrina, ao ouvir uma pessoa lançar uma opinião sobre um fato concreto, ou até por coisas menores, como o modo de cumprimentar ou de sentar, se percebe toda uma virtude daquela pessoa. Ou o contrário, toda uma cratera de defeitos. O espírito da Revolução é discernido pelos que tem essa graça nova.
Isso não quer dizer que nós sejamos teólogos, e que nós sejamos grandes psicólogos, e que nós sejamos grandes intelectuais. Às vezes nós vemos multidões inteiras dotadas de um discernimento assim. Por exemplo, as multidões que iam visitar o Cura D’Ars na França, no século passado, São João Batista Vianney. Ele não era um grande orador, pelo contrário muitíssimo medíocre; ele tinha apenas a cultura religiosa suficiente para exercer o ministério sacerdotal. Mas as multidões o viam e se fascinavam com a santidade dele.
  1. Chautard, no livro dele, “Alma de todo apostolado” -, um livro elogiado por escrito por São Pio X, aqueles dos senhores que não conheçam, eu recomendo que leiam, porque é certo que deve haver várias edições dele em inglês -, D. Chautard conta o caso de um advogado francês que foi a Ars, do fundo de uma região de segunda ordem da França. Quando ele voltou, perguntaram para ele: “O que você viu em Ars”? Dando a entender que esse vigário de Ars era um homem muito comum, o que podia ter de especial?
O advogado deu essa resposta lapidar que revela o discernimento dos espíritos que o advogado tinha. A resposta foi: “Eu vi Deus num homem”. Acabou-se.
 Assim também, quem tem a graça nova de um modo ora mais explícito, ora menos explícito, discerne o espírito mau que é o espírito de Revolução e se toma de um horror a esse espírito como diante do próprio demônio. Mas isto vem acompanhado ou precede até um discernimento da santidade que há na Igreja, de todas as mil perfeições da Igreja católica, donde a pessoa é levada a perceber a incompatibilidade entre a Revolução e a Igreja.
Nessa época de crise da Igreja e de autodemolição, é muito bonito ver como as pessoas que tem uma vocação contra-revolucionária verdadeira, discernem nos lampejos que restam da Igreja a beleza dela inteira, mais ou menos como durante a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando Ele estava de tal maneira coberto de feridas e de escarros e de imundices que atiravam nEle, que um dos profetas, escrevendo sobre Ele de antemão, punha nos lábios dEle esta expressão: “Do alto da cabeça até a planta dos pés, nada em mim é são”.
Um outro profeta punha nos lábios dEle isso: “Eu sou um verme e não um homem, o opróbrio dos homens e o escárnio dos povos”.
Quando se considera a fotografia do Sacro Volto de Turim, vê-se Nosso Senhor todo desfigurado e sem vida, mas quem O olha com amor, olha e percebe por debaixo daquilo tudo a perfeição dEle e tem vontade de exclamar: ó Meu Deus!
Quer dizer, nada dos desfiguramentos superficiais afeta a beleza profunda. O homem que olha com fé, discerne o verdadeiro Homem-Deus nEle. E, diante daquele cadáver, tem a impressão de que até aqueles olhos fechados veem; que aqueles lábios imóveis falam; que há um coração pulsando de amor naquele cadáver; e nenhum rei foi nem jamais será grande e majestoso como aquele grande derrotado.
A graça nova leva a pessoa a ver isto na Igreja católica. E nos fragmentos que restam de tantas instituições católicas, nós fazemos o papel de arqueologistas. Examinamos os cacos que estão no chão e exclamamos: ó palácio! Mais ainda: ó templo! Nós fazemos o que está no Antigo Testamento quando o templo de Jerusalém foi derrubado por ocasião do êxodo dos judeus para a Síria. O profeta disse: Eu amo o Templo; se destruírem o Templo, eu amarei as pedras; se destruírem as pedras eu amarei o pó em que essas pedras se desfizerem”.
Nesse pó de instituições católicas destruídas pela autodemolição, nós osculamos o pó e dizemos: ó pó do Templo! A Igreja é imortal!
(Aplausos)
Note bem que não se trata aqui de uma meditação piedosa sobre a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo que é repetida hoje pela Igreja. É essa meditação, mas a meditação alimentada pelo discernimento de tudo quanto há de real nisso. O homem tocado pela graça nova, ele se molesta com tudo o que é da Revolução. O mundo da Revolução lhe é inóspito e inabitável. Pelo contrário, encontra uma roda que verdadeiramente sente isso como nós dizemos, ele se sente em casa imediatamente. Essa é a graça nova.
Ela conduz ao desejo não de ter um espírito católico correto, mas muito mais do que isso: ter o espírito da Igreja até o último ponto onde se pode chegar. O máximo do amor, o máximo da coerência no admitir os princípios, o máximo de dedicação para fazê-los vencer. A graça nova nos dá o começo de uma grande combatividade e de uma antecipada certeza de vitória.
(Aplausos)
É claro que a pessoa tocada pela graça nova deve levar uma vida normal. Quer dizer, deve ter sua casa, seus negócios, suas coisas, normalmente arranjados; deve ter um cuidado normal com sua saúde, mas essas coisas representam para a pessoa chamado para uma tão alta noção das coisas mais ou menos o que a tenda representa para o soldado que está no exército em guerra. Precisa ter uma tenda limpa e arranjada, mas ele não está ali por causa da tenda, ele está por causa do inimigo!
(Aplausos)
Ele não está, portanto, fazendo um piquenique, em que se tem preocupação do bem estar, da segurança ao ar livre. Não! Ele vai à procura do perigo. Ele ver a vitória de sua pátria e essa pátria que nós queremos vencer na nossa luta é o Céu.
Eu estou chegando ao fim.
No Gloria Patri, que todos nós recitamos tantas vezes, há uma palavrinha composta de 4 letras, que talvez por isso passe desapercebida: Gloria Patri et Filio, et Spiritui Sancto sicut erat in princípio, et agora vem a palavrinha – NUNC. Em inglês mais rápido ainda: NOW.
[Aplausos]
et semper, et in saecula saeculorum. Amen.
Now, o quer dizer now? O que é a glória de Deus agora? Há uma palavra castelhana para a qual eu não encontro no português uma tradução muito exata, talvez não tenha também em inglês, não sei. É a palavra “encumbramiento” [exaltação]. “Cumbre” é o alto da montanha. “Encumbramento” é ser posto no alto da montanha.
Nós devemos desejar o “encumbramiento” da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, agora!
(Aplausos)
Essa noção de encumbramiento talvez encontre sua tradução adequada no exaltatio em latim. Quando Leão XIII manda rezar naquele exorcismo depois da Missa, pro exaltatione Sancte Matris Eclesiae, o sentido é este, o “encumbrimiento” da Santa Igreja.
Qual é o “encumbramiento” da Santa Igreja nesta época em que está “encumbrada” a Revolução?
É que a Igreja tenha toda a importância que tem hoje a Revolução e muito mais ainda. Quer dizer, que a Igreja, antes de tudo, esteja reluzida aos olhos dos homens com a plenitude de sua perfeição interior. Infelizmente, na atual crise postconciliar, isso está tão abafado, tão mortiço, embora na sua substância a santidade intrínseca da Igreja não tenha sofrido nenhum atentado.
Mas nós devemos desejar também uma ordem temporal em que em todas as instituições, leis, costumes, modos de ser, maneiras de ser, tudo, nos últimos detalhes da linguagem, da decoração ou da polidez, haja uma intensa presença do espírito da Igreja. Esta é a exaltatio é o encumbramiento!
Nós devemos esperar que na vida de muitos de nós ainda alcancemos essa exaltatio, esse encumbramiento. Mas é possível que alguns de nós não cheguemos a isso; o que sobretudo é provável comigo que sou decano.
(Nããããooooo!)
Mas, assim como os medievais que construíam catedrais morriam em paz junto às catedrais inacabadas e muitos cruzados morriam na glória, durante a batalha sabendo que não tinham ainda chegado a Jerusalém, nós também olhamos para o futuro e dizemos: estamos caminhando para o encumbramiento.
Penetraremos, pelo favor de Nossa Senhora, penetraremos no Céu para contemplar a glória de Deus semper. Mas com o coração cheio de desejo de glória dEle nunc.
Eu me alonguei um pouco demais sobre essa matéria e termino contando um casinho, para terem ideia das maravilhas da graça nova.
Nós conhecemos o caso – foi mesmo um dos primeiros núcleos de graça nova aqui em São Paulo, foi um caso assim: eles devem ter visto que a cidade de São Paulo ocupa uma superfície territorial enorme, porque os grandes edifícios estão no centro. O resto é ocupado por casinhas que se espalham quase ao infinito por todas as direções, de maneira que um paulistano ter notícias de outro paulistano com quem não tem contato comum é como ter notícia de alguém que está do outro lado do oceano. Com certeza isso, de um ou de outro modo também se dará ainda mais nas enormes cidades norte-americanas.
Nós soubemos que um grupo desses bairros mais afastados de São Paulo estava dando passos laboriosos para identificar-nos, porque tinham ouvido falar alguma coisa de TFP. Mas sabiam vagamente o que era. Afinal nós facilitamos o contato, fomos de encontro a eles.
Encontramos a seguinte situação: era uma paróquia de São Paulo com um grande número de católicos que frequentava a paróquia, um bom número deles bastante fervorosos. Foi nomeado para lá um vigário tipo Revolução, bem entendido, revolução postconciliar.
Eles eram pessoas muito modestas, quase sem instrução, e notaram que o vigário estava trazendo uma revolução completa na paróquia. E que era o contrário da religião que eles tinham aprendido.
Procuraram examinar o bispo e viram que o bispo dava apoio ao vigário. Ficaram perplexos, mas disseram: “a Igreja católica não muda, Ela deve estar em outro lugar, aqui não está”!
Começaram procurar, procurar. De desilusão em desilusão um deles disse: “Nós temos encontrado na rua um estandarte vermelho e uns moços com capa vermelha. Vamos ver se estes têm o espírito da verdadeira Igreja”.
Demos todo apoio, grande encontro, grande confraternização. Esses simples operários foram ponto de partida de toda uma irradiação desta ação em outros bairros operários. Eles hoje trabalham dedicadamente com a TFP. Famílias inteiras que têm sua vida em ordem, trabalham, tem vida normal, mas procuram, outros operários, procuram outras pessoas continuamente para lhes falar da verdadeira Igreja, da Revolução e da Contra-Revolução. Recebem ameaças de perder o emprego; as senhoras de serem perseguidas e congeladas em todas as relações sociais; os homens de sofrerem até atentados – houve um atentado. Um deles tem uma modesta pequena loja de artigos de fotografia. Deram uns tiros de revólver na vitrina da loja dele, porque dentro tinha uma fotografia da TFP em campanha. Ele não se incomodou e manteve a fotografia dentro da vitrina.
Eles sonham com a realização da promessa de Fátima: “por fim Meu Imaculado Coração triunfará!” Essa é a graça nova.
(Aplausos)
Teriam alguma pergunta a fazer? Parece que eles tem outras perguntas a pôr?
(Sr. Mario: o Sr. poderia dizer qual é o papel dos suportes americanos em função do que o senhor disse?)
Uma das surpresas mais agradáveis que eu tive em minha vida foi de ver, de repente, as pontes levadiças da TFP norte-americana se abaixarem e se aproximar o pessoal da graça nova. Há sintonias disso na África do Sul e também no Canadá.
Eu julgo que nesses 3 países – mas eu estou falando para um auditório sobretudo norte-americano – nesses três países a graça nova convida as almas. Mas eu creio que nenhum país, a que eu tenha visto até o momento, está na frente dos Estados Unidos nessa matéria.
O que me espanta é que é um dos poucos países prósperos que restam no mundo. E que, ao contrário do que os povos que não são ricos imaginam, os americanos tocados pela graça nova não vivem ébrios com a própria riqueza. É um povo que ainda não começou a sofrer, mas que tende a praticar um desapego, não todos do povo, mas certos laivos dentro do povo tendem a praticar um desapego que só o sofrimento dá.
Eles sabem que eu costumo analisar as pessoas. Quando começaram a vir aqui os primeiros americanos da graça nova, eu me pus a questão: o que se passa na cabeça deles?
Vejam a contradição. Regra geral: desapego é fruto do sofrimento. Ora, segundo princípio, como nação eles não sofrem; o que é perfeitamente verdadeiro para o Canadá, é apenas em parte verdadeiro para a África do Sul, que começa a ser sacudida pelo vendaval.
Como é que eles têm na alma, sem sofrimento, algo que só o sofrimento dá? E eu formei esta explicação, que é uma certeza para mim, ou pelo menos está muito próximo de ser a certeza: há qualquer coisa da Revolução que está em vias de fracassar nos Estados Unidos, por onde a festa do progresso nos Estados Unidos continua igualmente festiva, e há muita gente ébria com essa festa, mas está crescendo o número dos espíritos elevados em todos os graus da sociedade e da cultura.
Mas eu suponho que sobretudo nos graus médios e menores e menos nos maiores, começa dar-se esta coisa excelente: eles sentem que a festa do progresso não corresponde às exigências das almas deles. A festa é menor do que a dimensão da alma deles. E daí uma insatisfação e o tédio que leva a sonhar com outra coisa, subconscientemente, o mais das vezes. Mas que prepara para desejar algo de ideal que não existe e que se explicita quando eles ouvem explicar a palavra NUNC.
Quer dizer, há uma série de norte-americanos que percebendo ou não percebendo, tem este desejo de outra coisa muito mais alta, muito mais nobre, muito mais virtuosa, muito maior.
Agora, é gente que na maior parte dos casos, eu suponho que não tenha explicitado isso para si. Outras vezes explicitam, mas se sentem tão isolados que nem falam.
O Correspondente-esclarecedor é como um homem ou uma senhora que caminha com uma lanterna na noite, e diz para as almas adormecidas ou isoladas: a hora chegou!
(Aplausos)
Frequentar os ambientes onde se está ou os ambientes onde se pode ir, saber procurar ali quais as pessoas que subconscientemente, ou no silêncio e no isolamento, olham para quem passa e perguntam: serás tu que me dirás que chegou a hora?
Saber encontrar essa gente e dizer: “chegou a hora!” é a tarefa dos correspondentes e esclarecedores. Articulá-los, pô-los em contato uns com os outros, formar rodas de pessoas que se encontram sempre e conversam, fazer com que esses procurem outros tão longe quanto o olhar possa alcançar. Essa é a tarefa do correspondente-esclarecedor.
Está claro?
(Aplausos)
Há uma questão que não sei se interessa ou não a eles, que trate, que é a seguinte: de que utilidade podem ser os que são contrários a nós, e discutir com eles. De que utilidade pode ser para esse trabalho de detectação e de articulação. Para esse trabalho de detectação e de articulação quando é que deve sorrir e quando é que se deve combater. Não sei se interessaria.
O tempo já está esgotado. Se preferirem outra pergunta, eu cancelo essa e respondo com todo gosto outra pergunta.
(Nunc, nunc!)
Todo mundo tem a impressão, quer dizer, é frequente um erro de que nós, na expansão de nossas ideias, devemos ter as habilidades que tem um vendedor comercial: sorrir sempre, ser sempre simpático, nunca discutir, nunca dizer “não”, a não ser na hora em que o pagador está atrasado e não quer pagar… Aí muda o negócio.
Isso é apenas em parte verdade.
É preciso ser amável, é preciso saber sorrir. Eu não quero apresentar a Contra-Revolução como uma bruxa melancólica e neurastênica. Não é este o “lumen Christi” [luz de Cristo]. Mas eu afirmo que é falsa a seguinte posição: não discutir nunca, não dizer nunca o contrário do que diz alguém.
Em geral, cada ambiente social se constitui em torno de duas, três ou quatro líderes e esses líderes habitualmente são revolucionários. E tem uma ação consciente ou subconsciente por onde os que são contra-revolucionários ficam inibidos.
Eu dou um exemplo, o mais comum possível: um clube de xadrez. Tem um certo prestígio os que jogam melhor. Mas fora da hora do jogo de xadrez, quando chega a hora do lanche, na hora em que há, portanto, uma vida social, as pessoas mais revolucionárias do ambiente criam a impressão de que elas são as mais aplaudidas por todo ambiente do mundo.
Se se apresenta uma jogadora de xadrez com uma mini saia, ela se senta com a segurança de quem está sendo aplaudida pelo mundo inteiro, e olha para a companheira que está com a saia digna, decente, um pouco como quem pensa o seguinte: “Você é atrasada, você é errada, você não tem os aplausos, quem tem sou eu”. Um certo desprezo.
Isso é exemplo minúsculo, se encontra a todo momento, de todos os modos. Quanto mais extravagante, mais mau gosto e mais imoral, tanto maior a segurança. Quanto maior a virtude, tanto mais a insegurança.
A Contra-Revolução faz o papel de uma força esmagada e minoritária. Isso é uma coisa que a pessoa, o Correspondente da TFP deve saber derrubar. Não é fácil, mas deve ser assim.
Quer dizer, ser sempre amável, mas tão seguro de si que deve andar como se pouco tempo antes tivesse recebido uma grande manifestação, e ostentar o seu lado contra-revolucionário sem arrogância, mas com um garbo que exclua a ideia de que a gente admira aquele outro. Seria como se dois cruzadores se encontrassem, em frente ao outro, e se batessem com os cascos.
Uma prática que eu não sei se é possível nos EEUU, aí é toda uma questão de acomodação que eu não sei dizer, só depois de eu ter estado lá é que posso dizer…
(Aplausos)
Mas, por exemplo, aqui no Brasil e nos outros países dá um resultado muito grande, é indo aos restaurantes, antes de sentar, nome do Padre grande, pequena oração quieto, novo nome do Padre. Depois chama o garçom: “Quero tal coisa, tal outra, tal outra”. E olhar para todo o mundo com a segurança de quem não tivesse dado um santo escândalo.
(Aplausos)
Choca muitas pessoas. Mas, as almas que estão esperando que a gente chegue, vendo esse exemplo, no dia seguinte vão sacudir os seus próprios líderes, nós promovemos a revolução nas fileiras da Revolução.
Eu me lembro que eu comecei a lecionar muito moço. Era uns 5 ou 6 anos mais velho do que os meus alunos, na Faculdade de Direito de São Paulo. Era uma faculdade muito revolucionária e laica. Todos sabiam que eu era católico. E eu percebia que havia uma tendência a criar um clima de desordem na minha aula por eu ser muito moço e também, e principalmente, por eu ser católico. Mais definidamente todos sabiam que eu guardava a pureza. E um moço puro dava ideia de moço mole.
Eu pensei: ou eu quebro essa onda logo no começo, ou a onda me quebra. A Faculdade de Direito tinha umas cátedras altas, monumentais. Eu subia para a cátedra com o ar normal de um homem que estava subindo à altura que lhe era própria. É professor? Aquele é lugar do professor? É o meu, pronto!
Olhava os alunos examinado um por um, com o olhar. E começava diretamente a dizer as coisas mais contra-revolucionárias possíveis. O ambiente da Faculdade de Direito era um ambiente de idolatria da Revolução Francesa: eu comecei falando os piores horrores da Revolução Francesa.
Eles tentaram duas táticas contra, organizadas. A primeira tática foi alunos que se levantavam para protestar. Se era protesto isolado, eu deixava falar e respondia. Se eram alguns e tomava caráter de desordem, eu punha fora da sala.
Quando eles viram que isso não dava resultado, começaram usar outra tática: risinhos e conversinhas. Eu disse: eu também pego isso! Conversinha, eu pegava o líder da conversinha, e dizia psst: fora da sala! A roda toda ficava quieta.
Uma vez um deles que eu mandei fora, me interrompeu e me disse: Professor, o senhor me dá licença? Eu disse a ele com uma espécie de amabilidade, eu estava vendo que era bobagem que ele ia fazer, eu disse: pois não! Amável.
Ele disse: “Posso saber por que o senhor está me pondo fora da sala”?
Eu fingi que caía na armadilha, e disse a ele: “Porque o senhor estava falando”.
Ele me perguntou: “Que provas o senhor tem disso”?
Se eu chamasse como testemunha os colegas, eram os cúmplices dele e diriam que ele não estava falando. Se eu dissesse que não tinha testemunhas, eu estava desabonado. Eu tomei assim muita segurança e disse a ele: “Eu lhe dou a prova decisiva”.
Ele rejubilou-se e disse: Qual é”?
– Minha palavra de professor. Fora!
(Aplausos)
Quer dizer, às vezes os Correspondentes devem fazer algumas coisas assim. Fora dessas ocasiões, eu era muito amável com os alunos, muito amável. Mas era só encontrar revolucionária, eu quebrava a resistência! Saber sorrir, saber quebrar e, sobretudo, saber rezar.
(Aplausos)

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