Auditório São Miguel, Correspondentes Esclarecedores norte-americanos, 26 de junho de 1984
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
(…) significa a grande união de alma que existe entre nós, aos pés de Nossa Senhora.
A essa união de almas, fundamentalmente, eu sou mais sensível do que a tudo. Eu sinto essa união de almas nos nossos Encontros, desde o primeiro momento em que nos encontramos, todas as vezes que chegam, é como uma espécie de tufão agradavelmente quente, carregado de aromas. Esse convívio dentro da compreensão mútua nos torna a todos nós mais ardorosos na defesa da causa de Nossa Senhora.
Aí a gente toca com as mãos o que Nosso Senhor disse: “Sempre que dois ou mais estiverem juntos em Meu nome, Ele estará também presente”.
Não há, para quem está neste vale de lágrimas, coisa mais agradável do que o convívio daqueles que são um só conosco nos mesmos ideais. E, por esta forma, esses poucos momentos de convívio que eu tenho são para mim um verdadeiro prazer.
Todas essas lembranças aqui dadas, tantas vezes marcadas por uma intenção especial, quer dizer, é porque são dietéticas, é porque eu gostaria etc., etc., manifesta um traço comum entre a alma do brasileiro e a do norte-americano. Apesar das distâncias geográficas que há entre nós, as diferenças étnicas entre muitos, apesar disso há uma forma de abertura de coração que o ambiente norte-americano dá. E é uma característica norte-americana. A seu modo isso também existe no brasileiro, que é muito afetivo e que gosta de ser tratado assim e gosta de tratar assim.
Há, portanto, um como que arco-íris pousando entre os dois povos. Isso existe por uma tradição cristã presente num povo e noutro. Celebremos isso pelo prazer de estarmos juntos agora.
Eu não posso perder de vista o fato muito grato para mim de que a África do Sul também está representada aqui. E também o Canadá, nos juntamos admiravelmente para constituir um todo.
Ainda sobre os canadenses e sul africanos haveria muito a dizer, mas eu acho que um tema mais alto do que esse que tratamos agora nos atrai: é a graça nova. E eu proponho que, portanto, nós subamos mais um degrau e nós encontremos nos patamares iluminados da graça nova. Será talvez um pouco árduo porque o tema que pediram que eu tratasse, que é a graça nova, é um tema subtil.
Deus que é o criador do universo, pôs subtileza numa quantidade incontável de obras dEle, especialmente nas coisas do espírito. Não é possível tratar, portanto, da matéria, sem fazer uma porção de distinções, uma porção de especificações que entretanto são indispensáveis para que eles, que são os beneficiados da graça nova, compreendam que estrela que lhes caiu do céu na mão. E, portanto, se permitirem, eu encontro desde já no assunto. Vamos tratar da graça nova.
Há uma pergunta fundamental que é a seguinte – a graça nova se reduz ao seguinte: ao fato de que a pessoa, recebendo essa graça, tem a intenção de viver como um bom católico a sua vida individual e de família?
É preciso dizer, antes de tudo, que a pessoa que vive segundo os Mandamentos de Deus a sua vida individual e a sua vida de família é digna de um alto apreço. Eu estou longe, portanto, de querer ter qualquer expressão que diminua o valor desta condição, desta situação de alma.
Mas, eu sou obrigado a mostrar no que é que a graça nova é muito mais do isso. Ao afirmar isso, mostrarei que é tão mais alta que aí nós compreenderemos bem o que a graça nova é.
Considerem um católico do primeiro tipo que falei, um católico que vive no estado de graça e que leva sua vida preocupado em ir ao Céu, em levar sua família para o céu, etc. Certamente, um tal católico tem desejo da salvação das outras almas. Certamente ele tem também um certo desejo de progredir na virtude. Ele é, portanto, em alguma medida, um homem de um ideal de purificação individual, de santificação individual cada vez maior e ele tem o desejo, quando ele encontra no seu caminho pessoas necessitadas espiritualmente, ele tem o desejo de lhes fazer algum bem.
Certamente o que tem a graça nova, se pressupõe nele que tenha tudo isso. Mas a diferença começa se acusar agora. Quem tem a graça nova, de um modo mais ou menos claro ou mais ou menos confuso, ele é favorecido pela graça com um conhecimento especial da gravidade do pecado de Revolução, da extensão desse pecado, da iminência de uma ruína moral e cultural e material completa que ameaça a humanidade e, em função disso, ele é convidado por um impulso interno da graça a lutar contra isso, a ter a ideia de que ele não pode viver contente num mundo assim, que não lhe basta salvar-se e salvar aos seus. O mundo está dominado por um dragão, um demônio e é preciso acabar com ele.
(Aplausos)
A afirmação que vou fazer é um pouco ousada. Eu precisaria fazer um estudo mais profundo para transformá-la verdadeiramente numa afirmação. Mas as coisas se passam como se a graça nova fosse um pouco do dom do discernimento dos espíritos, dom do Espírito Santo. O próprio do discernimento dos espíritos é quando a pessoa é favorecida por esta graça, simplesmente ao ouvir expor uma doutrina, ao ouvir uma pessoa lançar uma opinião sobre um fato concreto, ou até por coisas menores, como o modo de cumprimentar ou de sentar, se percebe toda uma virtude daquela pessoa. Ou o contrário, toda uma cratera de defeitos. O espírito da Revolução é discernido pelos que tem essa graça nova.
Isso não quer dizer que nós sejamos teólogos, e que nós sejamos grandes psicólogos, e que nós sejamos grandes intelectuais. Às vezes nós vemos multidões inteiras dotadas de um discernimento assim. Por exemplo, as multidões que iam visitar o Cura D’Ars na França, no século passado, São João Batista Vianney. Ele não era um grande orador, pelo contrário muitíssimo medíocre; ele tinha apenas a cultura religiosa suficiente para exercer o ministério sacerdotal. Mas as multidões o viam e se fascinavam com a santidade dele.
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Chautard, no livro dele, “Alma de todo apostolado” -, um livro elogiado por escrito por São Pio X, aqueles dos senhores que não conheçam, eu recomendo que leiam, porque é certo que deve haver várias edições dele em inglês -, D. Chautard conta o caso de um advogado francês que foi a Ars, do fundo de uma região de segunda ordem da França. Quando ele voltou, perguntaram para ele: “O que você viu em Ars”? Dando a entender que esse vigário de Ars era um homem muito comum, o que podia ter de especial?