DEVOÇÃO MARIANA: fator decisivo no embate entre “Revolução e Contra-Revolução” (1970)

Catolicismo, Ano XXXIX, N.° 464, Agosto de 1989, pag. 4-8

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Escultura na catedral de Notre Dame de Paris, representando Nossa Senhora que liberta o monge Teófilo, o qual havia se consagrado ao demônio

Qual o nexo profundo existente entre a devoção a Nossa Senhora e a temática de “Revolução e Contra-Revolução” (a “RCR”, como é conhecida), obra fundamental do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira?

Tal é o objeto das admiráveis considerações, inéditas no Brasil, que a seguir publicamos. São elas parte integrante do Prólogo que o Prof. Plinio escreveu para a edição argentina da “RCR” (Buenos Aires, 1970).

A conturbada situação do mundo em que vivemos, proveniente da exacerbação dos erros revolucionários, torna especialmente oportuna esta publicação. Bem como nos leva a evocar, em nossa capa, a imagem de Nossa Senhora de Fátima, a Virgem cuja celeste mensagem nos adverte precisamente contra a tenebrosa face da Revolução em nossos dias — o comunismo — e de modo especial contra uma de suas molas propulsoras, a sensualidade. Ao mesmo tempo que aponta a devoção a Seu Imaculado Coração e ao Santo Rosário como remédio eficaz contra os males da Revolução.

Ademais, a preocupação em tornar claro aos olhos dos leitores o nexo entre a devoção a Nossa Senhora e a temática “RCR” não é só nossa. Do Sr. E. J. A. (Belo Horizonte-MG) recebemos o seguinte pedido, que vem de encontro a nosso propósito:

“Como assinante antigo, tenho observado que a revista publica pelo menos um artigo em cada edição sobre a devoção a Nossa Senhora. De outro lado, o livro ‘Revolução e Contra-Revolução’, do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, é citado freqüentemente. A devoção a Nossa Senhora e a temática de ‘Revolução e Contra-Revolução’ parecem ter certo nexo, mas que não chego a ver claramente. É por isso que lhes peço, com o objetivo de orientar muitos leitores que, creio, estarão com a mesma impressão, que ‘Catolicismo’ publique um artigo mostrando bem exatamente a relação entre esses dois temas, que parecem fundamentais na luta de ‘Catolicismo’.”

Os subtítulos são da redação.

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Pormenor da “pupitre” utilizada para as conferências na Sala do Reino de Maria, na Sede da Rua Maranhão, decorada pelo Prof. Plinio. O leão à esquerda está lutando contra uma serpente bicéfala simbolizando o orgulho e a sensualidade, as duas molas propulsoras da Revolução. E o da direita está enfrentando uma serpente com três cabeças, em recordação das três Revoluções. Ao centro, a frase “Residuum revertetur – O resto voltará”. O ano de 1571 evoca a vitória da Cristandade em Lepanto.

Comecemos por expor aqui al­guns pensamentos contidos em “Re­volução e Contra-Revolução”.

Orgulho e impureza na origem da Revolução

A Revolução é apresentada nessa obra como um imenso processo de ten­dências, doutrinas, transformações políticas, sociais e econômicas, derivado em última análise — eu seria tentado a dizer, em ultimissima análise — de uma deterioração moral provocada pe­los vícios fundamentais: o orgulho e a impureza, que suscitam no homem uma incompatibilidade profunda com a Doutrina Católica.

Com efeito, a Igreja Católica co­mo Ela é, a doutrina que ensina, o Universo que Deus criou e que pode­mos conhecer tão esplendidamente atra­vés de seus prismas, tudo isso excita no homem virtuoso, no homem puro e humilde, um profundo enlevo. Ele sente alegria ao considerar que a Igre­ja e o Universo são como são.

Porém, se uma pessoa cede algo ao vício do orgulho ou da impureza, começa a germinar nela uma incompa­tibilidade com vários aspectos da Igre­ja ou da ordem do Universo. Essa in­compatibilidade pode originar-se, por exemplo, de uma antipatia com o cará­ter hierárquico da Igreja, desdobrar-se em seguida e alcançar a hierarquia da sociedade temporal, para mais tar­de manifestar-se em relação à ordem hierárquica da família. E, assim, por várias formas de igualitarismo, uma pessoa pode chegar a uma posição me­tafísica de condenação de toda e qual­quer desigualdade, e do caráter hierár­quico do Universo. Seria o efeito do orgulho no campo da metafísica.

De modo análogo se podem deline­ar as conseqüências da impureza no pensamento humano. O homem impu­ro, em regra geral, começa por tender ao liberalismo: irrita-o a existência de um preceito, de um freio, de uma lei que circunscreva o desbordamento de seus sentidos. E, com isto, toda asce­se lhe parece antipática. Dessa antipa­tia, naturalmente, vem uma aversão ao próprio princípio de autoridade, e assim por diante. O anelo de um mun­do anárquico — no sentido etimológi­co da palavra — sem leis nem poderes constituídos, e no qual o próprio Esta­do não seja senão uma imensa coopera­tiva, é o ponto extremo do liberalis­mo gerado pela impureza.

Tanto do orgulho, quanto do libera­lismo, nasce o desejo de igualdade e liberdade totais, que é a medula do co­munismo.

A partir do orgulho e da impureza se vão formando os elementos constituti­vos de urna concepção diametralmen­te oposta à obra de Deus. Essa concep­ção, em seu aspecto final, já não dife­re da católica só em um ou outro pon­to. À medida que, ao longo das gera­ções esses vícios se vão aprofundando e tornando-se mais acentuados, vai-se estruturando toda uma concepção gnós­tica e revolucionária do Universo. A individuação, que para a gnose é o mal, é um princípio de desigualdade. A hierarquia — qualquer que seja — é filha da individuação. O Universo — segundo os gnósticos — resgata-se da individuação e da desigualdade num processo de destruição do “eu” que reintegra os indivíduos no grande To­do homogêneo. A realização, entre os homens, da igualdade absoluta, e de seu corolário, a liberdade completa — numa ordem de coisas anárquica — pode ser vista como uma etapa prepara­tória dessa reabsorção total.

Não é difícil perceber, nesta pers­pectiva, o nexo entre gnose e comunis­mo.

A devoção a Nossa Senhora é essencial para a Contra-Revolução

Assim, a doutrina da Revolução é a gnose, e suas causas últimas têm suas raízes no orgulho e na sensualida­de. Dado o caráter moral destas cau­sas, todo o problema da Revolução e da Contra-Revolução é, no fundo, e principalmente, um problema moral. O que se diz em “Revolução e Contra-Revolução” é que se não fosse pelo orgulho e pela sensualidade, a Revolu­ção, como movimento organizado no mundo inteiro, não existiria, não seria possível.

Ora, se no centro do problema da Revolução e da Contra-Revolução há uma questão moral, há também e emi­nentemente uma questão religiosa, por­que todas as questões morais são subs­tancialmente religiosas. Não há moral sem religião. Uma moral sem religião é o que de mais inconsistente se possa imaginar. Todo problema moral é, pois, fundamentalmente religioso. Sen­do assim, a luta entre a Revolução e a Contra-Revolução é uma luta que, em sua essência, é religiosa. Se é reli­giosa, se é uma crise moral que dá ori­gem ao espírito da Revolução, então, essa crise só pode ser evitada, só pode ser remediada com o auxílio da graça.

É um dogma da Igreja que os ho­mens não podem, somente com os re­cursos naturais, cumprir duravelmen­te, e em sua integridade, os preceitos da Moral católica, sintetizados na An­tiga e na Nova Lei. Para cumprir os Mandamentos, é necessária a existência da graça.

Por outro lado, se o homem cai em estado de pecado, acumulando-se nele as apetências pelo mal, a fortiori não conseguirá levantar-se do estado em que caiu sem o socorro da graça. Provindo da graça toda preservação moral verdadeira ou toda regeneração moral autêntica, é fácil ver o papel de Nossa Senhora na luta entre a Revolu­ção e a Contra-Revolução. A graça de­pende de Deus, mas Deus, por um ato livre de sua vontade, quis fazer depen­der de Nossa Senhora a distribuição das graças. Maria é a Medianeira Uni­versal, é o canal por onde passam to­das as graças. Portanto, seu auxílio é indispensável para que não haja Revo­lução, ou para que esta seja vencida pela Contra-Revolução. Com efeito, quem pede a graça por intermédio dE­la, a obtém. Quem tente conseguí-la sem o auxílio de Maria, não a obterá. Se os homens, recebendo a graça, cor­respondem a ela, está implícito que a Revolução desaparecerá. Pelo contrá­rio, se eles não corresponderem, é ine­vitável que a Revolução surja e triun­fe. Portanto, a devoção a Nossa Senho­ra é condição sine qua non para que a Revolução seja esmagada, para que vença a Contra-Revolução.

Insisto no que acabo de afirmar. Se uma nação for fiel às graças necessá­rias e até suficientes que recebe de Nos­sa Senhora, e se se generaliza nela a prática dos Mandamentos, é inevitável que a sociedade se estruture bem. Por­que, com a graça, vem a sabedoria, e com a sabedoria, todas as atividades do homem entrarão nos eixos.

Isso se verifica, de certo modo, com a análise do estado em que se encontra a civilização contemporânea. Construí­da sobre uma recusa da graça, alcan­çou alguns resultados estrepitosos. Es­tes, porém, devoram o homem. Na medida em que tem por base o laicis­mo e viola, sob vários aspectos, a or­dem natural ensinada pela Igreja, a ci­vilização atual é nociva ao homem.

Sempre que a devoção a Nossa Se­nhora seja ardorosa, profunda, de ri­ca substância teológica, é claro que a oração de quem pede será atendida. As graças choverão sobre a pessoa que reza a Ela devota e assiduamente. Se, pelo contrário, essa devoção for falsa ou tíbia, manchada por restrições de sabor jansenista ou protestante, há gra­ve risco de que a graça seja dada me­nos largamente, porque encontra por parte do homem nefastas resistências.

O que se diz do homem pode dizer-se, mutatis mutandis, da família, de uma região, de um país, ou de qual­quer outro grupo humano.

É costume dizer-se que na economia da graça, Nossa Senhora é o pescoço do Corpo Místico, do qual Nosso Se­nhor Jesus Cristo é a Cabeça, porque tudo passa por Ela.

A imagem é inteiramente verdadei­ra na vida espiritual. Um indivíduo que tem pouca devoção a Nossa Senhora é como alguém que tem uma corda atada ao pescoço e conserva apenas um fio de respiração. Quando não tem nenhuma devoção, se asfixia. Tendo uma grande devoção, o pescoço fica completamente livre e o ar penetra abun­dantemente no pulmão, podendo o ho­mem viver normalmente.

A esterilidade e até a nocividade de tudo quanto se faz contra a ação da graça, e a enorme fecundidade do que se faz com seu auxílio, determinam bem a posição de Nossa Senhora nes­se combate entre a Revolução e a Con­tra-Revolução, pois a intensidade das graças recebidas pelos homens depen­de da maior ou menor devoção que a Ela tiverem.

O concurso do espírito do mal

Uma visão da Revolução e da Con­tra-Revolução não pode ficar apenas nestas considerações. A Revolução não é o fruto da exclusiva maldade huma­na. Esta última abre as portas ao demô­nio, pelo qual se deixa estimular, exa­cerbar e dirigir.

É, pois, importante considerar, nes­ta matéria, a oposição entre Nossa Se­nhora e o demônio.

O papel do demônio na eclosão e nos progressos da Revolução foi enor­me. Como é lógico pensar, uma explo­são de paixões desordenadas tão pro­funda e tão geral como a que originou a Revolução não teria ocorrido sem uma ação preternatural. Além disso, seria difícil que o homem alcançasse os extremos de crueldade, de impieda­de e de cinismo, aos quais a Revolução chegou várias vezes ao longo de sua história, sem o concurso do espírito do mal.

Ora, esse fator de propulsão tão forte está inteiramente na dependência de Nossa Senhora. Basta que Ela ful­mine um ato de seu império sobre o in­ferno, para que ele estremeça, se con­funda, se encolha e desapareça da ce­na humana. Pelo contrário, basta que Ela, para castigo dos homens, deixe ao demônio um certo raio de ação, pa­ra que a ação deste progrida. Portan­to, os enormes fatores da Revolução e da Contra-Revolução, que são respec­tivamente o demônio e a graça, depen­dem de seu império e seu domínio.

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Basílica de Santa Maria Maior (Roma)

Efetiva Realeza de Maria

A consideração deste soberano po­der de Nossa Senhora nos aproxima da idéia da realeza de Maria.

É preciso não ver essa realeza co­mo um título meramente decorativo. Embora submissa em tudo à vontade de Deus, a realeza de Nossa Senhora importa num poder de governo pesso­al muito autêntico.

Tive ocasião de empregar certa vez, numa conferência, uma imagem que facilita a compreensão do papel de Nossa Senhora como Rainha.

Imaginemos um diretor de colégio com alunos muito insubordinados. Ele os castiga com uma autoridade de ferro. Depois de os ter submetido à ordem, retira-se dizendo à sua mãe: “Sei que governareis este colégio de modo dife­rente do que estou fazendo agora. Vós tendes um coração materno. Tendo eu castigado esses alunos, quero agora que os governeis com doçura”. Essa senhora vai dirigir o colégio como o diretor quer, porém com um método diverso daquele que usou o diretor. A atuação dela é distinta da dele; não obstante, ela faz inteiramente a vonta­de dele.

Nenhuma comparação é exata. En­tretanto, julgo que, sob certo aspecto, esta imagem nos ajuda a entender a questão.

Análogo é o papel de Nossa Senhora como Rainha do Universo. Nosso Senhor lhe deu um poder régio sobre toda a criação, cuja misericórdia, sem chegar a nenhum exagero, chega entre­tanto a todos os extremos. Ele colo­cou-A como Rainha do Universo para governá-lo e, especialmente, para go­vernar o pobre gênero humano decaí­do e pecador. E é vontade dEle que Ela faça o que Ele não quis fazer por si, mas por meio dEla, régio instrumen­to de seu Amor.

Há, pois, um regime verdadeiramente marial no governo do Universo. E as­sim se vê como é que Nossa Senhora, embora sumamente unida a Deus e de­pendente dEle, exerce sua ação ao lon­go da História.

Nossa Senhora é infinitamente infe­rior a Deus — é evidente — porém, Deus quis dar a Ela esse papel por um ato de liberalidade. É Nossa Senho­ra quem, distribuindo ora mais larga­mente a graça, ora menos, freando ora mais, ora menos, a ação do demônio, exerce sua realeza sobre o curso dos acontecimentos terrenos. Nesse senti­do, depende dEla a duração da Revolu­ção e a vitória da Contra-Revolução.

Além disso, às vezes Ela intervém diretamente nos acontecimentos huma­nos, como o fez, por exemplo, em Le­panto. Quão numerosos são os fatos da História da Igreja em que ficou cla­ra sua intervenção direta no curso das coisas! Tudo isto nos faz ver de quan­tos modos é efetiva a realeza de Nos­sa Senhora.

Quando a Igreja canta a seu respei­to: “Tu só exterminaste as heresias no mundo inteiro”, diz que seu papel nes­se extermínio foi de certo modo único. Isso eqüivale a dizer que Ela dirige a História, porque quem dirige o exter­mínio das heresias dirige o triunfo da ortodoxia, e dirigindo uma e outra coi­sa, dirige a História no que ela tem de mais medular.

Haveria um trabalho de História interessante para fazer, o de demons­trar que o demônio começa a vencer quando consegue diminuir a devoção a Nossa Senhora. Isso se deu em todas as épocas de decadência da Cristanda­de, em todas as vitórias da Revolução.

Exemplo característico é o da Euro­pa antes da Revolução Francesa. A de­voção a Nossa Senhora nos países cató­licos foi prodigiosamente diminuída pelo jansenismo, e é por isso que eles ficaram como uma floresta combustível, onde uma simples chispa pôs fo­go em tudo.

Estas e outras considerações tiradas do ensinamento da Igreja abrem pers­pectivas para o Reino de Maria, isto é, uma era histórica de Fé e de virtu­de que será inaugurada com uma vitó­ria espetacular de Nossa Senhora sobre a Revolução. Nessa era, o demônio se­rá expulso e voltará aos antros infer­nais, e Nossa Senhora reinará sobre a humanidade por meio das instituições que para isso escolheu.

O Reino de Maria e a união de almas

Quanto a essa perspectiva do Rei­no de Maria, encontramos na obra de São Luís Maria Grignion de Montfort algumas alusões dignas de nota. Ele é sem dúvida um profeta que anuncia essa vinda. Disso fala claramente: “Quando virá esse dilúvio de fogo do puro amor, que deveis atear em toda terra de um modo tão suave e tão vee­mente, que todas as nações, os turcos, os idólatras, e os próprios judeus hão de arder nele e converter-se?” (“Ora­ção Abrasada” de São Luís Maria Grig­nion de Montfort, “Oeuvres Complètes”, Editions du Seuil, Paris, 1966, pág. 681). Esse dilúvio, que lava­rá a Humanidade, inaugurará o Rei­no do Espírito Santo, que ele identifi­ca com o Reino de Maria. Nosso san­to afirma que vai ser uma era de flores­cimento da Igreja como até então nun­ca houve. Chega inclusive a afirmar que “o Altíssimo, com sua Santa Mãe, devem formar para si grandes santos, que sobrepujarão em santidade a maior parte dos outros santos, como os ce­dros do Líbano se avantajam aos pe­quenos arbustos” (“Tratado da Verda­deira Devoção à Santíssima Virgem” de São Luís Maria Grignion de Mont­fort, “Oeuvres Complètes”, Editions du Seuil, Paris, 1966, págs. 512 e 513, N° 47.) Considerando os grandes san­tos que a Igreja já produziu, ficamos deslumbrados ante a envergadura des­ses que surgirão sob o bafejo de Nos­sa Senhora.

Nada é mais razoável do que ima­ginar um crescimento enorme da santi­dade numa era histórica em que a atua­ção de Nossa Senhora aumente também prodigiosamente. Podemos, pois, dizer que São Luís Maria Grignion de Mont­fort, com seu valor de pensador, mas sobretudo, com sua autoridade de san­to canonizado pela Igreja, dá peso, au­toridade, consistência, às esperanças que brilham em muitas revelações par­ticulares, de que virá uma época na qual Nossa Senhora verdadeiramente triunfará.

A realeza de Nossa Senhora, embo­ra tenha uma soberana eficácia em to­da a vida da Igreja e da sociedade tem­poral, realiza-se em primeiro lugar no interior das almas. Daí, do santuário interior de cada alma, é que ela se re­flete sobre a vida religiosa e civil dos povos, enquanto considerados como um todo.

O Reino de Maria será, pois, uma época em que a união das almas com Nossa Senhora alcançará uma intensi­dade sem precedentes na História (exce­ção feita, é claro, de casos individuais).

Escravidão a Nossa Senhora e Apóstolos dos Últimos Tempos

— Qual é a forma dessa união em certo sentido suprema? — Não conhe­ço meio mais perfeito para enunciar e realizar essa união do que a Sagrada Escravidão a Nossa Senhora, tal co­mo é ensinada por São Luís Maria Grig­nion de Montfort no “Tratado da Ver­dadeira Devoção”.

Considerando que Nossa Senhora é o caminho pelo qual Deus veio aos homens e estes vão a Deus, tendo pre­sente a realeza universal de Maria, nos­so santo recomenda que o devoto da Santíssima Virgem se consagre inteira­mente a Ela como escravo. Essa consa­gração é de uma radicalidade admirá­vel. Ela abarca não só os deveres mate­riais do homem, como também até o mérito de suas boas obras e orações, sua vida, seu corpo e sua alma. Ela é sem limites, porque o escravo por defi­nição nada tem de seu.

Em troca dessa consagração, Nos­sa Senhora atua no interior de seu es­cravo de modo maravilhoso, estabele­cendo com ele uma união inefável.

Os frutos dessa união serão vistos nos Apóstolos dos Últimos Tempos, cujo perfil moral ele traça, a fogo, em sua famosa “Oração abrasada”. Ele usa, para isso, uma linguagem de uma grandeza apocalíptica, na qual parece reviver todo o clamor de um São João Batista, todo o fogo de um São João Evangelista, todo o zelo de um São Paulo. Os varões portentosos que lutarão contra o demônio pelo Rei­no de Maria — conduzindo gloriosa­mente, até o fim dos tempos, a luta contra o demônio, o mundo e a carne — São Luís os descreve como magnífi­cos modelos que convidam desde já, à perfeita escravidão a Nossa Senhora, os que, nos tenebrosos dias de hoje, lutam nas fileiras da Contra-Revolução.

Assim, com estas considerações so­bre o papel de Nossa Senhora na luta da Revolução e da Contra-Revolução, e sobre o Reino de Maria, vistas segun­do o “Tratado da Verdadeira Devo­ção”, creio ter enunciado os principais pontos de contato entre a obra prima do grande santo e meu ensaio — tão apequenado pela comparação — sobre “Revolução e Contra-Revolução”.

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No destaque, capa de “Revolução e Contra-Revolução” em sua primeira edição em russo, divulgada a partir de fevereiro de 2014 em diferentes regiões da ex-URSS

Atualidade perene de “Revolução e Contra-Revolução”

EM SEU NÚMERO 100, de abril de 1959, “Catolicismo” se viu honrado por estampar, pela primeira vez, o ensaio “Revolução e Contra-Revolução” do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira que posteriormente, em forma de livro, seria publicado em espanhol, francês, inglês, italiano e português. Em 1976, o autor acrescentou uma nova parte ao livro para tratar da revolução anarquista desencadeada a partir da Sorbonne em maio de 1968. “Revolução e Contra-Revolução” descreve a crise multissecular do Ocidente, aponta-lhe as causas, mostra suas últimas perspectivas, mas indica também o caminho de salvação. O livro é o compêndio básico para a vasta família de almas que se congrega, em dezenas de países, em torno dos ideais da Contra-Revolução. Convida o homem contemporâneo a rejeitar todos os aspec­tos da revolução laicista e igualitária e a restaurar em suas bases, ao mesmo tem­po perenes e atualizadas, a ordem espiritual e a ordem temporal cristãs. No mo­mento em que a Revolução Francesa, embora velha de 200 anos, salta para a ca­pa de revistas internacionais, o livro de Plinio Corrêa de Oliveira, por causa da vastidão de horizontes com que analisa a crise contemporânea, torna-se instrumen­to imprescindível para os católicos que desejam se manter em dia, esclarecidos e sadiamente atualizados.

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