Palavras de Orlando Fedeli por ocasião do jubileu episcopal de D. Antonio de Castro Maye

“Maison Suisse”, São Paulo, 30 de maio de 1973

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Da esquerda para a direita: Prof. Fernando Furquim de Almeida, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, D. Antonio de Castro Mayer, Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança, Dr. Plinio Vidigal Xavier da Silveira

Excia. Revma. Dom Antônio de Castro Mayer, digníssimo Bispo de Campos; Alteza Imperial e Real, Dom Luís de Orleans e Bragança; Alteza Imperial e Real, Dom Bertrand de Orleans e Bragança; Exmo. Senhor Doutor Plinio Corrêa de Oliveira, DD. Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade; Exmos. Senhores Diretores dessa mesma Sociedade; Revmos. Sacerdotes, Reverendas Irmãs, minhas senhoras, meus senhores, prezados militantes da gloriosa TFP.

Excia. Revma., há vinte e cinco anos Deus vos concedeu a glória e a graça de vos chamar à plenitude do sacerdócio. Há vinte e cinco anos Deus vos convocou para a grande batalha que se trava na história entre a Igreja e a anti-igreja, entre a verdade e a mentira, entre Deus e o demônio. Esses vinte e cinco anos de episcopado de V. Excia. coincidem de tal maneira com esses últimos anos do drama glorioso da história, V. Excia. tem participado tão ativamente, tão brilhantemente, de modo tão glorioso nessa batalha, que V. Excia, pode-se dizer bem, é um bispo cruzado; V. Excia pode ser chamado perfeitamente o bispo guerreiro dessa Igreja na sua grande batalha.

Para a batalha … que tendes lutado, vós tendes colaborado com todo o zelo, com toda a virtude, com todo o denodo. Vossa figura aparece assim no horizonte da história do século XX, um horizonte sombrio em que só aparecem destruições, fumaças de bombardeios, fumaças de guerrilhas, fumaças do erro, fumaça que satanás solta em tudo, V. Excia. aparece como um vulto brilhante, V. Excia. aparece como aqueles vultos lendários dos grandes bispos da história do passado. V. Excia aparece como aqueles grandes bispos dos primeiros séculos, que não transigiam, que lutavam, que não cediam. V. Excia. parece com aqueles bispos que, sós, combatiam, como o grande Atanásio, sozinho contra a heresia ariana. Como o grande São João Crisóstomo, como tantos outros bispos nas catacumbas, nas lutas, nas polêmicas, sempre na defesa de Deus e da Igreja.

  1. Excia. aparece, nessa noite de trevas do século XX, como uma tocha ardente de fé. V. Excia. aparece, para nós, como o círio da fidelidade junto ao sacrário; como o círio da ortodoxia que ilumina as Escrituras sobre o altar; como o círio da piedade, aceso aos pés da Virgem Maria. Essas trevas que toldam o século XX, essas trevas que toldam a Igreja, não são trevas materiais. São trevas produzidas pelo demônio. Paulo VI mesmo disse que a fumaça de satanás entrou no Reino de Deus. E essa fumaça que tudo envolve, essa fumaça sufoca. Dentro da Igreja ela está intoxicando muitos fiéis. Ela cega, ela asfixia, ela intoxica.

Mas agora, nos templos, essa fumaça de satanás vem de mistura com o ruído do jazz, com a profanação de tantas e tantas coisas que deviam estar fora da Igreja e fora do universo. Tantas coisas que parecem ter saído dos abismos infernais. Não mais se escutam as preces rumorejantes, não mais o canto gregoriano ecoa nos claustros, mas o jazz, os diálogos que pregam coisas estranhas, os credos novos que falam no sorriso….

Vi há pouco um credo num catecismo para crianças: eu creio no homem e na televisão, no sorriso e no violão, na evolução e não mais naquele Cristo que é sempre o mesmo; não mais no Deus criador do céu e da terra. Essa fumaça de satanás é que produz essa confusão imensa. E parece que está tudo perdido. E parece que não há mais esperança. E se não fora a promessa de Cristo de que as “portas do inferno não prevaleceriam“, se diria que tudo está no fim, porque parece que está tudo acabado.

E se não fosse ter aparecido um sinal no céu, uma mulher coroada de estrelas, tendo a lua a seus pés, uma mulher que pisa a serpente, se não fosse a promessa dela em Fátima “por fim meu Imaculado Coração triunfará“, se diria que está tudo acabado.

Mas nós cremos na promessa de Cristo, nós cremos na promessa de Fátima, nós cremos no sinal que apareceu no céu. Vendo a situação atual, nós ficamos perplexos, nos lembramos das grandes lamentações e perguntamos como o profeta: “como se obscureceu o ouro, como foi possível se aviltar o tesouro, como não se escuta mais a trombeta terrena da Igreja, como se calou todo profeta, como aquela que era rainha das nações foi transformada em serva e por que? Por que as pedras do santuário estão esparramadas por todas as praças? E por que essa invasão? E por que essa Igreja ocupada? E por que essa profanação?

E outrora, como foi diferente… Outrora a beleza da Igreja cantava nas catedrais. Outrora nos vitrais iluminados a música da Igreja ecoava e Deus nos falava naquelas coisas grandiosas que a Igreja fez no passado. A Igreja, que não tem que pedir perdão de nada, porque a Igreja é santa e infalível. A Igreja, que fez tanta coisa gloriosa na história; a Igreja que resplandeceu sempre; a Igreja que resplandece ainda hoje nesse dia de trevas; ainda hoje, nesse século de mentiras, resplandece com sua verdade fulgurante, que esmaga, que apaga, que liquida toda mentira.

A Igreja que resplandece em V. Excia., Dom Mayer, que resplandece em tantos outros sacerdotes, que resplandece em tantas freiras fiéis, que resplandece em tanta dedicação, que resplandece ainda na fidelidade dos poucos que restam.

A Igreja que fez tanto no passado; a Igreja que fez as catedrais, grandiosas orações de pedra. E mais do que as catedrais de pedra, ela fez os santos que enobrecem essas catedrais. A Igreja que fez mais do que as universidades, mas que fez os sábios pelos quais existem universidades. A Igreja que fez hospitais e irmãs de caridade. A Igreja que fez as abadias e os monges, que fez os claustros e fez mais ainda: fez as virgens. A Igreja que fez as cruzadas e, mais ainda, fez os cruzados heróis.

A Igreja que fez a cristandade resplandece na história. E ela oferece a essa cristandade, flor de glória, ramalhete de glória inigualável para Deus Nosso Senhor. Um ramalhete de glória que é a cristandade e que jamais a impiedade e a revolução poderão destruir. Um ramalhete de glória que perfuma toda a história, a cristandade, bem ordenada, bem arquitetada, a cristandade feudal em que havia honra em servir, em que havia honra em proteger. A cristandade, cujo perfume correrá pela história, a cristandade cujo perfume subirá até o trono de Deus no céu, como um incenso suave e mavioso.

E depois, no fim da era de glória, como Deus, desafiando o demônio disse, falando de Jó. Deus também desafiou um dia o demônio e disse: preparastes na minha Igreja, que não há igual a ela, que não há igual a ela e não pode haver igual a ela porque é a única verdadeira. Preparastes na minha serva, que é a Igreja Católica, que é sincera e reta e que ama o bem e que combate o mal, preparastes na minha Igreja, que não há igual a ela. O demônio desafiou Deus e Deus permitiu que o demônio tentasse a Igreja. E como entregou Jó para as mãos do demônio, assim parece ter entregue a Igreja de Deus.

Mas assim como o demônio não triunfou sobre Jó, ele não triunfará sobre a Igreja. E apesar de despojada, apesar de arruinada, ela continuará a bendizer o Deus que lhe deu tanta glória e o Deus que a exalta, até mesmo na humilhação, até mesmo sobre os escombros. E veio a primeira maldição e veio o primeiro castigo. A reforma iníqua que dizia: Deus e Cristo sim, mas a Igreja não. A Revolução Francesa que prosseguiu: Deus sim, mas não Cristo. E finalmente, como disse Pio XII, o grito ímpio, o grito ateu: não há Deus.

E a esse grito ímpio, quantos hoje não se dobram, quantos hoje não aceitam, em lugar do Deus sacrossanto, o Deus homem. Não mais se quer servir o Deus que criou o vulcão e a brisa, que criou a flor e criou a montanha, que criou o servo e o imperador, que criou o monge e criou o papa, não mais Deus, mas simplesmente o homem e a natureza.

E diante desse grito ímpio, quanta capitulação! Quantos se dobraram! Quantos dizem que não há mais verdade, não há mais bem. E que a verdade muda e que o bem perece, como se a verdade e o bem fossem como o feno que passa, como diz a Escritura. Não é a verdade, não é o bem que passa, mas é a voz do povo rebelde que é como o feno que passa, que grita hoje e, como o feno, amanhã não existe mais e está seco.

Ai, diz a Sagrada Escritura, ai desses profetas da mentira! Ai de vós, que ao bem chamais mal e que ao mal chamais bem! Ai de vós, que ao doce chamais amargo e ao belo chamais feio! Ai de vós que tendes na testa o profeta da mentira, o selo da besta, a foice e o martelo! Ai de vós, sentinelas, que em vez de defender Israel, que em vez de defender a Igreja, dialogais com o inimigo que ataca a Santa Igreja! E a cristandade está em ruínas e pouca coisa de pé.

Mas essas ruínas, isso que sobra, nós da TFP aprendemos com V. Excia. Revma. a amar até o mais profundo de nossas almas. Essas pedras nós beijamos, como os cruzados beijavam as muralhas de Jerusalém. Essas pedras, nós nos prostramos diante delas, essas pedras, essas últimas torres, essas últimas colunas da fidelidade, esses últimos arcos da harmonia, esse sacrário que permanece de pé e que jamais será destruído, nós nos prostramos diante dele. Essa catedral que permanece, destruída em parte, mas permanece santíssima em tudo, essa catedral, dela, da Santa Igreja Católica, vós sois hoje uma das grandes colunas.

Nós veneramos em vós essa fidelidade, essa coluna. Vós, Excia. Revma., vós sois para nós um exemplo de fidelidade, um exemplo de permanência, um exemplo de vigilância e defesa. Nós saudamos em V. Excia. a verdadeira sentinela de Israel, não aquela que dormita, não aquela que olha para o inimigo com simpatia, não aquela que afavelmente cumprimenta aquele que atira a tocha acesa para dentro do templo. Nós saudamos a sentinela vigilante; nós saudamos em vós o pastor previdente, que há tantos anos atrás, na Carta Pastoral famosa sobre Problemas do Apostolado Moderno, predisse tantos erros, previstes o abismo para onde conduziam esses erros. Aqueles que diziam que vós atacáveis moinhos de vento, são eles, hoje, aqueles que diziam que vós atacáveis fantasmas; são eles que constroem agora os moinhos de vento; são eles que constroem e defendem aqueles erros que vós condenastes. E que eles proclamam hoje nos telhados, nas televisões e por toda parte, como sendo a pura verdade.

Nós saudamos em vós o brilhante coautor, com o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, do livro “Reforma Agrária – Questão de Consciência“, muralha contra o comunismo, muralha contra a invasão agroreformista e socialista aqui no Brasil. Nós vos saudamos e vos agradecemos hoje aquilo que vós fizestes com Dr. Plinio na defesa da cristandade aqui no Brasil. Se nós somos livres, se nós temos propriedade, se os mandamentos de Deus são ainda obedecidos nesse ponto nesta terra, isso se deve em grande parte ao trabalho de V. Excia. e ao Dr. Plinio.

  1. Excia. permitirá a um discípulo do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira e admirador vosso, V. Excia. permitirá a esses moços que estão aqui, que unam também, num parênteses,uma homenagem ao Dr. Plinio. V. Excia e ele, tão unidos, unidos e inseparáveis como tantos outros grandes heróis da Igreja no passado, tão unidos que é impossível separar V. Excia. dele, nesse momento eu quero dizer também uma curta palavra a ele, apenas uma coisa.Ao Dr. Plinio nós homenageamos também como a V. Excia., Dr. Plinio, terror da Revolução, amor e glória dos filhos de Nossa Senhora.

Nós saudamos em V. Excia. o autor da lúdica, corajosa, documentada, oportuníssima e extraordinária pastoral denunciadora dos erros infiltrados nos Cursilhos da Cristandade. Nós saudamos em vós o bispo mariano, o bispo cruzado da ortodoxia. Nós saudamos em vós a realização da promessa de Cristo, de que sempre e sempre ele assistiria a Santa Igreja, sempre e sempre haveria mestres da verdade. Saudamos em vós, Senhor Bispo, o sucessor dos Apóstolos. Nós vos saudamos e nós clamamos para que o anjo de Deus testemunhe no dia do juízo: escreve diante de Deus, escreve com letras de ouro e de fogo, escreve que nos tempos da grande apostasia, que no século das trevas houve uma tocha acesa, uma tocha ardente de fé e de piedade: Dom Antônio de Castro Mayer, bispo de Campos.

Escreve, escreve que dele diremos no dia do juízo: nós tínhamos fome e vós, Excia., vós nos destes de comer o pão da verdade; pão de que o mundo hoje tem muito mais fome do que o pão comum. Vós nos destes, Excia., a água cristalina do bem, quando nós tínhamos sede. Vós nos visitastes quando perseguidos, vós nos apoiastes quando caíamos. Graças vos damos, Senhor Deus dos exércitos, por ter dado à Santa Igreja Católica Romana um tal guerreiro! Graças vos damos, senhor Deus, por terdes dado a luz de seu exemplo e de sua palavra para nós todos. Graças vos damos, porque assim como no princípio os bispos nas catacumbas, os bispos em 300 anos de perseguição, jamais dobraram os joelhos diante dos ídolos pagãos, assim também hoje Dom Antônio de Castro Mayer não se prostra diante dos ídolos modernos. Graças vos damos por ele, de que a prova de que a Igreja, hoje como ontem, como sempre, jamais, jamais adorará os ídolos vazios; nem Isis, nem Osíris, nem a igualdade, nem a liberdade, nem Baco, nem o progresso, nem Nero, nem muito menos um homem, nem Baal, nem a evolução, nem Moloch, nem o socialismo, nem o comunismo.

Mas só a Ti, só a Ti Senhor Jesus nós adoraremos. Tu, Alfa e Ômega, ontem e hoje o mesmo, sempre. Tu, Cristo Senhor, que serás sempre a causa da nossa alegria. Tu, doce Jesus, tu nós adoraremos sempre e faremos triunfar, graças à Virgem Maria, como ela prometeu em Fátima, pelo estabelecimento de seu reino: por fim meu Imaculado Coração triunfará. E nesse reino do Imaculado Coração nós adoraremos a Nosso Senhor, o doce Jesus e nós teremos de novo miríades de grandes santos e novas catedrais. E os sinos cantarão e teremos inúmeros e inúmeros bispos como V. Excia. Dom Antônio de Castro Mayer, exemplo, flor e modelo de toda a Igreja.

Notas:

1) Para ler o discurso do Prof. Plinio nessa mesma ocasião, clicar aqui.

2) Para conhecer todo o contexto em que se deu o rompimento de Orlando Fedeli com o Prof. Plinio e com a TFP, vide Depois do fracasso de dez estrondos publicitários, singular tentativa de “implodir” a TFP.

 

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