Plinio Corrêa de Oliveira
Comentários à “Salve Rainha”: a suprema majestade de Nossa Senhora
Santo do Dia, 19 de maio de 1965
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A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito: “Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959. |
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Imagem milagrosa de Nossa Senhora do Bom Sucesso, Quito (Equador)
A respeito da “Salve Rainha” quero lembrar o sentido dos comentários que estou fazendo. Não é para dizer aos senhores coisas novas, mas para mostrar como devemos tomar uma oração, analisar seu texto diretamente e meditá-lo para se constatar como não se trata de uma simples expansão literária, mas sim de algo consistente e com um sentido profundo. Quero recordar o que se refere ao “Salve”. Salve é uma saudação: “eu te saúdo, Rainha”. Mas por que começa por “Rainha“? Exatamente porque o título de Rainha é tão alto que só pode estar aqui em primeiro lugar. É normal que se diga que é Rainha. Tudo quanto se diz na “Salve Rainha” decorre do fato de Nossa Senhora ser Rainha e ser Mãe. Por causa disso, a primeira invocação é: “Salve Rainha, Mãe de Misericórdia”. Quando se fala em Nossa Senhora como Rainha, tem-se a impressão de que é mais ou menos como uma festa – muito boa, às vezes – que se fazem em igrejas, no fim do mês de maio, com crianças vestidas de anjinhos, levando uma coroa numa bandeja, e que sobem até um altar cheio de flores onde se encontra uma imagem de Nossa Senhora… mas não é verdade. O título de Rainha em Nossa Senhora tem um significado profundo. E vamos ver como Nossa Senhora é Rainha por analogia com as rainhas da terra. Tudo quanto caracteriza o poder régio, Nossa Senhora o tem numa plenitude muito maior do que qualquer outro rei ou rainha da terra! O primeiro elemento que caracteriza a majestade régia é ser suprema. A majestade de Nossa Senhora está acima de todas as outras. Abaixo de Deus, de Jesus Cristo, não existe ninguém como Nossa Senhora. E entre a maior criatura que não seja a Mãe de Deus e Ela, há uma distância enorme, porque é incomparável com qualquer outra criatura! Essa supremacia inerente ao estado régio, Ela a tem inteira. Outro elemento inerente ao estado régio é o poder que vem de Deus. O poder que é conferido pelos homens, por aclamação etc., etc., isto não é poder, mas sim um simulacro de poder, porque o indivíduo depende da massa que o elegeu… Acontece que com Nossa Senhora, não. Ela recebeu seu poder diretamente de Deus. Outro atributo do poder é o de ser absoluto, de maneira que não tenha limitação em nada. Ora, o poder que Nosso Senhor deu a Nossa Senhora sobre a terra, sobre os Anjos, sobre todo o universo é um poder absoluto. Ela faz absolutamente o que quer, quando quer e como entende. Li uma biografia de um santo em que era narrado que o demônio lhe aparecera e dizia que sua alma devia ser condenada, porque cometera tais e tais pecados. Nossa Senhora, sorrindo, colocou a ponta de seu manto sobre o santo e sua alma foi salva. Isto exprime a ação salvadora de Nossa Senhora, de um modo como se fosse um tanto arbitrário: salva porque quer, sem nenhum outro motivo, por Sua vontade. Quis aquela alma, conseguiu lhe uma graça avassaladora e a salvou. Não se discute mais! Isto mostra o poder absoluto que chega ao arbitrário que Nossa Senhora faz de todas as criaturas aquilo que bem entende. E desde os mais altos Anjos, todas as criaturas se sentem honradas em receber Suas ordens. Idem Alguém poderá dizer: “Isto está perfeito, mas Nossa Senhora só faz a vontade de Deus. Ela não segue essa linha como uma iniciativa própria”. Gostaria de lembrar ainda uma vez que há um modo de apresentar esse assunto que nos mostra em que sentido Nossa Senhora é inteiramente Rainha e faz a vontade própria – por incrível que pareça – de algum modo distinta da vontade de Deus. Os senhores imaginem um colégio onde os alunos se revoltam. O diretor decide castigá-los, mas pensa: “Se eu continuar a dirigir, não fica bem não castigar. Porque fui tão afrontado, tais coisas se passaram aqui… Mas vou fazer outra coisa: nomearei minha mãe como diretora e ela empregará uma misericórdia que eu não posso ter. Porque ela, enquanto senhora, com relação a esses alunos faltosos, fica com direito a usar de uma misericórdia que em mim não caberia. Então nomeio-a diretora do colégio”. Vai a mãe e com jeito admirável pacifica o colégio e põe os alunos a estudar e a se comportar devidamente. O que se deve dizer disso? Ela fez algo diferente do diretor? De fato, ela fez o que o diretor queria, mas não fez o que ele faria. E exatamente porque ela não fez o que o diretor faria que ele a colocou nesse cargo. Do contrário, não precisava tê-la posto em tais funções… Portanto, há um papel dessa mãe no colégio que é um papel distinto do que teria seu filho. Embora, de fato, fizesse o que ele queria. A distinção de funções, no caso, não representa distinção de vontades, como se poderia pensar. Mas também não reduz a pessoa colocada a uma mera manivela. Ela tem seu papel próprio. É nesse sentido que Nossa Senhora é inteiramente Rainha. Ela pode tudo porque foi concebida para governar como Advogada e Mãe sobre um conjunto de seres faltosos e, por isso, especialmente necessitados de misericórdia. Então, os senhores compreendem que Ela é Rainha e que Sua realeza consiste em ser exercida de um modo um tanto diferente da de Deus, qual seja a maneira materna. Então, que torrentes de pensamentos, de matizes, de meditações se contêm na frase, depois de se dizer “Salve Rainha”, vir “Mãe de Misericórdia”! Há uma conexão profunda entre os dois títulos: a realeza de Nossa Senhora é distinta da de Deus – eu quase diria autônoma de Deus – é a realeza de uma Mãe de Misericórdia. Charles-Maurice Talleyrand-Périgord (1754-1838) Para terminar, gostaria de dizer que a “Salve Rainha” teve um grande admirador: Talleyrand! Ele – bispo apóstata, sem-vergonha, casado ilicitamente, falso, maçom, hipócrita -, no fim de sua vida, num momento de distensão, conversando com sua sobrinha – a duquesa de Dino, um tanto concubina dele! – disse o seguinte: [abaixo, tradução livre de uma conceituada biografia de Talleyrand:] “Tinha inesperados acessos de devoção quase infantis. Especialmente para com Nossa Senhora. Perguntou à Madame de Dino qual fosse a oração que recitasse com maior comprazimento. O ‘Pai nosso’, respondeu ela. ‘Reze sobretudo a Salve Rainha’, disse o príncipe [Talleyrand], ‘dela recebereis consolações. Eu lhe ensinarei em latim e lhe explicarei’. Então Dorotéia [Madame de Dino] viu seu tio reencontrar o estilo sacerdotal e recitar com sua bela voz grave aquelas palavras carregadas de esperança. Parava e explicava: ‘Por acaso conhece alguma coisa de tão doce, de tão consolador? Salve regina, mater misericordiae: são palavras maravilhosas. Vita, dulcedo et spes mostra, salve: nossa vida, nossa doçura, nossa esperança, salve. Aprenda-a, recitai-a com frequência, elas lhe farão bem’. Depois disso, fez-me repetir diversas vezes diante dele, a fim de que permanecessem esculpidas na minha memória. Hoje eu a sei de memória, nunca a li em um livro. A única pessoa que ma ensinou foi ele” (B. de Lacombe, La vie privée de Talleyrand) [apud “Talleyrand”, por Jean Orieux, Ed. Mondadori, Milão, 1991, pág. 703. Versão original francesa: “Talleyrand ou le sphinx incompris”, Flammarion, Paris, 1970 – os negritos são deste site]. E foi ditando, ponto por ponto, um comentário da “Salve Rainha”, dizem que magnífico. Infelizmente, não foram conservados. Os senhores veem que grandes espíritos, mas péssimos, compreenderam o que tanta alma piedosa, por falta de formação, acaba não percebendo. Continua |