Plinio Corrêa de Oliveira
Pio IX e a Imaculada Conceição
Santo do Dia – 08 de dezembro de 1965 |
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A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de exposição verbal do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, e não foi revisto pelo autor. Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito: “Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Pio IX e a Imaculada Conceição Hoje é 8 de dezembro de 1965. Eu leio um documento do tempo do Papa Pio IX [agora bem-aventurado], de 8 de dezembro de 1854. É a Bula Ineffabilis Deus. “A nossa boca está cheia de alegria e nossos lábios de exultação; e damos e daremos sempre as mais humildes e mais vivas ações de graça a Nosso Senhor Jesus Cristo por nos haver conseguido a graça singular de podermos – embora imerecedor – oferecer e decretar esta honra, esta glória e este louvor à Sua Santíssima Mãe. E depois reafirmamos a nossa mais confiante esperança na Beatíssima Virgem que, toda bela e Imaculada, esmagou a cabeça venenosa da crudelíssima serpente e trouxe a salvação ao mundo. Naquela que é a Glória dos profetas e dos apóstolos, Honra dos mártires, Alegria e Coroa de todos os santos, seguríssimo Refúgio, fidelíssimo Auxílio de todos os que estão em perigo; poderosíssima Mediadora e Reconciliadora de todo o mundo junto a Seu Filho Unigênito, fulgidíssima beleza e ornamento da Igreja e sua solidíssima defesa. Reafirmamos a nossa esperança naquela que sempre destruiu todas as heresias, salvou os povos fiéis de gravíssimos males de todos os gêneros e a nós mesmo tem livrado de tantos perigos que nos ameaçam. Confiamos que Ela queira, com a Sua eficacíssima proteção, fazer com que nossa Santa Madre Igreja Católica, superando todas as dificuldades e desbaratando todos os erros, prospere e floresça cada dia mais, no meio de todos os povos e em todos os lugares(…)” A importância do emprego de frases longas e do uso de superlativos
Este trecho, que creio causar um pouco de estranheza às gerações de hoje, é condenado pelo estilo literário comum por duas razões especiais: em primeiro lugar, frase muito longa e, em segundo lugar, superlativa. Tenho a impressão que esse trecho se reduz a umas três frases. E o estilo de hoje gosta de frases curtas e com poucos superlativos. Entretanto, o mérito da frase longa consiste em relacionar uma série de pensamentos numa só sentença. E o mérito dos superlativos – quando são bem aplicados – é de quebrar os padrões comuns dentro dos quais nós nos movemos e de fazer entender que as realidades profundas são as realidades superlativas, aquelas para as quais a linguagem humana só encontra uma referência superlativa. Tudo aquilo que é invisível, tudo aquilo que é sobrenatural, tudo aquilo que, portanto, é imensamente maior do que a ordem visível na qual nós nos movemos, tudo isso é tão maior do que nós que a linguagem só se refere a isto em termos superlativos. E se isto é verdade em relação a tudo quanto é invisível, é particularmente verdade em relação a Nossa Senhora que é a Rainha de todas as coisas visíveis e invisíveis, e que está acima de todo o visível e invisível. E que por causa disto, tendo acima de si apenas Deus, todos os superlativos estalam e não temos em nossa linguagem nenhuma referência, nenhum modo de exprimir adequadamente os predicados dEla. De maneira que, acumulando superlativos uns em cima dos outros, afirmamos a insuficiência de todos eles para dizer aquilo que deve ser dito. E aí, à maneira de ensaio, à maneira de artifício, de estratagema, nós conseguimos de algum modo dar a entender o que a nossa mente concebe a respeito da grandeza de Nossa Senhora. Glória e privilégios de Nossa Senhora [O Beato] Pio IX reúne uma série de idéias dentro dessas frases grandes. Porque são círculos cada uma dessas frases, uma espécie de diadema em que há toda uma série de jóias para ornar a coroa de Nossa Senhora. Ele dá algumas idéias sucessivas a propósito da Imaculada Conceição, fazendo-nos ver que enquanto concebida sem pecado original – e concebida sem o pecado original na previsão de ser Mãe de Deus -, Ela tem um cúmulo de glória de todas as ordens. E é isto que ele faz ver neste trecho. Os senhores acompanham o método do pensamento dele, lendo mais vagarosamente o texto. Primeiro há uma ação de graças pelo fato de ele ter sido o escolhido, como Papa, para definir o dogma da Imaculada Conceição. Então diz: “nossa boca está alegre”. Ele diz “está cheia, está repleta de alegria”. Porque todo o texto é superlativo. E, realmente, não há boca humana que possa conter suficiente alegria pelo fato de ter sido a Imaculada Conceição definida, tanto mais na boca daquele homem que foi chamado a ser o Príncipe dos Pastores e sucessor de São Pedro!
Bem, e os lábios de Pio IX estão cheios do quê? De alegria! De uma super alegria: exultação. A boca está cheia de alegria e os lábios estão cheios de exultação. Quer dizer, uma alegria que sai da boca para fora, que inunda os lábios e que na flor dos lábios se transforma em exultação. Alegria por quê? Porque a Imaculada Conceição de Nossa Senhora foi definida, e porque ele foi o instrumento da definição. Ele continua: “e damos e daremos sempre as mais humildes e as mais vivas ações de graças – a linguagem é sempre fácil: “damos e daremos as mais vivas ações de graças, as mais humildes”, é tudo superlativo – a Nosso Senhor Jesus Cristo, por nos haver concedido a graça singular – não é uma graça qualquer, é uma graça singular, que não tem seu igual – de podermos, embora imerecedor, oferecer e decretar esta honra, esta glória e este louvor à Sua Santíssima Mãe”. O poder do Papado que pode definir um dogma Os senhores vejam o que é a grandeza de um Papa, o que é a grandeza do pontificado romano, o que é o poder das Chaves. Nossa Senhora está acima de todos os Anjos, de todos os Santos. Ela está como que sentada em um trono ao lado de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois bem, um Papa, um simples homem vivo nesta terra pôde dizer isto: que ele ofereceu e decretou esta honra, esta glória e este louvor à Santíssima Mãe de Deus. Quer dizer, o poder das chaves lhe deu o meio de colocar um diadema na fronte daquela que está tão acima dele! Isto é o imenso poder do papado, as imensas atribuições do papado e a imensa grandeza do papado! Esse é o primeiro pensamento. Agora vem outro pensamento. Nossa Senhora por ser Imaculada e, enquanto Imaculada bela, esmagou a cabeça do demônio “E depois reafirmamos a nossa mais confiante esperança na nossa Beatíssima Virgem, que toda bela e imaculada esmagou a cabeça venenosa da crudelíssima serpente, e trouxe a salvação do mundo”. É a primeira parte da frase. A frase continua depois, mas o pensamento está muito claro!
Nossa Senhora – por ser Imaculada e enquanto Imaculada -, bela, esmagou a cabeça do demônio. Os senhores vêem que as idéias são inseparáveis. O Papa pensa na beleza de Nossa Senhora, no poder dela. Ele pensa imediatamente, por contraste, na hediondez do demônio, pensa no demônio enquanto esmagado por Ela. Quer dizer, Sua beleza não seria inteira, uma vez que há o demônio, a não ser que essa beleza fosse uma beleza triunfal, esmagadora sobre o demônio. O demônio é o escabelo necessário dos pés dela; uma vez que Ela é tão pura, uma vez que Ela é tão linda, não bastaria que todas as criaturas deste mundo e do Céu e do Purgatório A homenageassem. Mas era preciso que o inimigo estivesse quebrado aos pés dela. Então, a idéia completa da glória dela envolve logo a idéia do demônio babando, estraçalhado, humilhado, com o rosto no chão, porque Ela quis e porque foi Ela o instrumento de Deus para liquidá-lo. Isto faz parte da beleza dela. Isto é muito, porque é mais uma manifestação da idéia de que o homem só apreende todo o fulgor da verdade, todo o fulgor da beleza e todo o fulgor do bem, quando é colocado em contraste com o erro, com o mal e com a feiúra. Isso numa imagem da Imaculada Conceição fica muito claro! Sua intercessão pelo pecador arrependido Bem, depois diz: “nisto nós confiamos nela”. Então porque Ela é bela, imaculada, mas porque também esmaga o demônio. Se nós nos lembrássemos disso nas horas de tentação! Estamos tentados, o demônio está procurando nos levar para o mal, temos medo de fracassar, de pecar e, infelizmente – que Deus nos livre – digamos que algum tenha pecado. Nossa Senhora esmagou a cabeça do demônio e pode, portanto, arrancar qualquer pecador das garras do demônio, pode afastar qualquer alma tentada da influência, do império do demônio. Como isto é uma razão de confiança e como isto deve dar alento à nossa vida espiritual! Primeiro: Nossa Senhora enquanto Imaculada, enquanto bela e imaculada, esmagou a cabeça do demônio. Segundo: Ela enquanto Imaculada é a glória dos profetas e dos apóstolos, honra dos mártires, alegria e glória de todos santos. Quer dizer, Ela não só esmagou o demônio, mas é a alegria e a beleza do Céu. Terceiro: Ela é o seguríssimo refúgio e fidelíssimo auxílio de todos os que estão em perigo. Os senhores estão vendo o que Ela é: não é o refúgio seguro, não é o auxílio fiel. É um refúgio seguríssimo, um auxílio fidelíssimo dos que estão em perigo. Que relação tem isso com a Imaculada Conceição? Nossa Senhora, que não teve esse perigo e que foi confirmada em graça desde o primeiro instante de seu ser, quanta pena terá dos filhos que Ela vê por esse mundo, sujeitos a todos esses riscos! Não há uma mãe católica verdadeira pelo mundo, que não tenha hoje em dia o coração nas mãos continuamente pelo medo do que pode suceder a seu filho. Ora, Nossa Senhora quanto melhor mede isso! Quanto melhor vê isso! Quanto mais – entre aspas – podemos dizer que Ela se “aflige” com a nossa situação, tanto mais certeza podemos ter de ser socorridos. Isto é o que está entendido aqui. Ela é “poderosíssima mediadora e reconciliadora de todo o mundo junto a seu Filho Unigênito”. Aqui vem um pensamento que não é mais dos indivíduos, mas da sociedade humana como tal, da humanidade inteira, dos Estados, das nações, da ordem pública que Ela reconcilia. Sua proteção à Igreja e intercessão poderosa contra as heresias “Fulgidíssima beleza e ornamento da Igreja e sua solidíssima defesa”. Então, Ela é o terror dos demônios, a honra e a glória do Céu, a proteção dos homens e o ornamento da Igreja. Por que? Porque a Igreja é um paraíso, é uma prefigura do paraíso celeste e se Ela é a honra do paraíso celeste, tem que ser a honra da Igreja Católica também. E continua: “reafirmamos a nossa esperança naquela que sempre destruiu todas as heresias. Todas, inclusive as que mais possam nos angustiar. Salvou os povos fiéis de gravíssimos males de todo gênero – inclusive dos males que mais possam nos alarmar, e a nós mesmos tem livrado de tantos perigos que nos ameaçam. Confiamos que Ela queira, com sua eficacíssima proteção, fazer com que nossa Santa Madre Igreja Católica, superando todas as dificuldades, inclusive as menos esperadas e mais tremendas”. Depois: “esmagando todos os erros” – mesmo aqueles que incidentemente a gente pode conter num amplexo, como o que os jornais apresentavam hoje – , “prospere e floresça cada vez mais no meio de todos os povos e em todos os lugares”. Nossa Senhora, a conversão do mundo e o Reino de Maria Esta afirmação do prosperar da Igreja no meio de todos os povos e em todos os lugares parece quase o antegozo do Reino de Maria. O que nós devemos pedir a Nossa Senhora hoje? Tenho a impressão de que devemos dizer a Ela: venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa Vontade, assim na terra como no Céu. Nós devemos pedir a Ela que Seu Reino venha logo e que cesse este estado de coisas em que a vontade dEla não é feita na terra, em que os homens não cumprem mais Sua vontade, em que mesmo onde mais se poderia esperar que a vontade dEla fosse cumprida, esse cumprimento não existe. O reino dEla na terra é isso. |