Plinio Corrêa de Oliveira
Santa Casa de Loreto: magnífica manifestação do poder das chaves
“Santo do Dia”, 10 de dezembro de 1965
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A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito: “Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959. |
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Festa da transladação, de Nazaré a Loreto (Itália), da Santa Casa onde nasceu Nossa Senhora, o “Verbo se fez carne” e onde Jesus passou 27 anos de sua existência, após os três anos de volta do Egito. A respeito da transladação da Santa Casa de Loreto, há este fato narrado por Rohrbacher: “Desejava-se enriquecer a Santa Casa de Loreto, realizando nela algumas melhorias, mas os arquitetos que iniciavam nela qualquer trabalho sofriam estranhos castigos que os obrigavam a abandonar o que haviam empreendido. Finalmente, o Papa Clemente VII [Giulio de Medici (1478-1534; pontificado de 1523 a 1534)] ordenou expressamente ao Clérigo de Ventura Perini, entendido no oficio, uns certos trabalhos, explicando à Santíssima Virgem que era ordem do Papa. Perini, depois de passar três dias em jejum e oração, obedeceu. Acompanhado de grande multidão, aproximou-se da casa, ajoelhou-se e disse: ‘Com confiança, peço-te ó Santa Casa, da mais pura das virgens, que me perdoe; não é por mim que martelarei as paredes sagradas, mas a mando de Clemente, Vigário de Jesus Cristo, todo ele no ardor que o anima de te embelezar. Permita, ó Maria, que possa me desincumbir do que for necessário’. E as obras continuaram normalmente”.
O fato é verdadeiramente magnífico porque ele indica que Nossa Senhora quis que a jurisdição do Vigário do Filho dEla sobre todas as coisas sagradas, e mais especialmente das coisas relevantemente sagradas, que a jurisdição do Vigário do filho dEla ficasse bem clara a propósito desse fato. Tratava-se de tocar na Casa de Loreto, mas não havia uma licença explícita do Papa. E assim, todos os trabalhos se baldavam até que a licença veio. Vindo a licença do Papa, então a coisa se deixou fazer. Ou seja, é uma espécie de graciosa, magnífica e significativíssima manifestação do Poder das Chaves, do poder de ligar e desligar, de mandar, de decidir, de governar todas as coisas, manifestação essa que afirma a realeza do Papa sobre todas as coisas da Igreja. Realeza tão augusta e tão sagrada que Nossa Senhora, nesse episódio, toma ares de se conformar com essa realeza. E esses ares Ela tomou porque quando estava na vida terrena e São Pedro era o Papa, Ela certamente tributava a São Pedro toda a veneração que todo e qualquer católico, ainda que seja a Mãe de Deus, a Rainha do Universo, do Céu e da Terra, deveria ter.
Isto nos mostra bem qual é verdadeiramente a natureza do Papado. E é sempre oportuno lembrar isto: o Papado não é um poder como outro qualquer, não é simplesmente um poder legitimamente constituído de acordo com a ordem natural, um destes poderes de acordo com as circunstâncias, que podem ser mais ou menos amplos, mais ou menos altos, mais ou menos elásticos. Portanto também mais ou menos distantes da massa dos homens. Mas é um poder de tal maneira sagrado, e portanto um poder de tal maneira absoluto e monárquico, que até Nossa Senhora toma ares de obedecer a ele. O que mostra bem o caráter monárquico da Igreja. E mostra bem que a Igreja não é uma república mitrada, mas uma verdadeira monarquia, em que o Vigário de Jesus Cristo é o verdadeiro monarca. Verdade preciosa que nos compete amar mais do que nunca e que fica indicada aqui como um ensinamento a propósito dessa graça de Nossa Senhora de Loreto. E, por causa disto, também indicando a oração do dia de hoje que deve ser também para que a todos Nossa Senhora de Loreto nos dê este sentido do valor monárquico do Papado como expressão profunda da perfeição da Igreja; e da ordem monárquica das coisas como a maior, a mais adequada, a mais legítima expressão da ordem profunda das coisas aos olhos dos homens (*).
(*) A tal respeito, vide: “Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana” (Plinio Corrêa de Oliveira, 1993), Apêndice III – As formas de governo à luz da Doutrina Social da Igreja: em tese – in concreto, A. Textos pontifícios e outros sobre as formas de governo: monárquica, aristocrática e democrática, 1) Regime monárquico: a melhor forma de governo. Poderá lhe interessar também Loreto analisada por Santa Teresinha do Menino Jesus: relação entre ambiente, organização social e virtude Para aprofundar a respeito da maravilhosa história da Santa Casa de Loreto (confirmada pela ciência), visite: |