Dr. Plinio entrevistado sobre Glasnost, perestroika, Gorbachev e a ilusão do Ocidente

21 de junho de 1990

Entrevista concedida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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As reformas que vinham se anunciando na Rússia, e que culminaram na queda do muro de Berlim, passaram a empolgar, em seguida, a opinião pública. E assim, [em 1990] a TFP publicou um trabalho também de minha autoria, intitulado: “Comunismo e anticomunismo na orla da última década deste milênio”. Este trabalho mostrava muito adequadamente, a meu ver, a verdadeira antítese qual era e qual é o caminho errado para o qual o comunismo, simulando novas atitudes e posições, caminhava no fundo para tragar as nações anticomunistas.

(Pergunta: Esse trabalho teve alguma repercussão especial, Dr. Plinio?)

O trabalho teve uma larga repercussão internacional, tendo sido publicado em mais de 50 grandes jornais do mundo, além da imprensa local, em geral prestigiosa e influente, de muitas cidades importantes do Brasil.

Uma das repercussões interessantes que a publicação desta obra produziu foi a carta endereçada à TFP norte-americana pelo Sr. J. F. Steft, Diretor dos Assuntos russos e comunistas do Departamento de Estado da América do Norte em que da parte do Presidente Bush, ele oferecia argumentos contra as teses sustentadas pela nossa mensagem. Esta argumentação era expressa de modo polido e manifestando alta consideração pelo trabalho. A isto a TFP norte-americana respondeu igualmente em elevado tom. E a correspondência até o momento não se desenvolveu para além disso.

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O fato é que, depois de ter acentuado muito em nossa mensagem o estado de indigência em que se encontram os países comunistas e o completo fracasso do comunismo nos territórios em que ele logrou se implantar, depois de ter indagado porque razão os dirigentes comunistas de todos os países do mundo, que estiveram várias vezes na Rússia, e tiveram oportunidade de presenciar esta miséria evidente e o descontentamento enorme que lavrava no povo contra isso, por que razão não alertaram contra isso os seus respectivos países, não desistiram de sua posição comunista, não passaram a combater o comunismo cujos efeitos maléficos eles notavam claramente?

Ainda fizeram mais do que isso, não só se omitiram de dizer tudo isso, mas ainda continuaram a trabalhar para que o comunismo vencesse nos respectivos países. Esta é uma grave pergunta que ficou no ar, em consequência desse manifesto e que até agora não foi respondida.

Pode-se entrever uma eventual resposta ao Manifesto nas atitudes de alguns líderes notáveis da esquerda, com repercussão internacional, que passaram, depois da publicação do manifesto, a dar explicações a essa pergunta embaraçosa. Nós podemos destacar a do líder comunista francês Marchais, do líder comunista português Cabral, do chefe do Partido Comunista inglês e o do Partido Comunista norte-americano.

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Gorbachev e Putin

(Pergunta: Haveria alguma relação entre o que o Sr. acaba de dizer, Dr. Plinio, e a glasnost e a perestroika de Gorbachov?)

Enquanto esses fatos se desenrolavam na Rússia, de outro lado também, a política de Gorbatchev ia tomando corpo e enchendo páginas inteiras dos jornais escritos e falados do mundo inteiro. Tratava-se exatamente para a TFP de seguir os acontecimentos com atenção e de, no momento oportuno, dizer sobre eles a sua palavra.

O problema era este: Gorbatchev se apresentava como liberalizador da Rússia. Liberalizador em dois sentidos. Em primeiro lugar, porque ele queria caminhar para aplicação da Glasnost e da Perestroika, concebida esta última como uma fórmula intermediária entre o regime do capitalismo privado e do coletivismo de Estado, até então vigente na Rússia.

Havia a esperança geralmente difundida de que Gorbatchev – homem que se apresentava de modo simpático, afável e atraente diante das multidões do Ocidente nas visitas que ele fez a vários países, entre as quais muito marcadamente a Inglaterra e os Estados Unidos – que Gorbatchev fosse homem que estivesse dando um primeiro passo para a liberalização completa do sistema sócio-político da Rússia. E, com isso, que o progresso de Gorbatchev representasse, de fato, o começo da queda completa do comunismo.

Gorbatchev anunciou várias vezes, de modo explícito, que ele não tinha a intenção de liberalizar inteiramente a Rússia. Mas que de fato, ele queria um regime intermédio. Por mais que ele o dissesse, com uma franqueza às vezes contundente, era o tal o desejo do Ocidente de escapar do terror do bombardeio atômico que a Rússia podia mover contra ele, que se obstinou em ver, gratuitamente em Gorbatchev, o que ele não era e o que ele dizia que não era. Quer dizer, ele não era e dizia que não era um destruidor completo do regime comunista. O Ocidente insistiu em ver nele esse destruidor.

Alguns nem foram tão longe, acharam que valia a pena apoiar Gorbatchev ainda que ele alcançasse apenas uma meia destruição do regime comunista, julgando que isto já seria um tanto de aproximação entre o Ocidente e o Oriente, e que esse tanto já compensaria o apoio que o Ocidente pudesse dar ao novo Chefe do Kremlin.

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