Santo do Dia, 28 de janeiro de 1994
A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
(…) Eu comecei a pensar isso: “Está vendo, é o futuro de quem escreve livros contra-revolucionários, eles se empilham uns sobre os outros e na realidade, segundo eu percebi – não me queiram mal os meus filhos da rua Martim Francisco – nem mesmo a totalidade deles tinha lido o livro que eu tinha escrito. Nem a RCR [Revolução e Contra-Revolução], nem o “Em Defesa da Ação Católica“. Alguns já pertenciam a TFP quando saiu o “Em Defesa”, também não tinham lido o “Em Defesa”.
Quer dizer, mesmo entre os mais próximos amigos – tão amigos que de futuro eu acabaria de lhes dar o tratamento de “filhos” – nem esses amigos se interessavam pela obra. Era o fracasso do escritor. Um insucesso completo e o convite a desistir de escrever.
Eu me lembro que numa dessas viagens à Europa, eu fui numa cidade e hospedei-me num hotel que era famoso pela sua localização. Esse hotel era numa cidade “x” cujo nome eu vou declinar daqui a pouco, e ficava colocado bem em frente a uma dessas coisas que só na Europa do passado se pode imaginar que existisse: um pequeno cemitério familiar, de uma família ilustre do lugar, onde durante séculos se enterraram os membros da família que morriam lá, e que as sepulturas – a Itália é a terra da arte – eram todas elas obras de arte. E então os estrangeiros iam ver. O cemitério era todo ele ladeado por grades, de maneira que podia ser visto de fora, e os visitantes sem entrarem no cemitério podiam facilmente ver os nomes das pessoas, etc.
Entre o cemitério e o hotel, passava uma pequena rua e havia um barzinho do hotel dando para essa rua. Os hóspedes que quisessem poderiam ter essa distração, que eu achava interessante – talvez outros achassem muito magra – a distração de ficar vendo essas sepulturas do passado etc., e se entretendo com isso.
Eu me lembro que fiquei sentado ali durante algum tempo – foi um fato curioso – e olhando para aquilo. Era uma família [degli Scaglieri?] ou uma coisa assim, eu não me lembro bem o nome. Eu fiquei olhando aquilo e os sentimentos, as recordações, as aproximações de idéias melancólicas foram me subindo ao espírito, e todos os insucessos que tinha havido até então, e os que eu pressentia – com quanta razão – que deveriam vir depois, vinham-me ao espírito numa espécie de farândola quase deprimente.
Mas eu, apesar disso, achei o lugar bem interessante e fiquei bastante tempo lá, quando um pressentimento, que eu não saberia qualificar, se apresentou ao meu espírito.
É o seguinte: “Você está com todos esses pensamentos melancólicos, mas um dia virá em que a sua obra se terá dilatado tanto, que virá um conferencista do Brasil convocado por um grupo análogo ao seu, fixado aqui nessa cidade, e vai convidar esse conferencista para fazer uma conferência sobre um livro que você ainda não escreveu”. [aplausos]
Eu afastei de meu espírito essa ideia, porque nada me dava um fundamento racional e eu não podia dizer de nenhum modo que fosse uma revelação, era apenas uma coisa que me vinha à cabeça. E que podia proceder de uma inconformidade com as cruzes que a Providência queria que eu levasse.
Os senhores podem imaginar minha impressão quando algum tempo depois, eu soube que havia um grupo análogo ao nosso, funcionando nessa cidade, que conhecia a RCR, que fazia da RCR seu livro de cabeceira, que sabendo que havia elementos da TFP viajando pela Itália, bom conferencista, convidou para fazer uma conferência a respeito da RCR lá, exatamente de acordo com esse pressentimento. E que está ainda na lista das cidades que devem ser percorridas, porque renovou o convite para uma conferência nessas circunstâncias, nessa fileira.
Por que é que eu estou lembrando isso?
Confiando, confiando, confiando, Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano acaba dando a vitória
Para um dos pontos mais necessários e de nossa perpétua insistência: a confiança.
Quer dizer, a Providência permite muitas vezes as circunstâncias mais desalentadoras que se possam imaginar, e permite que elas se acumulem uma sobre a outra, sobre a outra, de um modo também inteiramente inimaginável. Depois a gente vai ver, no fim, há um sucesso que coroa a nossa insistência porque coroa a nossa confiança. Daria para ter desanimado, mas confiando, confiando, confiando, Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano acaba dando a vitória. [aplausos]
Há um verso francês, que se não me engano é de Corneille, e que diz o seguinte: “à vaincre sans péril, on triomphe sans gloire – Quem vence sem perigo, triunfa sem glória” [“Le Cid”].
Quer dizer, ter uma vitória militar que de fato não trouxe perigos, não traz glórias. A glória vem do perigo que a gente enfrentou.
Eu digo: vencer sem decepções é triunfar sem glória.
Aquelas vitórias às quais a gente chega sem ter passado pelo “rio chinês” [tortuosos, que ora aparecem, ora desaparecem, n.d.c ], sem ter passado por decepções, por desagrados de toda ordem, que nos dão a impressão de que a Providência nos abandonou, e que, entretanto, em certo momento nos mostram a presença da Providência na Sua bondade, na Sua generosidade, premiando a nossa confiança e na nossa confiança a nossa coragem, esta é a glória do verdadeiro contra-revolucionário.
E eu gostaria muito de dizer isto porque os senhores são tão mais moços do que eu e virá um momento em que terão que lutar sem mim. No momento em que tiverem que lutar sem mim, poderá haver movimento de desalento, poderá haver ideia de que nada tem solução.
Tudo tem solução desde que se confie sempre, e desde que dentro dos maiores absurdos a gente diga: “eu confio em Deus, confio em Nossa Senhora e essa confiança não será decepcionada! Vamos para frente com passo duro, firme e seguro! Olhar para o Céu e terço na mão. A vitória será nossa!”
É só mais uma palavra.
A prova da confiança é imposta por Nossa Senhora misericordiosamente porque ela põe a pessoa em ordem
Eu gostaria de fazer notar aos senhores que não é raro nas conversas comuns a gente ver uma pessoa perguntar a uma outra, a um amigo que está tocando um negócio:
– Como é? O negócio vai para frente?
E o outro diz com satisfação:
– Vai, vai indo muito para frente!
– Ah, então pode estar certo de que chega ao bom termo.
Eu teria vontade de dizer que para o gênero dos “negócios” de Nossa Senhora, dos “negócios” da Contra-Revolução, é quase o contrário. Se no começo vai indo muito bem, a gente pergunta:
– Como é? O negócio vai bem?
Se o outro diz:
– Não, está difícil etc.
A gente tem vontade de dizer:
– Confie porque vai dar certo!
Se, pelo contrário, ele diz:
– Não, vai tudo muito bem!
– Desconfie, porque alguma coisa está torta em você, e preste atenção e desconfie de seu êxito.
Por quê? Porque essa prova da confiança é imposta por Nossa Senhora misericordiosamente porque ela é muito orto-psíquica, ela põe a pessoa em ordem; essa prova da confiança é posta por Nossa Senhora para que as pessoas percam o apego e façam atos de coragem e de resignação e deem passos de luta mesmo quando tudo parece que vai dar em derrota.
Porque a gente quer fazer vencer a Contra-Revolução, só tem aquele mau passo para dar, e para fazer aquele mau passo é preciso correr o risco de uma derrota; a gente vai, bate o pé no chão, e toca para frente!
O desinteresse pessoal ocasiona a vitória da confiança
O desinteresse pessoal ocasiona a vitória da confiança. A pessoa que faz isso aí sem interesse pessoal pode ser premiada na sua confiança.
Quando uma pessoa é egoísta, quando a pessoa quer fazer as coisas por interesse próprio, por vontade própria, é o contrário. Aí a pessoa tem a impressão de que a coisa vai dar muito resultado, no começo sorri muito, a gente tem a impressão que vai muito bem…
Espere, porque Nossa Senhora misericordiosamente fará arrebentar um fracasso para, por esse fracasso, aquela alma começar a andar na via do desapego.
Salve Regina, Mater misericordiae…