Eleições: Collor e Lula (à Folha de S. Paulo)

Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Eleições: Collor e Lula

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entrevista à “Folha de S. Paulo”, 29 de novembro de 1989

 

 
“O centro é uma posição macia e moderada. Mas com resvaladas às vezes enfáticas para a esquerda e que jeitosamente, ao longo dos tempos, leva as pessoas para a esquerda também”.

*    *    *

(Entrevista a propósito do Manifesto da TFP publicado a 29-11-1989, sob o título “FACE À DRAMÁTICA SITUAÇÃO DO BRASIL, A TFP toma atitude entre as candidaturas Collor de Mello e Lula como também ante a Teologia da Libertação e as CEBs“)

Repórter – …Com relação à candidatura Collor de Mello, o Sr. coloca aqui é mais ou menos…

Plinio Corrêa de Oliveira – Não há outra alternativa.

Repórter – Não tem alternativa?

PCO – Não: não há outra alternativa. Uma vez que eu não quero que vote no Lula, tem que votar no Collor.

Repórter – Voltando a essa idéia. O Sr. diz que não há outra alternativa. Logo, é preciso votar nele. Mas tem muitas pessoas que dizem: “Não quero nem Collor, nem Lula. É melhor se abster”.

PCO – Ah, não. O Collor e o Lula não são, nenhum dos dois, um candidato ideal para o gosto da TFP.

Repórter – Mas ainda assim o Sr. não recomenda a abstenção?

PCO – Ah, não, isso não. Eu acho que a abstenção, a adulteração da cédula para não ser computada, cédula em branco, tudo isso acho que não adianta nada. Seria um ato de protesto estéril contra ambas as candidaturas. Aliás, é preciso notar uma coisa: que o número de abstenções foi maior do que a votação do Lula, no primeiro turno.

Repórter – O Sr. disse que nenhum dos dois é um candidato ideal para a TFP. No primeiro turno havia um candidato ideal?

PCO – Não, não havia. Eu me ponho na posição de incontáveis brasileiros que acham que seja necessário abrir um respiradouro nos quadros da nossa vida política, para que a disputa pelos cargos eletivos não se fizesse exclusivamente entre políticos profissionais, cuja atividade está inteiramente absorvida pelas atividades políticas – o que eu, aliás, não censuro, acho inevitável. Mas daí decorre que se cria no País uma classe política. E essa classe, porque se fecha em si mesma, não é bastante representativa do País.

Então, qual é a prova do que eu estou dizendo? Se quiserem fazer a prova, suprimam durante uma eleição qualquer o voto obrigatório, e vão ver quantos vão votar.

Repórter – Muito poucos.

PCO – Muito poucos, porque o menu político oferecido pelos partidos é insuficiente para o apetite brasileiro. Eles querem mais coisas, mais variadas. Todo o mundo sabe disso. Senão eles não o tornariam obrigatório.

Repórter – O Sr. não me deixou anotar direito essa frase: “O menu político…”

PCO – …oferecido pelos partidos é muito exíguo para o gosto de variedade do povo brasileiro.

Repórter – O Sr. disse do “apetite”?

PCO – Melhor dizer “do paladar muito exigente de variedade, que tem o povo brasileiro”.

Repórter – O Sr. não tem um candidato?

PCO – Não. Porque se for ver naquela lista… Agora, e o remédio? O Sr. podia perguntar isso. O remédio é o seguinte: voltar à prática que tiveram várias democracias representativas, de incluírem nas suas chapas grandes nomes das várias atividades do País. Já que eu estou falando com um jornalista, comecemos por aí: jornalistas, profissões liberais, líderes sindicais, capitalistas – eu não fujo nem diante da palavra nem da coisa: é isso mesmo, capitalistas também -, expoentes das Forças Armadas já reformados, etc., que trazem um eleitorado próprio, um eleitorado apolítico, que aí vai votar.

Eu expus tudo isso num livro chamado Projeto de Constituição angustia o País, publicado por ocasião da campanha para as eleições da Constituinte, que chegou a ter uma tiragem de mil exemplares por dia. O que, para o Brasil, é um super record.

Repórter – O Sr. vê esse momento com preocupação?

PCO – Muita! Porque as condições políticas, econômicas, sociais do País são aflitivas. Nós somos um País rico governado por um Estado pobre, pela incompetência e por outros fatores ainda de nossos homens públicos. Agora, o resultado é que quando um incompetente dirige os interesses de um competente, o competente vai para a ruína junto com o incompetente. Isso é o que está acontecendo.

Repórter – Muito bem! O Sr. disse que a vitória do Lula preocupa. E a vitória do Collor?

PCO – Menos. Porque também é… Mas, note bem que menos não quer dizer necessariamente pouco, heim?

Repórter – Preocupa também, mas em menor…

PCO – É, preocupa também, mas em menor escala.

Repórter – Ainda assim o Sr. preferiu deixar clara essa posição de que as pessoas devem votar no Collor.

PCO – Ah, sim. A TFP recomenda que se vote no Collor, e vai em peso votar no Collor.

Repórter – São, sobretudo, do outro candidato.

PCO – É.

[O  Prof. Plinio pergunta ao fotógrafo, que está tirando inúmeras fotografias:]

Eu fico intrigado com uma coisa: o arquivo da “Folha” vai guardar todas essas fotografias?

Fotógrafo – Guarda, guarda.

PCO – Mas com que utilidade?

Repórter – Ah, História, não é, Dr. Plinio? Mas o Sr. foi para a Constituinte em 19…

PCO – 34.

Repórter – Na época com 24 anos?

PCO – 24.

Repórter – O Sr. hoje tem…

PCO – 80.

Fotógrafo – O Sr. podia dar só mais uma olhadinha para cá…

PCO – Sabe que o fotógrafo me dá uma impressão interessante, porque eu, quando tenho que descrever uma coisa para um trabalho escrito, fico assim com o desejo de pegar todos os aspectos. E ele parece que faz fotograficamente o que o escritor faz com a caneta! Pega, vira de todo lado, até formar a idéia que ele reputa global. Eu percebo que ele está fazendo isso, uma espécie de reportagem fotográfica. É bem isso, não?

Fotógrafo – É justamente isso. O Sr. acertou na mosca!

(Assessor do Serviço de Imprensa da TFP – Pelo visto o manifesto de hoje repercutiu muito lá dentro da Folha também)

Repórter – Ahhhh! Não, em todo lugar, não é?

PCO – Qual é o comentário lá dentro, heim? O pessoal lá não é precisamente de direita, não é? [Risos.]

Repórter – Do ponto de vista jornalístico nós dissemos: “Precisamos procurar o Prof. Plinio para ouvirmos…” Tem gente ouvindo o Collor, tem gente ouvindo o Lula. Vamos ver se no horário eleitoral de hoje comentam alguma coisa, se repercute o manifesto.

PCO – Agora, o que eu acho é que o Frias tem muito mérito na atitude dele face à TFP. Porque O Sr. toma outros jornais – o “Estado”, por exemplo – é contrário à direita. Então não publica sobre a TFP nada. O Frias não é um homem direitista, e publica sobre a TFP, abre as colunas, etc., como faz com a esquerda. Penso que, abstração feita de pessoas, o coração dele bate mais para a esquerda do que para a direita, sem dúvida nenhuma. Mas ele tem uma abertura para a direita, uma abertura elegante, cordial, de cavalheiro. No Estado, até o momento, não tenho visto isto. É uma atitude muito feia.

Repórter – Agora, o Sr. considera o Collor um homem de direita?

PCO – Nããão, não! Eu sou de direita; ele não. [Risos.] Ele é do centro… Não, como é que eu falo que o Collor é um homem de direita? Ele é o centro. Um desses jornais que me entrevistaram hoje, eu disse: “O centro é uma posição macia e moderada. Mas com resvaladas às vezes enfáticas para a esquerda”. E não completei meu pensamento, porque não tinha tempo. Aliás, o Sr. está tomando nota, eu digo: e que jeitosamente, ao longo dos tempos, leva as pessoas para a esquerda também. E na melhor das hipóteses o Collor é isso. Mas é melhor um homem que vai maciamente e lentamente para onde eu não quero, é menos mal do que um que vai no watershot!

Repórter – É melhor um homem que vai maciamente…

PCO – Para onde eu não quero, do que um que vai no watershot e eu vou amarrado nele.

Repórter – Que vai no?

PCO – Watershot.

Repórter – Posso traduzir como tobogã?

PCO – Pode, pode. E eu e o Brasil vamos amarrado nele. Não tenho vontade.

Repórter – Bom, eu vou parar por aqui… [risos.] É claro, porque eu vou ter muitas coisas interessantes para escrever, e não vão me dar espaço. Eu vou ficar frustrado, e o Sr. amanhã quando abrir o jornal…

PCO – Ah, ah, ah! Pois não! Então, prazer em conhecê-lo.

Repórter – Muito obrigado. Nós precisamos sair correndo…

 

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