Folha de S. Paulo entrevista o Prof. Plinio focalizando especialmente a questão da Mensagem de Fátima e o criminoso atentado contra João Paulo II, perpetrado a 13 de maio

Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Entrevista para a “Folha de S. Paulo”

 

 

 

 

 

 

 

Rua Alagoas, 350, 1° andar, 18 de maio de 1981

 

 
A “Folha de S. Paulo” publicou a 9 de maio de 1981 um artigo de Plinio Corrêa de Oliveira intitulado “Sê coerente”, em que tratou das profecias de Nossa Senhora em Fátima. No dia 13 do mesmo mês ocorreu o sacrílego atentado ao Papa João Paulo II. No dia 18, a “Folha” fez a presente entrevista àquele líder católico a respeito de tal assunto.

 

 

“Folha de S. Paulo” – … O Sr. fez, como se fosse uma premonição, uma previsão de desgraças que poderiam acontecer no mundo. Então o Sr. fazia uma relação entre a aurora boreal que foi vista em Portugal, antes da 2ª Guerra Mundial, e que teria sido vista novamente agora nos Estados Unidos. Então eu gostaria se o Sr. pudesse aprofundar um pouco esse tema…

Plinio Corrêa de Oliveira – (dirigindo-se ao fotógrafo da FSP) Esse grau de luz está bom para o Sr.? Ou quer que eu levante um pouco a veneziana?

Fotógrafo da FSP – Não.

PCO – Está bom?

Fotógrafo da FSP – Sim.

FSP – E queria que o Sr. explicasse assim para um leitor comum o que exatamente essa teoria que o Sr. trouxe nesse artigo do dia 9 de Maio. E se isso teria alguma relação, como algumas pessoas interpretaram no jornal [na “Folha de S. Paulo”], com o atentado sofrido pelo Papa na semana passada. Porque foi exatamente no dia de Nossa Senhora de Fátima [13 de maio], a que o Sr. se referia também naquele artigo.

PCO – Exatamente, foi no dia de Nossa Senhora de Fátima.

A relação, a teoria, por assim dizer, é a seguinte: Nossa Senhora de Fátima apareceu em 1917, aos três pastorezinhos, na Cova da Iria… Estou falando de pressa ou vai indo bem?

FSP – Se o Sr. pudesse dar um pouquinho mais devagar, porque eu vou anotando tudo.

PCO – Aos três pastorzinhos na Cova de Iria – é um local, uma localidade que hoje se chama Fátima – e Ela lhes disse o seguinte: que o mundo  estava num estado de pecado generalizado muito grave.  Primeiro ponto.

2º ponto: o pecado é uma ofensa a Deus e atrai a cólera dEle.

3º ponto: Ela, como Mãe de Deus, Mãe dos homens, se empenhava em evitar isso.

Então, “a” – eu estou esquematizando, acho que fica mais cômodo para o Sr. – a) rezava pelos homens. Os Srs. não querem fumar? Não me incomoda nada.

FSP – Obrigado,  acabei de fumar.

PCO – Rezava pelos homens, aparecia aos postorezinhos pedindo que o mundo se emendasse. Quer dizer, cessasse de pecar e fizesse penitência. Os pecados  eram a impiedade, ou seja, a falta de fé. [dirigindo-se ao outro enviado da FSP]O Sr. não que fumar? esteja à vontade. (Muito obrigado). A  impiedade e a impureza.

Depois, eu perdi as letras, talvez seja C ou D…. (letra C).

C) Ela pedia além disso que o Papa consagrasse a Rússia ao Imaculado Coração dela.

Depois, vem agora o ponto ultra controvertido: Brito, o segredo foi  depois não é?

(Dr. PB – Sim).

É. No momento foi isso.

(Dr. PB – O segredo foi enunciado na aparição de julho).

Depois Ela revelou um segredo que aquela – dos três pastores, uma sobreviveu, que é a Lúcia – devia comunicar ao Papa e que ninguém conhece. É famoso [o assunto]. O Sr. talvez tenha ouvido falar do famoso “segredo de Fátima”. À toda hora eu trato, é muito discutido, ninguém sabe qual é o segredo.

FSP – Eram 3 segredos e um deles mantido em sigilo até hoje.

(Dr. PB – Duas partes dizem que foram relevados).

Quais eram essas duas partes?… Você querendo uma informação completa eu trouxe para os Srs. estes livrinhos que estão aí, do Dr. Antonio Augusto Borelli Machado – é um dos dirigentes da TFP. E aí o Sr. tem informação tudo quanto há de melhor sobre Fátima, mais documentada, mais probo. Naturalmente eu compreendo que uma pessoa não acredite, mas a acreditar é o que há de mais honesto. Ela é largamente difundida às dezenas de milhares pela TFP, pelo Brasil inteiro. Os Srs. podem levar, aí tem tudo.

FSP – Aqui conta então a história dos 3 segredos, dos dois que foram revelados?

PCO – Tudo, tudo.

FSP – Quais eram? Eu não conheço os que foram revelados.

(Dr. PB – É que a Rússia espalharia os seus erros pelo mundo. E esse, em 13 de Julho, não tinha ainda o comunismo tomado conta da Rússia).

PCO – O Czar caiu depois.

(Dr. PB – E, se a humanidade não se convertesse então viriam muitos castigos e algumas nações desapareceriam).

PCO – Uma parte depois ficou secreta.

FSP – Ah, em conseqüência… e uma 3 ª então que só os próprios Papas tinha conhecimento?

PCO – Exatamente não foi revelado. Aí os Srs. encontram tudo.

A conclusão de tudo isso é a seguinte:  (foi meu comentário [no artigo do dia 9]) a impiedade e a corrupção de costumes subiram enormemente. De fato a Rússia espalhou seus erros por toda parte.

Portanto, as condições essenciais pedidas por Nossa Senhora não foram atendidas. E’ de se temer o castigo. Isso é a teoria.

Agora, para abreviar, para não tomar demais o espaço da FSP, eu não desenvolvi inteiramente [no referido artigo], pus dentro a resposta  a uma objeção: então a 2 Guerra Mundial não foi esse castigo? Já não estamos castigados?

Precisamente a 2ª Guerra Mundial foi precedida por uma aurora boreal insólita. Esses fenômenos luminosos nos Estados Unidos – aurora boreal ou não, quer dizer, a natureza científica do fenômeno pouco importa,  tem sido muito discutido lá [nos EUA], se é aurora boreal, se é não sei mais o que, vem uma porção de teorias científicas – seria uma espécie de bis e idem, porque anunciaria uma 2ª Guerra Mundial quando já houve o castigo da Primeira.

FSP – Uma espécie de repetição, de video-tape do que já aconteceu na II Guerra.

PCO – E’. Bem, eu não exprimi assim por não ter espaço, mas está dentro do artigo.

A resposta é: por declarações que a irmã Lúcia – eu não pus isso no artigo também – declarações que a irmã Lúcia fez posteriormente à aparição, o castigo teria começado com a 2ª Guerra Mundial. Mas na concepção dela a Guerra Mundial começou com o Anschluss, com a anexação da Áustria pela Alemanha. O que é uma coisa que se pode sustentar, foi o primeira extravasão  do III Reich.

E esta Guerra atual seria uma continuação da  2ª Guerra Mundial.

Aí, naturalmente, a gente tem que familiarizar um pouco a vista. O Sr. considera, por exemplo, a guerra dos cem anos, a famosa guerra dos Cem Anos na Idade Média, teve interstícios grandes, não são cem anos consecutivos de guerra. Nesta perspetiva se compreende que esta Guerra Segunda seja vista como uma continuação…

FSP – Como o Sr. veria a correlação de forças dessa continuidade da 2ª guerra Mundial?

PCO – Como é que começaria a 3ª Guerra Mundial?

FSP – Exato.

PCO – Ela não prevê. Nem eu trato disso no artigo. Realmente não sei como é.

FSP – O atentado sofrido pelo presidente Reagan nos Estados Unidos e pelo Papa na semana passada, isso teria alguma relação com a continuidade dessa história?

PCO – Eu não tive isso em vista quando escrevi, porque eu ignorava, não me passou pela cabeça o atentado ao João Paulo II.

(Dr. PB – O artigo foi dias antes).

PCO – Eu entreguei na FSP um bom número de dias antes, o artigo ficou uma semana na FSP sem ser publicado, depois… É até uma coisa engraçada. Mandei até retirar o artigo porque eu fiquei com medo que ele fosse tido como alusão, se fizessem alusões à situação interna do Brasil. Eu não quero me meter em política brasileira. E aí o Frias Filho disse que ia sair no dia seguinte. “Ah bom, se é para sair no dia seguinte, publique”. Ele publicou.

FSP – O Sr. diz a situação política interna teria alguma relação, a questão das bombas…

PCO – É, exatamente, falava de calamidades, etc., etc. De repente interpretam como… E eu não quero me meter na política interna brasileira. Então mandei tirar o artigo, mas como o Frias disse que estava já composto, etc., [disse-lhe] Está bom, então publique.

FSP – É que é tão grande o número de colaboradores da FSP que é uma verdadeira fila, 2 ou 3 artigos por dia.

PCO – Pois è. Compreendo bem.

FSP – A FSP tem mais de 60 colaboradores.

PCO – Eu não vou tomar café, Amadeu. Você não toma Brito?

(Dr PB – Já tomei)

PCO – Mas acaba sendo que “a posteriori” pode-se fazer uma pergunta: por que, por exemplo, tomar só o atentado do Reagan e Fátima, a aproximação dos fatos é um pouco forçada. Mas uma vez que houve, depois do atentado contra o Reagan, o atentado contra João Paulo II, cabe perguntar sobre atentado de João Paulo II e, por conexão, sobre o atentado contra Reagan. Cabe perguntar.

FSP – E o Sr. que resposta daria à essa questão?

PCO – A resposta é essa: esses atentados tiveram causas próximas, específicas que nós do público ignoramos. Não foram suficientemente investigadas. Ou ainda não foram publicadas, eu não sei.

Mas o estado geral de desordem, de tensão, de descontentamento do mundo inteiro, de algum modo se reflete nesses atentados. E, esse descontentamento e essa desordem podem ser vistos como efeitos da impiedade e da corrupção moral.

Agora, no que diz respeito a João Paulo II, ao atentado contra João Paulo II, eu noto um nexo especial com Fátima no seguinte… o Sr. me fez uma pergunta genérica, dos dois atentados, não é? Eu respondi genericamente. Trato agora especificamente do Papa, não é?

FSP – Sim.

PCO – É o seguinte: antes do atentado muitas pessoas não o tomavam a sério levados por uma espécie de otimismo geral: “é improvável…” Não tomavam a sério o aviso de Fátima levados por um otimismo geral: “essas coisas não acontecem, desastres assim não há, etc.”

Agora, o atentado traumatizou, a justo título, o mundo inteiro. São incontáveis os que se dizem a si próprios que nunca pensaram que as coisas fossem tão longe.

O atentado lhes fez que nós vivemos em dias excepcionais e que se nós não tivermos ouvidos abertos para a mensagem de Fátima bem pode ser que sejamos surpreendidos pelas punições previstas por Nossa Senhora.

FSP – E é nesse sentido que o atentado ao Papa poderia significar um aviso de alguma coisa ainda mais grave que estaria para acontecer no mundo que seria a continuidade da 2ª Guerra Mundial?

PCO – Até lá não vou, até um aviso não. Porque Deus não encarregaria  um bandido de executar um crime para exprimir um aviso dEle. Isso não. Deus permite isto, mas não ordena, não dispõe isso.

O atentado significa um estado de desordem, pode ser visto como expressão de um estado de desordem, o qual estado de desordem, por sua vez… Até, para dizer melhor, pode ser visto como expressão da profundidade de um estado de desordem, a qual, por sua vez, pode originar as guerras e outras catástrofes previstas em Fátima.

FSP – O Sr. tinha falado antes que não gostaria de falar sobre política interna do Brasil. Mas se fizermos uma análise assim mais… digamos, houve três atentados que abalaram o mundo esse ano. No caso brasileiro, além dos dois já citados, o atentado do Rio Centro, não é? Como é que o Sr. situaria o Brasil diante deste contexto mundial? Nós estamos colocados de que maneira diante desse conflito, dessa desordem? o Sr. disse que é geral, é mundial; como o Sr. veria o nosso país, hoje, dentro deste quadro?

PCO – O estado atual do Brasil participa de agitação do mundo.

A atual agitação brasileira participa da agitação mundial. E, como tal, ela está integrada no conjunto de fatores que podem ocasionar uma expansão ainda maior dos erros do comunismo no mundo, bem como tensões e agitações das mais variadas ordens, dentro do panorama descrito por Nossa Senhora em Fátima.

Agora, um dado que o Sr. porá ou não porá na entrevista, conforme interesse, mas que é preciso notar: qual é a autenticidade da mensagem de Nossa Senhora a esses três pastores? Então só porque três criancinhas aparecem contando que uma Senhora lhes disse isso, faz-se esse movimento todo? Qual é a autenticidade? O que prova que essas criaturas não fantasiaram, não sonharam, etc.?

As aparições de Fátima, o livro do meu amigo Antonio Augusto Borelli Machado, que eu acabo de dar aos Srs., explica isso perfeitamente bem. As mensagens foram sempre dadas às três criancinhas e estiveram presentes multidões. E durante as mensagens deram-se fenômenos meteorológicos dos mais importantes. O livro do Borelli descreve isso “per longum et latum”, com documentação do tempo, muito bem apanhado, etc., o movimento do sol no céu, modificações de cores, movimentos do sol como que caindo em relação à terra. Tem fotografia no livro. E vistas não só no lugarejo Fátima, mas em várias cidades dos arredores. Portanto é um fato. Agora, também marcante é que as crianças não podiam ter idéia de que o comunismo ia subir na Rússia.

(Dr. PB- Elas não sabiam o que era Rússia).

PCO – E não sabiam o que era Papa. Tão  criancinhas que perguntaram quem era o Papa para o vigário.

O Sr. me faria gosto se citasse o livro do Borelli, na entrevista.

FSP – Perfeito.

PCO – É um amigo muito benemérito e eu gostaria que o livro dele tivesse esse realce.

FSP – No caso do Brasil, o Sr. poderia citar casos concretos, o que está acontecendo no Brasil que prova o acerto das revelações de Fátima? Os castigos que poderiam acontecer no mundo e particularmente no Brasil, neste século. Porque há uma continuidade em tudo isso, como o Sr. diz desde o início, os fatos não surgem assim de uma hora para a outra, é todo um processo. Que exemplos teriam hoje no Brasil dessa degradação de costumes, de impiedade, como é que o Sr. vê assim, citando fatos concretos, no Brasil de hoje?

PCO – Eu não poderia dizer, realmente, porque para entrar nos fatos da vida pública, da vida política, eu não quereria. A TFP é uma organização extra- partidária. E ela só intervém na vida pública no que toca à defesa dos princípios fundamentais da civilização cristã.

Nós tomamos como critério de julgamento os 10 Mandamentos da lei de Deus. Se nós confrontarmos os costumes em vigor em 1917 no Brasil com os que estão em vigor hoje, veremos que… Vamos dizer se os de 1917 os transgrediam com uma amplitude ou gravidade igual a “x”, hoje é igual a “x” multiplicado por “x”. De um lado.

De outro lado, o divórcio, a implantação do divórcio no Brasil marca bem o distanciamento dos costumes sociais em relação aos Mandamentos.

A extensão da limitação da natalidade; noutro campo, sócio- econômico, a socialização não só de metade do parque industrial brasileiro mas socialização progressiva por impostos gigantescos; a concentração de populações, parte das quais gravemente carentes, em centros urbanos hipertrofiados quando o nosso país tem abundância de terras devolutas que deveriam ser povoadas; os recursos quase inesgotáveis do mar, insuficientemente aproveitados para manter a população etc.

Nós temos um quadro que causa preocupações profundas, porque se o quadro é morboso por vários lados, doentil por vários lados, esse gênero de doenças o comunismo as infecciona, agrava-as e nutre-se delas. Nós somos aproximados da frase de Fátima: “o comunismo espalhará seus erros”.

E aqui está o nexo entre uma coisa e outra.

FSP – No caso da Itália, um outro fator também. O Sr. falou em controle de natalidade: lá  a questão do aborto, parece que foi votado ontem.

PCO – É Lastimável. Tanto mais que a Itália é um país, por si, de emigração. Se no período que antecedeu a emigração os italianos tivessem praticado o aborto, que enormes riquezas decorrentes do fluxo imigratório teriam sido tiradas ao Brasil, Argentina, sobretudo, um pouquinho no Uruguai… Quer dizer, não tem espaço, aborta?! Não! Não tem espaço, emigra!

FSP – Dr. Plinio, uma coisa que não entendo é o seguinte: que o caso do aborto na Itália podia ser um dos motivos do castigo, previsto por Fátima; mas o caso que não consigo entender é como é que o próprio Papa seria castigado por isso, no caso do atentado. Essa ligação é que não consigo entender. Porque o Papa todos os domingos fazia uma campanha contra a legalização do aborto na Itália. Exatamente no momento em que seria votado o aborto ele é vítima de atentado. Quer dizer, o castigo atinge o próprio Papa. Essa questão é que não  consigo entender.

PCO – Mas é que o Sr. está se colocando num ponto de vista, está aceitando como liquida uma coisa que eu não aceitei, na pergunta que eu lhe fiz: é que esse castigo tenha sido ordenado por Deus. Eu disse o contrário: esse castigo resulta de circunstâncias gerais que Nossa Senhora em Fátima denunciou como más. Dessa corrupção sai como uma bolha de dentro de um pântano, entre outras coisas, o crime contra o Papa.

FSP – No caso o Papa seria apenas instrumento de uma coisa que atingiu a humanidade.

PCO – É, ele é uma das vítimas.

FSP – Contra a humanidade, atingindo o Papa toda a humanidade era atingida, nesse sentido.

PCO – Mas ainda: assim como a humanidade é atingida em mil pontos, o Papa, que é  um membro muitíssimo insigne da humanidade, também foi atingido. Quer dizer, não foi Deus que mandou o criminoso castigar o Papa, não se trata disso. E’ como uma epidemia. Uma epidemia é um castigo. Morre durante a epidemia o Papa – vamos imaginar. Não quer dizer que a epidemia foi desfechada contra o Papa. Aqui também. Uma onde crimes. Um crime desses pega o Papa. Isso não quer dizer que a morte do Papa tenha sido ordenada diretamente em castigo. Quer dizer que um fato, que é de si  fruto de uma desordem e a desordem é um castigo do mal, é um fruto e um castigo do mal, então atingiu vários homens, entre outros um homem insigne, eminente como o Papa.

FSP – E que está dentro de um contexto universal e do terrorismo.

PCO – O terrorismo.

FSP – Tudo é terrorismo.

PCO – Tudo é terrorismo.

FSP – A violência que existe no mundo hoje, qual é a análise que a TFP, que o Sr. faz dessa questão de terrorismo, partindo desse exemplo do Brasil, [com] mais de cem atentados terroristas que aconteceram nos últimos 2 anos? O que se pode fazer contra isso e qual é a posição de vocês diante desse fato? E que é universal, mas que atinge muito a nossa terra.

PCO – Quer dizer, a nossa posição não responde à seguinte pergunta: quais são os autores desse terrorismo? é um ator só? ou são vários autores? E que relações esses autores tem uns os outros? Não atinge essa resposta porque nós não temos senão as notícias de jornais, os jornais não dão base porque não há! As polícias ou não tem ou não revelam o que se passa.

Então, qual é nosso ponto de vista?

É outro. A TFP uruguaia escreveu um livro como se chamava o livro mesmo, Brito? Eu posso mandar ao Sr., eu não me lembro o título do livro aqui [“Izquierdismo en la Iglesia: “compañero de ruta” del comunismo en la larga aventura de los fracasos y de las metamorfosis”, 1976]. Mas ela escreveu um livro muito bem pensado cuja tese é: o terrorismo Tupamaro foi um artifício de guerra psicológica revolucionária – para usar a expressão americana – da psywar, para fazer caminhar no público uruguaio a aceitação do comunismo. O fundo de quadro de tese é que as guerrilhas na América do Sul também foram artifícios da psywar, com um fim, em última análise, propagandístico.

Se o Sr. quiser, portanto, uma “show-war” como artifício da psywar.

Agora se se admite isso, nasce a pergunta: o terrorismo não será também artifício da “show-war”? Mas não passa de uma pergunta, nós não temos dados para afirmar.

FSP – Parece que depois dos Tupamaros no Uruguai, Montoneros  na Argentina, guerrilheiros no Brasil, esses movimentos de luta armada de esquerda parece que foram contidos pelos regimes militares na América Latina. E o que se nota hoje, no caso específico do Brasil, pelos menos todas as evidências são essas,  é que já não se trata de grupos armados de esquerda mas seriam grupos de direita insatisfeitos com a abertura política no Brasil. E que toda a grande imprensa…evidentemente não há provas como o Sr. mesmo disse, ninguém foi preso ainda, não foi  esclarecido nenhum atentado. Mas as evidências são essas na medida em que os alvos, geralmente, tem sido alvos da oposição política ou membros do clero progressista, entidades de esquerda que são atingidas pelo terrorismo. Enquanto que antes, no início dos anos 70, na década de 70, os alvos eram o Exército, entidades mais conservadoras. Me parece que houve uma inversão nisso, no Brasil. O Sr. encontra com isso? O Sr. pensa que esse é um raciocínio correto?

PCO – Eu não acho que haja elementos para fazer uma…

FSP – Os terroristas de hoje seriam fundamentalmente diferentes e os objetivos, dos  da década passada.

PCO – Visando até finalidades diversas.

FSP – Exatamente.

PCO – Na minha opinião pessoal nada disso foi demonstrado. E eu sou muito céptico a esse respeito  porque vejo de permeio a suspeita inteiramente infundada e tola, veiculada de cá e de lá, de que a TFP teria ligação com isto. Agora eu vejo que isso é totalmente falsa essa acusação de que a TFP tem adestramentos para violência e tem  armamentos, que seria portanto propensa, pelo menos, ao terrorismo. Não tem nem sequer semelhança de fundamento. Tanto é que um ou outro indício que se tem  pretendido alegar nesse sentido é fraudulento. Há anos que de vez em quando sai essa cantilena. Eu me lembro que uma vez se publicou – para dar assim uma aparência de verdade – a fotografia da uma de nossas sedes, com um longo muro, no alto do qual tem uma caixa d’água. E a idéia era para dar a impressão que por detrás dessa caixa d’água – não estava dito – mas (insinuado) era uma torre de comando, de observação. E o muro, um longo muro sem portão, portanto misterioso…

FSP – Esse tipo de coisas já é antigo; recentemente não tem havido nada a esse respeito.

PCO – Não, não, acusações sim. Ainda outro dia houve um caso; de vez enquanto quando metem pelo meio entre as organizações que estariam promovendo esse terrorismo, estaria a TFP. Terrorismo dito de direita.

Então, esse terreno, com esse tal muro, “in concreto”, é um terreno que tem duas de suas faces tomadas por  uma tela de arame, não tem muro nem nada, é todo visível. O repórter fotografou o muro do outro lado e esqueceu de dizer que o terreno é todo visível. Está vendo que é artifício banal…

FSP – Por que a TFP fundamentalmente condena qualquer tipo de violência, de terrorismo, venha de onde vier.

PCO – Qualquer tipo, não pratica.

FSP – E condena os que praticam.

PCO – Condena.

FSP – Para finalizar, Dr. Plinio, diante deste quadro todo conturbado que existe hoje no Brasil e no mundo, qual é a posição de vocês? Qual é a solução, qual o trabalho que vocês fazem para mudar isso? Qual é a  saída diante deste quadro?

PCO – Nossa atuação não visa fazer tudo para mudar tudo. Ninguém é capaz disso.

(Dr. PB – Traz o livro da TFP Uruguaia).

FSP – O Sr. estava dizendo: nossa atuação visa fazer tudo para mudar tudo.

PCO – Não é esse nosso empenho. Então vem sugestões para nós: por que não cuidamos do problema do menor? Por que não cuidamos de  sei lá do que… da ação social, etc. Simplesmente porque outros fazem,  outros devem fazer. Nós não podemos nos incumbir disso tudo.

Nós somos uma componente de um esforço geral, não podemos absorver esse esforço geral, não podemos arcar com ele.

Agora qual é o nosso ponto?

Nós partimos da convicção de que a difusão de erros  contrários a doutrina social ensinada pela Igreja prejudica a fundo qualquer solução que se queira dar a qualquer problema sócio-econômico.

Reciprocamente, a difusão da doutrina positiva, com seus acertos, favorece a fundo. Nós temos agido no sentido de combater, no plano ideológico, esses erros, e difundir as suas verdades. É, portanto, uma organização essencialmente doutrinária.

Agora, ela tem um aspecto caritativo em caravanas que nós temos por todo o País, caravanas de jovens. Eles costumam visitar hospitais, orfanatos, favelas, levando auxílios ora materiais, ora sobretudo de caráter espiritual: rosários, medalhas e outras coisas assim… conselho, uma boa palavra, uma conversa com um doente, etc.

Meu caro, o Sr. está indo muito além de Fátima, hein?

FSP – É …

PCO – A folha vai publicar tudo isso?

FSP – Um assunto puxa o outro…

PCO – A FSP vai publicar tudo isso?

FSP – É o seguinte Doutor Plínio: eu escrevo a entrevista toda, depois aí depende do espaço do jornal. Às vezes a gente escreve 10 laudas e sáem 5 ou 4…

PCO – O Sr. não tem receio que o Sr. esteja tomando muita nota…

FSP – Não…

PCO – E que depois estejamos perdendo nosso tempo, não?

FSP – Não, não. Eu acho que repórter tem que perguntar tudo, um assunto vai puxando o outro, a gente tem que escrever e tentar publicar tudo.

PCO – Sobre a TFP eu dei ao meu amigo Casoy, ao Frias, ao filho do Frias, etc., um livro que publica a história da TFP. Foi publicado a coisa  de um ano atrás, mais ou menos, e contém tudo isso. Possivelmente esteja lá pela  biblioteca da FSP. Mas, em todo caso, eu estou respondendo de muito bom grado às suas perguntas, estão sendo feitas de modo muito simpático, mas eu me reservo, se a coisa não sair inteiramente na linha que a FSP publique uma retificação amistosa…

FSP – Claro!

PCO – Porque essas matérias são muito delicadas.

FSP – Porque ninguém é infalível. Quer dizer às vezes o repórter entende mal uma frase e sai…

PCO – Não em matérias muito delicadas, por exemplo a questão de que o crime contra João Paulo II não foi mandado por Deus, ele foi alvo de uma situação que atinge muitas pessoas, como uma epidemia poderia atingir, é um pensamento que é necessário estar bem preciso para não entrar em contradição com a própria doutrina católica.

FSP – O que eu posso sugerir ao jornal é que antes de publicar a  matéria que submetam ao Sr. para ver se está correta.

PCO – É um bom procedimento entre amigos.

Mas o Sr. querendo me perguntar mais algo esto a sua disposição.

FSP – Não, eu acho que todas as perguntas que eu gostaria de fazer eu fiz.

PCO – Está muito bom.

FSP – Dr. Plinio, muito obrigado.

PCO – Tive gosto em vê-lo.

FSP – Muito obrigado.

PCO – (Ao outro repórter). Muito gosto, passe bem.

(Até logo).

 

 

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