Plinio Corrêa de Oliveira
Entrevista da Associação Cultural Videobrasil
29 de agosto de 1992
|
|
1. O que existe de melhor e de pior na TV brasileira hoje?
Plinio Corrêa de Oliveira (PCO) – O que há de bom: não serem estatizadas. O que há de ruim: muitíssimos de seus programas se têm voltado contra um legado de instituições, de doutrinas, de costumes, de modos de ver, sentir e pensar cristãos que recebemos de nossos maiores e que ainda não foi possível à impiedade reinante abolir completamente. 2. De que maneira os níveis de audiência, como são aferidos hoje, interferem na programação? PCO – Tem-se a impressão de que os níveis de audiência de fato influenciam as programações. Resta saber se os números apresentados correspondem à realidade, o que é discutível. 3. O que o senhor pensa sobre a maneira como são concedidos os canais de TV no Brasil? PCO – O tema é amplo e complexo. Certamente os critérios políticos pesam muito nesta matéria. 4. Que tipo de responsabilidade a concessão de um bem público como esse acarreta? PCO – A TV adquiriu uma influência notável, como poucas pessoas ou instituições exerceram no passado. Ora, ela deve utilizar essa influência para a consecução da cultura e da civilização por parte do público a que se dirige. Ela estará assim exercendo sua função social. 5. Por que não existe maior participação de produtores independentes de cinema e vídeo na TV brasileira? PCO – A mídia em geral tornou-se um IV Poder dentro do Estado. O jornalista “se considera dono da verdade e tem dificuldade em admitir que pode errar com frequência”, afirmou Juan Cruz, redator-chefe de um dos mais importantes diários europeus, o “El País” de Madri, no seminário jornalístico comemorativo dos 70 anos da “Folha” (“Folha de S. Paulo”, 19-10-91). E ao analisar mais especificamente o jornalismo em seu país – com evidentes aplicações também às demais nações -, aquele jornalista afirmou: “A imprensa espanhola pós-franquista tornou-se refratária à crítica (…), os jornalistas passaram a acreditar que eles próprios é que exerciam o poder político”. É claro que quem se considera “dono da verdade” tem de ser “refratário à crítica”. Guy Sorman, um arguto jornalista francês, é incisivo. O título de sua matéria diz tudo: “A mídia: máquina de bestializar“. Assim define ele, com fina ironia, os componentes da “classe mediática”: “Um novo grupo social informal e restrito, cuja característica é ‘pensar bem’“. Creio que daí advém a razão do fechamento da TV à participação de produtores independentes. 6. Como se pode respeitar e valorizar as diferenças regionais na televisão? PCO – Seria preciso atender à sensibilidade, às diferenças psicológicas, políticas, culturais etc., de cada região. As grandes cadeias de TV concorrem para o desrespeito e a massificação do sadio regionalismo no interior de cada país. 7. Como a TV brasileira pode ajudar a melhorar o nível cultural de nossa população? PCO – Com programações informativas e formativas de alto nível cultural, e não como escola de vulgaridade, imoralidade e violência em que está se transformando. 8. Em que a programação infantil veiculada hoje colabora no processo de educação das crianças? PCO – Segundo demonstram estudos especializados feitos na Europa e nos EUA, a TV exacerba demasiadamente a imaginação, em detrimento do raciocínio. Causa pasmo, mas os programas ditos infantis da TV brasileira chegam mesmo a apresentar cenas cuja exibição só era tida como concebível após as 22 horas. Quanto à educação, cumpre salientar que não se pode reconhecer como verdadeira aquela que habitua crianças a verem programações sem nenhuma espécie de controle moral. Ou seja, sem fazê-las distinguir o que é lícito do que não é lícito. Uma “educação” que é… “deseducação”. 9. Que programa ou emissora estão voltadas à experimentação e busca de novos caminhos para a televisão? PCO – Não vejo muita originalidade e criatividade em nossas emissoras e programações de TV. Creio mesmo que este fenômeno seja mundial. A TV, após quatro décadas de sua aparição, já começa a dar mostras de esclerosamento e atravessa uma crise de identidade. 10. O que falta na TV brasileira? PCO – Em duas palavras: moralidade e cultura. |