Fracasso mundial do 1º de maio: sintoma do declínio do socialismo

“Catolicismo”, n° 535, julho de 1995 (www.catolicismo.com.br)

Fracasso mundial do 1º de maio: sintoma do declínio do socialismo

Em épocas anteriores, as comemorações do Dia do Trabalho – 1º de maio – constituíam manifestação de força das esquerdas, em âmbito mundial. E hoje em dia? As esquálidas manifestações promovidas em maio último por sindicatos e organizações revolucionárias em todo o mundo indicam acentuada decadência do antigo poderio marxista.

Para analisar esse fenômeno e comentar o último Dia do Trabalho em vários países, inclusive no Brasil, Catolicismo entrevistou o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP.

Com acuidade e penetração que lhe são características, o insigne pensador católico apresentou uma visão bastante elucidativa da questão.

Nossa reportagem entrevistou-o na Sede do Conselho Nacional da TFP, localizada à Rua Maranhão, nº 341, no bairro paulistano de Higienópolis.

Catolicismo – Qual o histórico e o significado do Dia do Trabalho?

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: O Dia do Trabalho é uma festa que tem certo caráter socialista. Por trabalho entende-se aqui labor manual. Não, portanto, toda e qualquer forma de trabalho, por oposição a dias de descanso daqueles que labutam.

No século passado, época em que se introduziu a comemoração, esse dia celebrava-se intensamente, com acentuada conotação revolucionária. Aos poucos, porém, a festividade foi perdendo sua importância. E especialmente a partir da Segunda Guerra Mundial, ela entrou em processo nítido de decadência.

As comemorações, que anteriormente eram marcadas pelo espírito da luta de classes, tornaram-se cada vez mais insignificantes e inexpressivas.

Catolicismo – O que o Sr. diz do Dia do Trabalho no Brasil?

Prof. Plinio – Em nossa Pátria, o desalento das esquerdas foi marcante. Lula chegou a afirmar, em Diadema (SP), que o trabalhador brasileiro não tinha o que comemorar no Dia do Trabalho, e só tinha o que chorar. Além disso, o comparecimento de apenas 20.000 pessoas na comemoração representou outro insucesso, tendo-se em vista a elevada população de um importante município da Grande São Paulo, como é Diadema.

As comemorações de qualquer movimento ou entidade, por ocasião de sua festividade principal, focalizam em primeiro lugar as vitórias alcançadas; alguma coisa positiva quanto ao objetivo visado pelo movimento. E, em segundo lugar, faz-se a afirmação pública das próximas metas a serem atingidas, e que correspondem a uma intensificação do desejo de conquistar mais, a manifestação de um elã para novas conquistas.

Ora, o que disse Lula? Precisamente o contrário disso. Admitiu que os trabalhadores só têm o que chorar. Portanto, não têm nada a comemorar ou a esperar.

Poder-se-ia interpelá-lo: mas então você, que durante tantos anos esteve à testa do movimento operário de esquerda no Brasil, com o apoio compacto e ininterrupto da mídia, não traz para essa festa senão o pranto? É o choro que assinala sua direção nesse movimento?

A verdade é que Lula não tem realmente o que comemorar, porque o pouco que conseguiu, não veio do meio operário, mas de capitalistas de esquerda e progressistas da Igreja Católica. Tais setores têm concedido toda espécie de auxílios para entidades e movimentos de esquerda, como o PT, a CUT etc. Assim, o pequeno resultado que as forças esquerdistas obtiveram no Brasil não representa propriamente uma conquista dos operários, mas se deve a uma liberalidade suicida de classes e instituições que os esquerdistas proclamam combater. Lula tem consciência disso. Por essa razão, ele não ousa apresentar algo que o operariado conseguiu como fruto do próprio movimento esquerdista.

Catolicismo – O Sr. teria mais algum comentário a fazer a respeito do discurso de Lula?

Prof. Plinio – Chama a atenção sua brevidade: apenas cinco minutos! Lula ainda afirmou que, apesar de o PT ter perdido as eleições, vai continuar lutando para que a “população tenha maior consciência política para eleger um governo efetivamente trabalhador”.

Por que a população não possui suficiente consciência política para vencer as eleições? De duas, uma: ou porque Lula e os esquerdistas não têm sabido comunicar suas idéias ao povo, ou porque a população, que é sensata, julga demagógico o discurso deles. Ele não esclareceu se foi por uma ou outra dessas razões, mas o que Lula reconheceu é que o eleitorado não se deixou mover pela argumentação esquerdista.

Catolicismo – Noticia um diário carioca que a festa contou com a presença de nove artistas, tendo sido o ponto alto da comemoração a presença de Lula no palco, ao lado de um deles, ensaiando uns passos de dança. O que dizer disso?

Prof. Plinio – Já o fato da presença de nove artistas revela que os organizadores da comemoração não confiavam no entusiasmo ideológico do público, e menos ainda na capacidade de Lula sozinho galvanizar os presentes com seu discurso. Convém relembrar que este não ultrapassou cinco minutos…

Assim, é inteiramente compreensível que a maior atração do ato tenha sido a presença dos nove artistas e o show. E que Lula, fracassando em seu fugaz discurso, tentasse esquentar um pouco a assembléia dando uns passos de dança, junto a um dos artistas. É um final de festa constrangedor…

Catolicismo – Em Florianópolis, o Dia do Trabalho foi comemorado com um show, aberto pelo pianista clássico Arthur Moreira Lima. Pode-se considerar esse fato como mais um indício de fracasso?

Prof. Plinio – Não há coisa mais anti-socialista e contrária ao movimento esquerdista dos trabalhadores manuais do que a música clássica. Esta, por sua natureza, é uma música seleta, de salão, que revela finura, tendências de alma que os movimentos operários nem suscitam, nem animam, nem sequer parecem entender.

Um concerto de música clássica para comemorar o Dia do Trabalho indica que a luta entre o trabalho material e o trabalho intelectual não entusiasma o operariado brasileiro.

Catolicismo – E é curioso que para comemorar o 1º de maio, em Maceió, tenha sido promovida a Corrida do Trabalhador, com a participação de 200 atletas de quatro estados nordestinos…

Prof. Plinio – Eis aí mais um sintoma palpável do fracasso das comemorações. Para realizá-las, foi preciso convocar atletas de quatro estados. E elas não tiveram caráter trabalhista, mas se reduziram a uma competição atlética. Apenas apelando para o esporte, consegue-se atrair um pouco de público para presenciar uma comemoração que simplesmente usa rótulo de trabalhista. Vibração ideológica esquerdista… absolutamente nenhuma!

Catolicismo – Em Moscou, 4.500 stalinistas solicitaram um processo contra Yeltsin, por traição. E 15.000 outros manifestantes pediram o fim da Guerra dos Banqueiros, e reclamaram contra o alto custo de vida. Como devem ser vistas tais reivindicações?

Prof. Plinio – Na Rússia, até algum tempo atrás, o regime era compacta e maciçamente comunista, apoiado pela mídia soviética, inteiramente controlada pelo Partido Comunista. Qualquer pessoa que dissesse uma palavra esclarecedora sobre os descalabros do regime ou criticasse o comunismo era processada e condenada à prisão no Gulag soviético ou à morte.

Pois bem, nesse país de população colossal, no presente em estado de atonia, após mais de sete décadas de dominação comunista, na vigência do atual regime (cuja natureza ambígua não se sabe ao certo em que consiste, se acentuada ou vagamente comunista), o número de adeptos do marxismo que se manifestaram em 1º de maio passado é insignificante, é ridículo.

Catolicismo – Na Itália, os principais sindicatos reuniram-se na cidade de Brindisi, para debater o tema Trabalho e dignidade e tratar da questão do desemprego. Isso revela fraqueza dos esquerdistas dentro do sindicalismo italiano?

Prof. Plinio – As temáticas escolhidas pelos sindicatos peninsulares não foram as prediletas dos marxistas, ou seja, as relacionadas de um ou de outro modo com a luta de classes. Eis aí mais um sintoma do declínio da influência marxista no movimento sindical e nas comemorações do Dia do Trabalho.

Catolicismo – Em Berlim, houve um choque entre 2.000 extremistas de esquerda e 600 policiais. Resultado do conflito: 72 policiais feridos e 36 pessoas presas. Tal fato não constitui um recrudescimento da efervescência marxista na Alemanha?

Prof. Plinio – Berlim é uma das mais populosas cidades da Europa, com 3.400.000 habitantes. Quantos extremistas de esquerda entraram em choque com a polícia? Apenas 2.000, número absolutamente insignificante em face da população berlinense.

Catolicismo – Na Espanha, os representantes de sindicatos alertaram no Dia do Trabalho os eleitores quanto ao perigo de uma vitória da direita nas eleições municipais (que se realizariam no dia 28 de maio), o que de fato ocorreu. Essa atitude dos líderes sindicais representou um recuo do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), atualmente no poder?

Prof. Plinio – Certamente. É sabido que o PSOE domina inteiramente o movimento sindical espanhol. Assim, o medo manifestado pelos sindicalistas refletia a preocupação do PSOE em relação às eleições municipais, que teriam lugar na Espanha poucos dias após o 1º de Maio. Tal atitude representou um recuo do PSOE, hoje ainda no poder. Com efeito, os líderes sindicais, vinculados ao PSOE, em vez de pregar a luta de classes e seus dogmas igualitários, como faziam em anos anteriores, aproveitaram as comemorações do Dia do Trabalho no sentido de influenciar o eleitorado, tentando diminuir a margem da derrota prevista no futuro pleito. Ao que parece, a tentativa teve pouco efeito, pois o insucesso eleitoral foi estrondoso.

 

 

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