Plinio Corrêa de Oliveira
Quem tiver lido meu último artigo estará ao corrente do êxito que vai sendo alcançado pela TFP argentina, em sua campanha simultânea com a da TFP brasileira contra o IDO-C e os “grupos proféticos”.
Esse êxito, como é natural, chamou a atenção do “The New York Times”, o qual, em sua edição de 12 de julho p.p., publicou sobre o assunto uma correspondência de Buenos Aires, composta de informações verídicas umas, falsas outras.
Em sua maioria, tais informações dizem respeito às TFPs argentina e chilena. Ignoro se estas as vão desmentir. Se o fizerem, darei notícia de tal aos leitores.
O despacho do “The New York Times” traz também algumas referências à TFP brasileira, que desde logo retifico:
- Não é verdade, segundo parece dizer esse jornal, que a única TFP existente seja a do Brasil. E que nos outros países sul-americanos, em que nosso ideal vai surgindo, não haja senão ramificações nossas. As TFPs do Chile e da Argentina são entidades dotadas de plena personalidade jurídica segundo as leis dos respectivos países, e, portanto, possuem perfeita autonomia. A mesma autonomia têm o Núcleo Uruguaio de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad, como as entidades congêneres que vão desabrochando, com viço, em quase todos os outros países sul-americanos. Conforme não poderia deixar de ser, nesta era de cooperação sul-americana sempre mais íntima, a colaboração entre as várias TFPs é cordial e assídua, sem que, entretanto, estejam coligadas em uma federação internacional juridicamente constituída.
- Afasto com um piparote desdenhoso a hipótese abstrusa de que a TFP tenha uma relação “pelo menos indireta”, como diz “The New York Times”, com o assassínio do jovem e malogrado pe. Henrique Pereira Neto. A TFP está acima de tal hipótese. É só o que tenho a dizer.
- Afirma ainda “The New York Times”: “Vários dirigentes da organização, no Chile, foram presos quando tentavam distribuir exemplares de um livro intitulado “Frei, o Kerensky Chileno”. O livro acusa o presidente Eduardo Frei Montalva de estar preparando o caminho para uma eventual tomada do poder pelos comunistas”.
O livro “Frei, o Kerensky Chileno” não é de autoria de um membro da TFP chilena, como parece insinuar o despacho do jornal ianque. Escreveu-o o sr. Fábio Vidigal Xavier da Silveira, advogado e agricultor em Amparo. Sobre o autor, o conteúdo da obra e sua repercussão internacional, publiquei um artigo nesta coluna em 8 de janeiro p.p.
Para “Le Figaro”, o conhecido jornal parisiense (edição de 10 de julho p.p.), o assassinato do infeliz Padre Henrique Pereira Neto se deve provavelmente ao CCC. Este último seria, segundo o referido diário, um prolongamento da “respeitável liga integrista “Defesa da Tradição, da Família… e da Propriedade”.
Não tenho procuração para defender o CCC. Toca-me, entretanto, afirmar que a TFP não tem nenhuma vinculação com esta ou qualquer outra entidade. O que, aliás, todo brasileiro medianamente informado sabe.
Consagrei parte de meu último artigo a apresentar reparos à entrevista que, sobre as atividades da TFP, o Emmo. Cardeal Rossi concedeu a um matutino paulista. Com o respeito devido à púrpura romana, enunciei todas as objeções que me foram sugeridas pelas palavras de S. Emcia. E não ocultei minha surpresa ante a assertiva do meu arcebispo, de que a existência de sacerdotes comunistas no Brasil não passa de hipótese improvável, verificável, quando muito, em um ou outro caso excepcional. Tem-se a impressão de que, para S. Emcia, um Padre comunista é algo de tão monstruoso, que de si é inacreditável.
Ouvido sobre meu pronunciamento pelo mesmo diário, S. Emcia. não se recusou a falar, e também não refutou qualquer de meus argumentos. Limitou-se tão só a repetir, quase literalmente, o que já dissera. A repetição é um dos muitos recursos da retórica. Dizia até Napoleão – muito pouco propenso ao diálogo – que é o melhor deles.
Diante de tal repetição, o que fazer de minha parte? S. Emcia. duvida até mesmo da existência de um ou outro padre comunista? Confesso-me desacoroçoado. Pois então S. Emcia., por análogas razões, não acreditará na infiltração alarmante do ateísmo nas fileiras católicas. Dada a alta categoria hierárquica de S. Emcia., ponho-me a pensar no reflexo deste seu estado de alma nas resoluções da reunião que a CNBB está realizando, e da qual eu gostaria de esperar diretas e eficientes medidas contra este mal.
A coincidência dos acontecimentos é impressionante, senão dramática. Pouco antes de reunido esse egrégio conclave, “Catolicismo” lançou um número duplo – que vai sendo difundido pela TFP em todo o País – no qual desperta a atenção dos brasileiros para a infiltração maciça e organizada do ateísmo na Igreja.
De fora das fileiras da TFP, dois pronunciamentos – dignos de serem atentamente ponderados – apontam o mesmo perigo.
Um foi o artigo “Acordem, senhores bispos” (cf. “O Estado de S. Paulo”, de 19-7-69), no qual Gustavo Corção, em lance impressionante, suplica a nossos prelados que dêem ouvidos ao brado de alarma de “Catolicismo”.
O outro foi a clara referência à infiltração materialista na Igreja, do governador Abreu Sodré (cf. “Folha de S. Paulo”, edição de 19 do corrente).
Por fim, e sobretudo, já que também a mim a repetição é permitida, devo lembrar, sobre a questão específica da infiltração do materialismo comunista em meios católicos, o depoimento de 1.600.368 brasileiros, constante do já histórico abaixo-assinado promovido, em 1968, pela TFP.
Dados todos estes depoimentos, será realmente tão difícil admitir que tal infiltração existe?
À vista disto, me ponho a conjeturar.
A CNBB amparará a nação brasileira contra tão imenso perigo, adotando medidas claras, firmes decisivas, que o eliminem? Ou também ela considerará impossível, a priori, o problema?
São estas as perguntas cuja resposta aguardo em prece.